segunda-feira, 30 de junho de 2008

Porque És.

Porque és Luz
Porque és Razão
Porque és Acontecer
Porque és Cor
Porque és Coração
Porque és Ombro
Porque és Calor
Porque és Prazer
Porque és Magia
Porque és Virtude
Porque és Espelho
Porque és Única
Porque és Vida
Porque és Verdade
Porque és Tu
Porque és Eu
Porque és Nós.

Parabéns e Obrigado

Gosto de conhecer os rostos das pessoas, gosto de associar as palavras à imagem, de sentir o toque, nem que seja ao de leve... E foi isso que aconteceu no passado Sábado à noite, foi isso que brilhou mais alto no meio de inúmeros autores e comentadores de vários espaços da Blogosfera (mais privada, provavelmente) onde circulo. Fiquei com vontade de visitar os que não conhecia, estou com vontade de estreitar "comentários" de "ler" e ser "lido" de uma outra forma, a verdadeira, a real.
Foi bom, muito bom, principalmente num dia que, para mim, teve mais do que 24 horas e onde o ponteiro do relógio teimou sempre em ditar outras horas que não as desejadas. À Olá um Obrigado especial, um reconhecimento sublinhado, um Abraço com Carinho por me ter permitido conhecer Gente e mais Gente que, de outra forma, hipoteticamente, não cativaria o meu interesse em as "visitar", a vontade que, pouco a pouco, terei o prazer de colocar em prática. Foi Bom, será ainda melhor e, estou certo, a partir desse dia, o "OLÁ" (que não o elo) será prática com mais sentido, com mais entusiasmo e, principalmente, menos virtual.
Parabéns por Serem, Obrigado por Estarem.

A Registar...

PARABÉNS!
sábado, 28 de junho de 2008

Até Já!

Lá para as 19H30, cerca de 35 Blogueiros, vão reunir-se no "Assador Típico" da zona Industrial do Porto para, desta vez, darem à língua em vez de darem às teclas... A esmerada organizadora, já garantiu a presença das imprescindíveis azeitonas e da bela da broa. Depois do jantar, o "combíbio linguístico" seguirá para o Vice Versa.
Cheira-me que, esta noite, será um "Post" de inúmeros comentários do mais variado calibre.
Para já, Parabéns à Olá, porque a organização tem sido um "Must".

Sol

Numa Íris de Luz.
sexta-feira, 27 de junho de 2008

É Sexta-Feira!

Aproveita, mas tenta não esturricar, num fim-de-semana que se pretende... Fantástico.

"Sexualidades"... no Porto Canal

Mais logo, às 01H00 da madrugada de sábado, o "Sexualidades, Afectos e Máscaras" vai abordar os "devaneios de verão", numa emissão que, através do Porto Canal (TV Cabo), merecerá especial atenção. Principalmente graças às "quentes" perguntas da Jornalista Maria José Guedes e às "frescas" respostas do Sexólogo Manuel Damas.
A não perder, inclusive a repetição, à mesma hora, na madrugada de 2ª feira.

Boa Praia

...se for o caso.

Prince

Sou uma daqueles seres humanos que, com a desculpa da falta de tempo, não dedicam aos seus animais de estimação a atenção exigida.
Certamente que o meu cão (Prince) - o qua vive na casa da minha mãe, já esgotou a paciência com as "secas" que lhe dou de cada vez que me pede para passea-lo, principalmente tendo em atenção que ele faz questão de, diariamente, me receber com toda a alegria do mundo.
Confesso que me limito a "gritar" o seu nome à entrada e à saída, faço-lhe uma ou outra festa e pergunto à minha mãe se está tudo bem com ele. Claro que, com alguns atrasos, sou eu quem o leva ao veterinário e tenta presenteá-lo com as guloseimas que carrego no meio das outras minhas compras.
No fundo, no fundo, estou a acusar-me de ser um dono desnaturado que, felizmente, tem a sorte de ter outros membros da família que asseguram as correcções necessárias a um comportamento minimamente coerente e dedicado no relacionamento "dono vs amigo fiel".
Ahh, mas adoro o meu Prince, acreditem. Embora tal não mereça "perdão".

O que é o Pecado?

Já aqui referi que não sou muito dado a religiões, respeito-as a quase todas, mas sinto que a minha fé tem uma espécie de carácter privativo, que é minha e que se apresenta numa esfera exclusiva aos que me são mais queridos.
Contudo, também me faço perguntas. E uma das que me ocorreu recentemente prende-se com o acto de pecar.
Afinal o que é o pecado? Afinal quais são as penitencias para quem peca, mesmo sem saber se o está ou não a fazer?
Certamente que sou um pecador, principalmente por não saber de cor as regras que "alguém" estabeleceu sem me consultar, mas, por outro lado, que se lixe o pecado dos outros quando, na minha lista pessoal, os maiores pecados traduzem-se na fome, na violência e na maldade com que tratamos os pobres dos "pecadores" que somos.

Adoro.

Adoro criar a partir do zero, adoro inventar a partir do sonho, adoro ideias que aparentemente não têm futuro... Sou assim, que hei-de fazer?!
Adoro desafios com sentido, adoro conquistar resultados, adoro... poder criar.
E o mais interessante nisto tudo, é que nem me importo se o "zero" começa por ser "ovo" ou "galinha".

- Puxa!

Ando numa tarefa que, confesso, não julguei ser tão difícil nem tão delicada. Estou a tentar "remendar" os pontos soltos e mal dados no "Pseudo" e chego à conclusão que, isto de corrigir e tentar dar lógica a uma longa história inventada ao instante, é muito mais complicado do que fazia crer.
Já demorei mais tempo a "corrigir" 20 páginas do que a escrevê-las de "fio a pavio" ao sabor da imaginação.
Por este andar, mesmo com as tais horas extra roubadas ao sono, o "Pseudo" verá a LUZ do dia daqui a dois ou três meses. Puxa!

Mur(r)os

Será assim tão difícil reconstruir muros que o passado, por razões insignificantes, ousou "rasgar" em "cascalho"? Será assim tão difícil dar-se o "braço a torcer" na procura do bem que tantas relações, agora derrubadas, faziam? Será assim tão difícil encontrar um fio que permita unir os "nós" desavindos?
Pelos vistos é.
É que, do "dá e leva", infelizmente, sobram sempre as cicatrizes que, como fotografias eternas, não se cansam de sobrevalorizar o que, na verdade, se calhar, não passou de algo demasiado insignificante.
Que mania esta de teimarmos em ser mais duros do que as pedras que, degrau a degrau, foram solidificando um muro outrora indestrutível.

?

- O que prende mais o teu olhar?
quinta-feira, 26 de junho de 2008

Então?

Adoro jogos, apesar de, cada vez mais, ter menos tempo para eles. Por isso, aqui fica um jogo que tentará sincronizar os horários e afazeres de alguns dos que por aqui passam.
Se quiseres, limita-me a deixar a hora a que visitas este "cantinho" e revela o que estavas a fazer antes de cá chegar e o que te preparas para fazer depois de ires embora.
É um jogo parvo, eu sei, mas é uma forma de pegar com quem por aqui vai comentando. Deu-me para isto, que hei-de fazer?!

Espernear

Vês a chave?
Ela está ali à tua espera,
entre a noite e a quimera,
na sombra da derrota.
Vês a fuga?
Ela está ali à tua espera,
entre o pontapé e o grito,
na curva do vencer.
Vês a vontade?
quarta-feira, 25 de junho de 2008

Bocas

Costuma-se dizer que "pela boca morre o peixe"... Mas, quando olho para esta boca, fico com a ideia de que, no mínimo, será uma bela de uma "pescada"... É que; não tem muito ar de "marmota" e, além disso, mesmo pela tonalidade da cor, não acredito que seja um dos famosos "douradinhos".
Ainda bem que não vos mostro o resto do "rabo" é que; a esta imaginária sereia, estou certo que muitos dos "machos" não quereriam ver no próprio "prato". (risos)
(estou a brincar, apeteceu-me foi pegar com a imagem)

"Enformadas"

Será que as mulheres não se importam de serem "usadas" sem necessidade de recurso a verbalização na promoção de um ou outro produto? Será que as mulheres não se cansam de ver outras mulheres a dar "o corpo" a "manifestos" que, muitas das vezes, desconhecem completamente?
Falo dos automóveis, das revistas, das provas de velocidade e de tantos outros "coloridos" em que usam a "pele" mais ou menos esticada de algumas mulheres para "cobrir" potenciais defeitos dos produtos em promoção e potenciar uma espécie de "encontro imediato"... Lógico que há exemplos e respostas válidas para tudo, inclusive para a definição de "usadas", quanto mais não seja pelo montante de zeros que o cheque da "argumentação" possa sustentar.
Não é que não me agrade ver o meu olhar travado por uma qualquer fotografia que promova um detergente ou uma água, mas acho que há outras formas de dar forma a, por vezes, tão "desconformes" objectos e situações. Penso eu!

Motor

Como em tudo, uns são mais "crentes" ou informados do que outros, mas é do domínio comum que todos - inclusive os "não crentes e não informados", somos influenciados por energias positivas e negativas. Nós próprios somos fonte de energia e de ambos os pólos.
Partindo do princípio de que acabamos por estar constantemente em contacto directo ou indirecto com outros focos de energia, há que separar o "trigo do joio" e tentar combater o negativo com o positivo.
Não é por acaso que se diz que "negativo atrai negativo e positivo atrai positivo", é que se estivermos em negativo e pensarmos negativo teremos muito mais hipóteses de pender definitivamente para esse lado. Logicamente que o pensamento positivo não é garante de resultados com a mesma "cor", mas pode funcionar como mais valia ou alavanca na balança que dita o resultado final. E como em energias, o que conta verdadeiramente é o "peso" que cada uma delas representa, o melhor mesmo é andar à pesca de recargas positivas, inclusive dentro de nós próprios ou, em última alternativa, arranjar alguém que nos ofereça a carga extra que nos permita voltar a ligar o "motor".

Pestanonas

Nunca entendi muito bem o elevado valor que se dá às pestanas, principalmente ou exclusivamente no feminino. Muitas vezes dou comigo a contabilizar o tempo que se dedica àquele tubo a que chamam rímel e fico com a sensação de que, percentual mente, esta é talvez a parte do corpo que merece mais disponibilidade de quem leva ao pormenor o "enfeite estético". Certamente que tentam realçar o olhar a reboque daquele piropo "- Adoro o teu olhar!" ou, então, será uma espécie de auto-orientação já que, quando se olha para o espelho, é para os olhos e com os olhos que se olha em primeiro lugar.
Será que o tal do rímel sabe disso? Tenho as minhas dúvidas.

?

- Qual foi o gesto mais inocente que tiveste?

Nacional

Segundo os meteorologistas, o verdadeiro verão começa hoje, com um calor a aumentar de dia para dia. Estou a falar daquele calor que chega a incomodar mas que, por outro lado, é reclamado na maior parte do ano. Aparentemente, começará hoje a verdadeira migração diurna até às praias mais próximas, transformando a paz do areal num sem número de gritos e correrias que são uma espécie de atentado à paz que tanto se procura e deseja.
Gosto de praia, gosto de "torrar" ao sol e até de imaginar águas mais quentes ao meu redor. No entanto, confesso, são mais os dias que passo em praias estrangeiras do que aqueles em que arrisco descer ao fundo da rua para levar com os passageiros de metro largados em catadupa com as suas "novelas" regadas a "fuminhos de haxixe" e "palavrões" com mais erros ortográficos do que o acordo luso-brasileiro.
Que o Sol, este ano, ajude a derreter tanta falta de civismo, é que, neste verão, infelizmente, a areia terá que ser mais nacional, pelo menos para os meus lados.
terça-feira, 24 de junho de 2008

Escalar

A vida tanto pode ser uma pirâmide na sua normal posição como, num ápice, transformar-se numa pirâmide em posição invertida.
O difícil é mantê-la nivelada pelos princípios e ensinamentos que a vida nos vai leccionando no "instante a instante". É uma tarefa que carece de completa atenção e de uma disciplina aplicada.
A vida é uma pirâmide de aperfeiçoamento pessoal que, com esforço, nos oferece uma complicada "subida" e nos "tenta" com descidas vertiginosas, de cada vez que tropeçamos num dos seus desnivelados degraus.
segunda-feira, 23 de junho de 2008

Areia

Por vezes dá-me vontade de ir às compras num qualquer mini-mercado, não olhar para o preço nem para o peso e comprar uma imensa quantidade de fichas de tempo, sim de tempo, daquelas horas-extra que tanta falta fazem quando sentimos a areia da ampulheta a diluir-se por entre os dedos.
Estou cheio de andar a "roubar" tempo ao sono e minutos aos hobbies só para cumprir os calendários que me auto-estabeleço. Já não tem piada esta forma de tentar correr mais depressa do que os ponteiros na expectativa de chegar à meta antes do relógio... É que não há maneira de ultrapassar este teimoso fuso horário que se entranha em tudo quanto é projecto, em tudo quanto é vontade, em tudo quanto é falta de tempo.
Já não há camioneta que aguente tanta falta de areia.
domingo, 22 de junho de 2008

- Diverte-te!

Bom S. João.

O Fio

Há sempre enigmas que nos projectam para caminhos que nem sempre são os delineados, há sempre aquele pormenor que nos atiça com mistério e nos faz incorporar o papel de "pirata do tesouro" para tentar revelar o resultado, por mais inglório que possa ser. Mas a vida é feita de enigmas, e ainda bem que os há, é sinal que, quanto mais não seja graças a eles, há um vento que nos faz prosseguir viagem.
Convém nunca esquecer que o maior dos enigmas jamais será revelado, e esse é aquele que nos aprisiona nesta teia de relações e reacções.
A vida é repleta de enigmas, e é em cada um de nós que se encontra o fio que nos conduzirá pelo caminho da procura, uma procura com fim mas sem a revelação final.

Pseudo

Foi a 13 de Maio deste ano que dei início ao meu "Pseudo-Livro", tendo como base uma promessa feita à Deusa em Bangkok, em Dezembro de 2006. Hoje, dia 22 de Junho, cheguei ao fim de uma história inventada e escrita ao sabor da inspiração e sem nunca ter sido minimamente estruturada. Foi um desafio pessoal que sobreviveu graças à publicação quase diária neste Blogue, caso contrário teria ficado pelo caminho.
Confesso que foi mais difícil do que imaginei, principalmente pela necessidade de gerar sempre situações que não permitissem perder o interesse. Mais ainda quando o cansaço e as horas a menos não permitiam o equilíbrio necessário para uma escrita concentrada e minimamente cuidada.
Esqueci os pormenores e avancei assim mesmo, sem preocupações com as criticas, correcções e afins.
O "Pseudo" está cheio de erros gramaticais e de algumas incongruências que, só agora, serão corrigidas de forma a poder ser considerado acabado. Penso que aí sim poderá ser considerado o primeiro ensaio de um livro escrito por quem não lê livros e nunca se meteu por esse caminho.
A promessa foi cumprida e as alterações serão apenas o "limpar" de um esqueleto que foi construído osso a osso ao longo de centenas de horas e muito à custa dos apoios que aqui fui recebendo. Obrigado a todos os que não permitiram que eu desistisse desta brincadeira que, muitas vezes, mais parecia um "full-time job".
Se está bem ou mal pouco interessa, está feito e isso é incontornável. Consegui!
(a quem pretende lê-lo de uma só vez, sugiro que não o imprima já. Avisarei quando ele estiver revisto e tiver os acréscimos e correcções necessárias)

Lágrima do Oriente - XXX - ÚLTIMO

Lágrima do Oriente
"Amor com Amor se Paga"
30º Capítulo
(a história, até aqui, pode ser lida no link à direita)

- Allan acorda! Acorda filho, já é tarde!
- Ahh, ahh, olá mãe, que horas são?
- Já é quase uma da tarde filho, até parece que não dormias há anos. Estás bem? Sentes-te bem?
- Tive um sonho tão bonito com a Lu, foi tão verdadeiro, tão espectacular...
- Ainda bem querido, mas agora tens que te levantar, vamos para Lisboa no voo das 16H00 e ainda tens que passar no hotel para apanhar as tuas coisas.
- Mas, onde é que eu estou? Que quarto é este?
- É o quarto da Lu, não te lembras?! Vá, acorda de vez, ainda temos um longo dia pela frente.
- Ahh, pensei que tinha acordado de um enorme pesadelo. Afinal, só a parte bonita do sonho é que não é verdadeira. Mas, por outro lado e feitas bem as contas, não me faltam motivos para sorrir, dois futuros motivos; os meus filhos... Mãe, desculpa, conheces os U2?
- Quem são esses?
- Um destes dias levo-te a conhece-los ao vivo... Vou tomar um banho e desço já.
- É melhor Allan, é que tens lá em baixo uns senhores que querem falar contigo.
- Quem são?
- Pelos vistos são de uma empresa de advogados.
- Advogados?!
Tomei o banho e vesti uma roupa do meu irmão que a minha mãe me tinha colocado na cama, como que adivinhando que não era boa ideia vestir o facto que usara na cerimónia de ontem, ainda por cima todo sujo e ainda algo molhado.
Quando desci, já todos estavam sentados à mesa da sala para almoçar.
- Perdoem o meu atraso, já não dormia assim tão bem há tanto tempo.
- Tudo bem Allan, foi o sono dos justos. Olha, quero apresentar-te os advogados da nossa família, uma equipa que trata de todos os nossos assuntos há quase 20 anos. - Informou-me a Aaliyah.
Cumprimentei-os e adiamos a conversa para depois do almoço. Um almoço com traços Portugueses já que a minha mãe tinha decidido agradecer a hospitalidade da família da Lu cozinhando uma espécie de "Cozido à Grega", uma versão do "Cozido à Portuguesa com ingredientes diferentes. Foi um almoço descontraído onde aproveitamos para falar dos próximos passos na gravidez da Raja e de uma reaproximação entre duas famílias que só se conheceram há poucos dias.
No jardim aguardavam por mim os dois advogados. Informaram-me que a enorme fortuna da Luna estava à minha disposição. Falaram-me de 30 milhões de euros e de mais uma série de propriedades que o pai lhe deixara, incluindo 50% da "Casa da Luz", a outra parte era da Raja, como ficara escrito em testamento.
Perguntei se a Lu - Luna, primeiro nome completo, não tinha deixado nada para os irmãos e para a mãe. Eles disseram-me que todos estavam muito bem de finanças, pois o império deixado pelo pai da Lu era enorme. Informaram-me também que existia uma conta destinada ao nosso filho, neste caso gémeos, com um montante de 20 milhões de euros, dinheiro que seria gerido pela mãe da Lu, caso eu não me importasse.
Todos aqueles números milionários faziam-me confusão, principalmente porque eu e a Lu tínhamos vivido sempre com o suficiente para ter uma vida calma e éramos felizes assim.
- Que dinheiro é que posso movimentar agora? – Perguntei.
- Pode movimentar o que entender. – Disse o mais velho dos advogados.
- Não tenho que ir ao banco ou fazer qualquer coisa?
- Depende. Se quiser dinheiro vivo teremos que ir ao banco.
- E se eu quiser oferecer todo o dinheiro que está à minha disposição?
- O quê?! Oferecer o dinheiro?
- Sim, se eu quiser oferecer todo o dinheiro?
- Bem, só terá que assinar uma procuração e indicar-nos a quem o quer oferecer… Mas, estamos a falar de muito, muito dinheiro.
- Eu imagino. O problema é que nem sei avaliar a quantidade de que me falam…
- Assim por alto, dá para viver muito bem para o resto da sua vida…
- Então quero viver o resto da minha vida como fiz até agora, com o dinheiro que ganho. Ou melhor; pretendo ficar com o suficiente para deixar de pagar o crédito da lavandaria que comprei com a Lu e o irmão dela e pagar o apartamento onde vivíamos. Não sei bem, mas estou a falar de uns 100 mil euros…
- Só isso?! Olhe que a Luna, ao deixar-lhe o dinheiro, tinha como objectivo criar condições para que tivesse uma vida de sonho, uma vida sem preocupações e com tudo aquilo que pudesse desejar.
- Pois, mas a Luna certamente sabia que eu não aceitaria esse dinheiro, que não sou pessoa de dar o devido valor ao dinheiro…
- Mas…
- Está decidido. Quero doar todo o dinheiro à “Excellence”, quero ajudar a que eles continuem a realizar os sonhos de outras pessoas, tal como fizeram com a Luna. Penso que assim estarei a ser mais coerente com a minha forma de viver e com a perspectiva de que dinheiro em demasia deve ser usado em função de objectivos maiores, como o de fazer muita gente feliz.
- O Allan é que sabe…
- É mesmo isso que eu quero. Estou certo de que o dinheiro será mais útil a outras pessoas. A minha riqueza e a verdadeira herança da Lu são os meus filhos, e deles eu saberei cuidar... Quanto à herança deles, quando chegar a altura eles decidirão…
Para espanto dos dois advogados, dei por concluída a conversa assinando uma procuração que lhes dava plenos poderes para doarem toda a minha herança à “Excellence”.
Já se fazia tarde e ainda tinha que passar no hotel para apanhar a minha bagagem. Despedi-me de todos com abraços e a promessa de regressar em breve. Com algumas lágrimas à mistura, aproveitei a boleia dos advogados e parti conjuntamente com a minha mãe e o meu irmão para o aeroporto de Atenas.
Senti-me revigorado, com paz na alma e uma vontade imensa de regressar ao activo, de voltar aos meus ouvintes, de abrir a lavandaria e, aos poucos, redecorar o apartamento para poder receber em breve os seus dois novos ocupantes.
O voo para Lisboa foi rápido e nele projectei os meus próximos passos. Queria ter a certeza de que as minhas opções seriam cumpridas ao mais ínfimo pormenor e era importante, desde logo, pensar nas diligências a tomar.
À chegada a Lisboa lá estava a minha tia Aurora à nossa espera. Ainda olhei em frente para ver se existia a lavandaria com a qual tinha sonhado na noite anterior, mas o que vi foi um “rent a car” de uma marca bem conhecida.
Pegamos nas poucas malas e dirigimo-nos para a saída. Infelizmente não vi os U2 e os táxis não estavam em greve. Entramos no carro e pedi à minha tia para sintonizar a minha rádio, já tinha saudades de a ouvir.
Na viagem não ouvi uma única voz, além de seguirem todos calados no carro, na rádio só se ouvia música. E tratava-se de uma selecção especial, até parecia que estavam a passar os meus temas predilectos, aqueles que eu repetia vezes sem conta no meu programa da noite. Que estranho, não era normal só passar música.
Como a rádio ficava a caminho, decidi surpreender a equipa com uma rápida visita e, simultaneamente, informar o meu director de que pretendia voltar ao activo o quanto antes.
Chegamos ao prédio e pedi à minha família para aguardar um pouco no carro. Cumprimentei o recepcionista e a senhora da limpeza e subi para o nono andar. Quando lá cheguei dei de caras com o meu director de programas.
- Olá Allan, finalmente! – Disse-me.
- Olá, então andaram a fazer obras enquanto estive ausente… Gosto da cor, está mais atraente, moderna, interessante… - Comentei.
Quando percorri os corredores reparei que as paredes estavam forradas a palavras de todos os tamanhos e feitios. Pareciam pequenos poemas inscritos nas paredes. Ao fundo destacava-se uma enorme placa de metal onde se podia ler “L FM” em letras gigantes.
- A Rádio mudou de nome? Perguntei sorridente.
- É Allan, agora a Rádio dá-se pelas siglas “L FM”, diminutivo de “Love FM”. E como ainda não nos disseste como pretendes formatar a rádio, limitamo-nos a emitir as baladas que mais tocaste no teu programa…
- O quê?! Agora só passamos baladas?
- Sim, até ordem tua em contrário…
- Ordem minha?! Estás a falar de quê?
- Allan, a rádio agora é tua, só tua. Dois advogados Gregos estiveram cá e informaram-nos que eras o novo proprietário da rádio. Trouxeram com eles uma empresa de decoração e, desde há uma semana, que estamos a emitir apenas música e a frequência da estação. Os locutores e jornalistas não têm dado voz à antena, estávamos à espera que chegasses para assumires o lugar vago na presidência da administração.
- Não acredito! Estás a brincar comigo.
- Não, achas que faria isso depois de tudo o que tens passado?!
- Espera, estás a dizer que a rádio é minha, que sou eu quem manda nela?
- Sim.
Olhei à minha volta e comecei a entender que algo não menos estranho estava ao meu redor. As palavras que preenchiam quase por completo as paredes dos corredores e salas eram alguns dos poemas que eu escrevera e lera no meu programa. Era uma espécie de assinatura que estava à vista de todos. Senti-me pequenino com tamanha exposição.
Apercebendo-se da minha completa estupefacção, o director deu-me os parabéns e disse que toda a equipa estava à minha disposição.
Entretanto acompanhou-me ao estúdio principal que, não sei bem como, quase triplicou em tamanho e deu-me a ver uma extraordinária réplica da estátua da Lu que está na “Casa da Luz”. Era igual, só lhe faltavam os malmequeres.
Quando me aproximei da estátua reparei que existia um envelope com o meu nome. Abri-o e li o seguinte:
- Allan, por favor, continua a iluminar a vida das pessoas, quer com palavras, quer com música, mas acima de tudo, com Amor. Lu
Era mais uma surpresa da Luna que me deixou completamente arrepiado. Dei um leve beijo na face da estátua e sorri. Estava longe de imaginar que algum dia seria dono da rádio onde sempre me limitei a ser um locutor da noite.
- Então Allan, o que queres que façamos de imediato? – Perguntou o director.
- Sei lá, quero que faças o que sempre fizeste, quero que todos façam o que sempre fizeram, quero que sintam que, a partir de hoje, esta nova rádio é de cada um de nós…
- Mas, quando pretendes assumir a direcção, quem queres ter a trabalhar contigo, que linha pretendes seguir?
- Só te peço para manteres o meu programa diário nos moldes em que estava, de resto és tu que mandas. Eu não nasci para tomar conta de uma rádio, quero que ela funcione, nada mais.
- Mas Allan, agora é tudo diferente…
- Ok, é diferente e sou eu que mando, certo?
- Exactamente.
- Então eu decido que és tu que mandas, decido que tudo será gerido por ti e que, a partir de hoje, as decisões mais importantes serão tomadas por todos como numa verdadeira democracia. Se a rádio é de todos, têm que ser todos a mandar. Assim sendo, tu geres o que todos decidirem, certo?!
- Sim, mas, mas, mas…
- Mas nada. Está decidido. Quando é que posso voltar ao meu programa?
- Quando quiseres.
- Quando Sr. Director?
- 2ª Feira, pode ser?
- Então 2ª feira cá estarei ao vivo e a cores. Agora põe toda a gente no ar e vamos dar vida à… Qual é mesmo o novo nome da rádio?
- L FM.
- Ok, 2ª feira cá estarei na “Love FM”.
E com mais esta decisão dei por “aberta” e “partilhada” mais uma surpreendente prenda da Lu.
Chegado ao carro, contei a novidade aos meus familiares, algo que, pelos vistos, tinha muito pouco de novidade, pois pelos risos já eram conhecedores do que acontecera.
A única pessoa naquele carro que, aparentemente, estava a quilómetros de distância era a minha tia Aurora. Pelos vistos, a única coisa que tinha entendido é que eu iria ser pai de gémeos e, mesmo assim, não parava de perguntar como seria possível, dadas as circunstâncias.
Pedi para ser eu a conduzir e perguntei se podia passar primeiro em minha casa, queria respirar o ar que sempre me aconchegou até à partida da Lu. Tinha saudades das nossas coisas, do nosso cantinho.
Já perto do apartamento reparei em algo estranho, a lavandaria que tínhamos comprado já estava em funcionamento e, surpresa das surpresas, chamava-se “LoveyoU”, tal como eu tinha sonhado. Parei o carro à porta e sorri ao ver um apreciável movimento de pessoas, ou melhor; de clientes. Reparei que funcionava até às 22H00, o que me fez deixar a visita para mais tarde. Estava com imensa vontade de enfrentar a casa que nunca mais visitei desde o dia da morte da Lu, tinha-me mudado para casa da minha mãe em Cascais.
Confesso que entrei receoso no prédio do nosso apartamento, qual seria a minha reacção em regressar a um local onde a última imagem era a da mulher que amei postada no chão da sala?
A minha mãe e o meu irmão fizeram questão em me acompanhar. Quando abri a porta do apartamento fiquei boquiaberto.
Todo o apartamento estava completamente diferente, inclusive as divisões tinham sido alteradas.
- Allan, esta é a tua nova casa. A Lu entendeu que as memórias deveriam ser as mais positivas e desenhou tudo o que agora podes ver. Ela quis que tu te sentisses a começar do zero mas, logicamente, sem a esquecer. Ficou pronta há dois dias, segundo me informaram em Atenas.
O apartamento T3 tinha sido transformado num amplo espaço com menos divisões, passou a ter dois quartos transformados num, uma sala gigante e uma cozinha cheia de aparelhos envoltos por uma madeira de fino recorte. A sala tinha quase 100 metros quadrados e as paredes estavam decoradas com quadros com diversos pormenores que, facilmente, me levavam para momentos marcantes da nossa vida. Destaco um quadro com bilhetes de alguns espectáculos que tínhamos assistido, alguns deles de qualidade surreal. Noutro quadro estavam pequenos papéis e guardanapos onde eu escrevera pequenas mensagens de amor para a Lu, como uma em que eu lhe dizia que adorava aqueles dois quilos a mais na sua barriga, algo que a levou a amuar e a inscrever-se num ginásio. No fundo, naquele quadro, estava um pequeno excerto das mais variadas mensagens que constantemente deixava para ela ler, era uma forma de a provocar e lembrar que a amava muito. Não havia semana em que não lhe deixasse algo escrito num guardanapo, num folheto publicitário, numa caixa vazia de cereais, enfim, não me cansava de lhe escrever e de a provocar através das palavras. Sempre gostei de brincar com as palavras, de as usar como originais provocações.
Reparei também numa enorme estrutura em vidro, uma espécie de caixa que ocupava completamente a parede ao fundo. Era o emoldurar do tapete onde a encontrei sem vida. Aquele enorme tapete vermelho tinha um magnetismo imenso, algo que era suavizado por uma folha de papel A3 que, ao centro do tapete, tinha escrito pela mão da Lu a palavra “Vive!”, parecia um contra-senso mas, por outro lado, era uma forma de me fazer pensar que o meu caminho tinha ainda muito pela frente.
O tom magenta, tão apreciado pela Lu, marcava presença em quase todos os espaços do apartamento, fosse na tinta das paredes, algumas das quais em “degrade”, ou pelas luzes que iluminavam pontos de especial destaque, como por exemplo uma pequena mas imponente mesa de vidro que parecia ser uma fonte de luz de onde sobressaía um livro. Peguei nele, chama-se “Lágrima”, e comecei a ler a longa dedicatória escrita com tinta dourada:
“ - As tuas palavras encheram a minha vida de pensamentos positivos, as tuas palavras foram um dos principais incentivos para eu conseguir ultrapassar os momentos mais tristes dos últimos dois anos, foram elas que me ajudaram a continuar a sorrir, a reunir forças para continuar a querer viver, mesmo sabendo que o fim era incontornável, mesmo sabendo que o meu sonho se transformaria num pesadelo com hora marcada. Allan, muitas vezes dei comigo a bater à porta da morte e a pedir-lhe para me dar uma espécie de tempo extra, muitas vezes tive vontade de desistir, de te contar o que estava a acontecer, de antecipar o destino. E nesses momentos mais sufocantes recorri aos teus textos e às gravações dos teus programas de rádio para encontrar razões que me levassem a continuar, foi nos teus poemas que sempre encontrei a ponte para o dia seguinte. Podes não acreditar, mas reli-te vezes sem conta, todos os dias fazia-me acompanhar por um dos teus poemas que tantas vezes lia sob um mar de lágrimas. Amor, podes não ser o melhor escritor do mundo, podes até achar que este livro não merecerá figurar numa prateleira de uma livraria, mas eu acho que as tuas mensagens merecem ser sentidas por outros, merecem ser ponte para quem, como eu, precisa de argumentos suficientemente fortes para avançar passo a passo, tristeza a tristeza, hora a hora, minuto a minuto.
Sim, é verdade, este livro é a reunião de 100 dos teus poemas, os que me acompanharam nos meus últimos 100 dias. Todos os dias, ao acordar, ia ao escritório vasculhar a montanha de escritos que aglomeravas de forma completamente desordenada, seleccionava um e levava-o comigo para mais um dia, para mais uma etapa de vontade, mais um sacrifico com um objectivo maior. Allan, foste tu quem me fez ultrapassar o tempo o tempo em contra-relógio que os médicos me diziam ser impossível ultrapassar, foste tu quem prolongou a minha vida. Hoje, este “Lágrima” está certamente a dar força a muita gente, àquelas pessoas que precisam de sentir o calor das tuas palavras para conseguirem ultrapassar momentos de completo desnorte, de completo desespero. Sei que a maioria dos teus poemas são tristes, mas, por vezes, é na tristeza das palavras que encontramos a vontade de viver mais, de valorizar cada instante, cada olhar, cada sorriso. A tristeza do que escreves é um bálsamo para as feridas que parecem não ter cura… Por favor, não pares de escrever, por favor continua a ser razão de vida para alguém, para tanta gente… É que, mesmo com lágrimas, depois de te ler, ficamos com vontade de prolongar o suspiro que nos resta, sentimos força para o desmultiplicar em sorrisos, como se fossem os últimos, como se tivéssemos vontade se os viver da forma mais intensa, da forma mais brilhante… Queremos muito que os últimos instantes da nossa existência tenham um lado extremamente positivo, um lado que fique na memória de quem mais amamos como um carimbo de felicidade. Afinal, a vida foi feita para ser vivida com alegria e é nestas alturas que temos ainda mais vontade de viver, de valorizar todos aqueles pormenores que ignoramos quando nos dedicamos exclusivamente aos problemas. Este “Lágrima”; estou certa, irá despoletar em muita gente a vontade de querer viver com mais respeito pela vida, com mais amor, atenção aos outros, com mais essências. Amor, está aqui a fórmula que me deu mais vida e foste tu quem a criou, foi graças a ti que continuei, foi graças a ti que consegui criar todos estes pormenores que tanto me fizeram sorrir ao imaginar as tuas reacções e o teu ar de surpresa. Estou certa, por exemplo, que recusaste o dinheiro que te deixei de herança. Acertei?
Logo vi, és como eu, e pensas que o dinheiro só serve para nos esquecermos da vida ou, como nestas minhas invenções, brincarmos com ele a enfeitar o que queremos transmitir a alguém que nos é muito especial. Imagino que estranhaste ao saber da fortuna que possuía e continuarmos a viver com prestações contadas ao tostão, mas também sei que pensaste que era desta forma que daríamos mais valor a cada pormenor, a cada almofada ou tapete comprados peça a peça, como que completando um puzzle. Voltando a este livro, espero que seja o primeiro de muitos e que nunca deixes de escrever, de falar com palavras que vão directamente ao coração, que fazem querer ser-se melhor pessoa, mais gente, mais autêntico. Quiçá, graças a este livro ainda terás os teus 15 minutos de fama, o tempo necessário para lavar a roupa suja e entrega-la ao cliente, mesmo que o aeroporto seja ao virar da esquina da nossa rua… Obrigado. Lu”
É impressionante a forma como a Lu conseguia continuar a mexer comigo com acções que nunca julguei ser capaz de criar, mesmo sendo ela uma criativa nata. Tantas vezes recordo os seus sonhos, os seus projectos sem primeiro passo, tantas criações em voz alta que não redundavam em acontecimentos. Hoje, ela deixa-me resultados, numa altura em que já não a posso ouvir inventar.
Sinto-me completamente rodeado pela sua presença, sinto-me preenchido por uma vontade de viver que parece inesgotável, sinto-me só mas acompanhado em cada recanto da minha existência.
Quem diria que um dia teria um livro publicado, logo eu que sou dado a uma preguiça de todo o tamanho, logo eu que não termino a maior parte dos projectos que invento.
Abri o livro a meio e fui ler um dos meus poemas que a Lu publicara.

O Eu é um Instante
que tenta sobreviver,
que se dá e cresce,
sempre no medo de errar.
O Eu é uma Memória
feita de retalhos e gentes,
com mais energia do que força,
sempre no medo de morrer.
O Eu é uma Luta
que nunca é ganha,
que vive de momentos
sempre no medo de (se) perder.
Eu? Será que Eu sei?

Fiquei impressionado com a forma como as palavras que escrevi no passado tinham hoje uma leitura completamente diferente, faziam o sentido que, na altura, não tinha razão de ser, já que escrevo ao sabor do “teclado” e não em função de um determinado objectivo ou tema.
Continuei a folhear o livro e dei com mais um texto que, hoje, assumia uma realidade surpreendente.

O tempo nasce num instante
faz-se luz numa palavra
e o sim transforma-se em ponteiro.
É como partir do nada
para corrigir degrau a degrau
e chegar ao tudo que é a meta.
Há que ter tempo para o tempo
servir o ser e gerar o acontecer
com a certeza de que o mundo...
...começa Hoje.

Já nem me lembrava do que tinha escrito, já nem me lembrava das razões, se é que as houve, para escrever o que agora lia com uma clareza jamais percebida.
Por longos minutos dei comigo a reler o que escrevera e a imaginar tudo o que a Lu poderia ter pensado ou imaginado de cada vez que lia ou ouvia o que eu escrevera. Cada poema tinha um sentido que parecia encadear-se com tudo o que vivera, parecia ficar em sintonia com o meu passado, presente e futuro. Era tudo tão real.

Onde pára o teu incenso
Como cresce o teu saber
De que mão foge a essência
De quem é o teu viver?
Porque vestes desalinho
Em que fantasias te escondes
Quem fez de ti estátua
Porque é que não respondes?
Porque és nuvem devorada
Com que pele reencarnas
Onde és esconderijo ancorado
Porque alma já não reclamas?
Foi feitiço ou decepção?
Diz-me que sim... ou que não.

Decidi fechar o livro e ir conhecer o quarto onde tantas vezes usáramos outro tipo de palavras, onde sempre nos despedíamos do “ontem” com um “Amo-te” e a certeza de que no “amanhã” seria mais um dia a dois, mais um dia onde o objectivo era sempre o mesmo; sermos ainda mais felizes.
Quando entrei naquele quarto completamente renovado sorri ao ver uma cama gigante do género que sempre sonháramos comprar, uma cama “king-size” com traços orientais, era igual a que eu tinha usado em Koh Samui. O quarto estava todo decorado com mobiliário e objectos orientais. Na parede em cima da cama estavam incrustadas umas letras onde se poderia ler “kòrp-koon”, uma das poucas palavras que aprendera na Tailândia e que significava obrigado.
Não sei bem explicar, mas todos os recantos da casa estavam completamente diferentes do apartamento que compráramos poucos meses antes da Lu falecer, o apartamento que combináramos decorar mês a mês e para o qual tínhamos destinada uma parte dos nossos rendimentos mensais.
Entretanto, a minha mãe chamou-me e disse-me que havia mais para ver. Efectivamente havia uma escada em caracol que nos levava par ao andar de cima, o último do apartamento com um enorme terraço e de onde se podia ver ao longe o rio Tejo.
Este andar estava todo pintado com cores alegres e com desenhos animados de brilhavam no escuro. Era uma espécie de Disneylândia em tamanho pequeno que, certamente, seria o sonho de qualquer criança. Todo o andar estava repleto de brinquedos, alguns deles de tamanho real. Todo este andar estava destinado ao filho que a Lu sabia que iria nascer, o filho que ela tanto desejara e que iria conhecer a luz graças ao sacrifício da mãe. Era uma visão triste, mas por outro lado, é sempre bom quando a morte gera uma nova vida, como era o caso.
Não menos interessante, é que todo andar não tinha divisões, as paredes tinham sido derrubadas e as diversas áreas eram separadas por insufláveis e brinquedos suspensos que lhe proporcionavam um ar de mundo mágico. Não sei, mas era como se uma criança entrasse no “Toys’R’Us” e sentisse que todos os brinquedos eram seus e que poderia lá estar o tempo que entendesse.
Fiquei comovido, algo que fez com que o meu irmão interviesse.
- Allan, também tens brinquedos para ti. – Disse.
Arrastou-me até ao terraço e pediu que espreitasse para o outro lado da rua.
Olhei e vi dois Minis estacionados ao lado dos bidões de cinquenta litros que eu e a Lu tínhamos transformado em mealheiros gigantes. Um era vermelho e o outro amarelo, as cores que tínhamos decido para quando tivéssemos dinheiro suficiente para comprar os carros.
- Vês, foi bom terem poupado. Disse-me o Ferdinand com um sorriso.
- Sim, sim… - Respondi com a certeza de que com o montante que tínhamos amealhado no máximo compraríamos um pneu.
- O Vermelho é para os dias da semana, o amarelo é para o fim-de-semana…
- Esta Lu é realmente, enfim, já nem sei o que dizer…
Mas com tudo aquilo, não sei bem porquê, senti que ainda me faltava algo, faltava-me a Lu, ausência que eu tentava compensar com os gémeos que em breve iriam nascer.
Entretanto, o meu irmão e a minha mãe decidiram ir embora depois de eu ter pedido para ficar sozinho a desfrutar a companhia da Lu naquela casa que, a partir daquele dia, voltaria a ter vida, voltaria a ter felicidade.
Despedi-me e, passados uns minutos, tocaram à campainha. Dirigi-me à porta, abri-a e perguntei:
- Vá, o que é que a esquecida da mãe deixou cá ficar? - Perguntei
- Olá Allan, sou eu.
- Tu, como é que estás aqui, como é que chegaste até aqui?
- Allan, eu amo-te. Eu amo-te mesmo. Só te peço para me ouvires, depois vou embora…
- Isto não pode estar a acontecer, não suporto mentiras, não quero saber mais nada, por favor vai embora!
Empurrei-a para fora e acabamos por cair um em cima do outro no hall da entrada. Não sei como mas acabamos a beijar-nos perante o olhar atónito de uma vizinha de idade que saía do elevador.
Entre beijos e empurrões acabamos por nos deixar ir pelo calor das emoções, acabando sentados na porta de entrada a chorar copiosamente.
Não conseguia dizer nada e tudo o que ela me dizia parecia o mais profundo silêncio. À cabeça só me vinha o sorriso da Lu e todo o passado em jeito de “flashback”, todos os momentos de alegria que vivera com ela…
Entretanto a Shi Noah deu-me um forte estalo e gritou-me:
- Ouve Allan! Eu estou aqui! Eu sei que também me queres perto de ti, eu sei que podemos ser felizes um com o outro. Estás a ouvir-me?!
- Não, não, eu não te amo. Eu não te quero. Tu és a amiga mais próxima que tive nos últimos e difíceis tempos, mas nem a tua amizade é bem-vinda à minha casa, à minha vida.
- Não estás a entender Allan, nós temos um futuro pela frente, nós vamos ser felizes…
- Shi Noah, ouve-me! Eu amo a Lu, eu tenho a Lu, é com ela que vou viver para sempre, é com ela que eu quero estar, é com ela que eu vou ficar.
- Hás-de querer-me e não ter. És um filho teimoso, um burro que prefere viver agarrado à morte, agarrado a um passado que não te levará a lado nenhum… - Disse a Shi Noah numa mistura de lágrimas e raiva.
E nisto, sem perceber bem como, surgiram a Rute e o Jorge que, a custo, retiraram-na da minha frente, obrigando-a a ir embora.
Voltei a entrar dentro de casa e olhei à minha volta. Senti que tudo estava no lugar, que aquele era o meu espaço, o meu mundo, que estava ali a minha vida. Para quê procurar substituir alguém que jamais chegaria aos calcanhares da Lu, para quê tentar substituir o insubstituível. Estava certo de que a minha vida seria facilmente preenchida com a chegada dos meus filhos e com todos os novos objectivos a que a Lu tinha dado forma e consistência. A rádio, a lavandaria, o livro, a nossa casa, a nossa história, o nosso sempre, aquele a quem nem a morte conseguira destruir.
Entretanto a Rute e o Jorge regressaram para me entregar uma capa com uma enorme colecção de DVD.
- Desculpa Allan, estamos certos de que a Shi Noah não voltará a incomodar-te. – Disse a Rute.
- Também já não me interessa, percebi que não estou interessado nela nem em ninguém… Que DVD são estes? – Perguntei.
- Ahh, são da Lu. Ela disse que adoras DVD e por episódios, por isso gravou estes só para ti, disse que é para usares no vosso dia-a-dia, que têm as frases que mais usaram ao longo de todos estes anos. A Lu garantiu que saberás dar-lhe o guião mais apropriado. – Respondeu.
Despedi-me da Rute e do Jorge e fechei a portana certeza de que esta era a última vez que os via. A missão estava cumprida e com o sucesso desejado por quase todos.
Fui ao frigorífico, abri uma cerveja, coloquei um dos DVD no leitor, sentei-me no sofá em frente ao plasma e… Carreguei no Play.
Como sempre, lá estava a Lu resplandecente a falar comigo com aquele sorriso que me fazia tão feliz.
- Olá Amor, e se hoje ficássemos em casa no “dolce fare niente”?!
- Sim, é isso amor, “dolce fare niente” para sempre. – Respondi-lhe.

FIM
(como bónus, ainda haverá uma espécie de prelúdio)

- Vá!

- Vá, sorri e faz sorrir!

"Caretas"

Ontem, alguém me dizia estranhar o desempenho de alguns personagens da Blogosfera. A essa pessoa, que aprecio, só quero acrescentar que, como em tudo, há personagens mais e menos coloridas, mais e menos autênticas. Só temos que não nos dar ao trabalho de não ir em "caretas" porque as personagens principais detectam-se a léguas, independentemente da qualidade e/ou quantidade de caracteres que plantam nos jardins virtuais.
sábado, 21 de junho de 2008

Desafio

O que te sugere esta imagem?

Lágrima do Oriente - Dilema

Já me coloquei três vezes em frente ao computador para escrever o último capítulo do "Lágrima do Oriente"...
Está um "parto" difícil!
sexta-feira, 20 de junho de 2008

Aproveita!

Bom fim-de-semana!

"Sexualidades"... no Porto Canal

Tal como a imagem aqui apresentada, o "Sexualidades, Afectos e Máscaras" é um programa que provoca os espectadores, embora de uma forma construtiva e esclarecedora. Às perguntas acutilantes da Jornalista Maria José Guedes responde o Sexólogo Manuel Damas, num espaço único da televisão Portuguesa.
É para ver no Porto Canal às 01H00 da madrugada de hoje ou à mesma hora na madrugada de segunda-feira.

Pois.

E se aprendêssemos com as crianças?
Também acho, o mundo seria bem melhor.
- Maldita mania de "brincar" aos adultos!
Sim, a mania que chega aos 18 anos.
E não há maneira de aprendermos!
quinta-feira, 19 de junho de 2008

Lágrima do Oriente - XXIX ...e Penúltimo

Lágrima do Oriente
"Amor com Amor se Paga"
29º Capítulo
(a história, até aqui, pode ser lida no link à direita)

Os convidados começaram a ir embora e, com a sua simpatia, foram, cada um à sua maneira, desejando-me as maiores felicidades. Isto sem nunca esquecerem o voto de parabéns pelos filhos que dentro de poucos meses dariam ainda mais vida ao meu ser.
Depois de só termos ficado quase familiares, a Raja convidou-nos a ir ver algo especial. Era um vídeo tridimensional da sua última ecografia, a qual tinha sido feita há poucos dias.
Fiquei impressionado com as imagens, algo que serviu para ver que os meus filhos eram efectivamente um casal de gémeos.
- Posso tocar-te na barriga? Perguntei.
- Claro que sim, afinal eu sou a tia e tu és o pai. Acredita que já fico feliz por poder ser parte deste importante acontecimento. A dádiva da Lu não foi só para ti, também foi para mim, nem imaginas. - Respondeu a Raja enquanto apertava a mão ao Tony.
- Então Allan, já sabes que nome irás dar aos meus primeiros netos? - Perguntou a minha mãe.
- Sim, vou dar os nomes que eu e a Lu tínhamos pensado. O rapaz vai chamar-se Gabriel e a menina chamar-se-á Safira. - Respondi.
- Que bem, são nomes com luz. - Disse a Aaliya com um leve sorriso.
Acabamos por ficar ali cerca de uma hora até que, a convite da Aaliyah, decidi ir dormir para o quarto que fora habitado pela Lu durante quase duas décadas.
Quando lá entrei senti um aperto no coração, algo que foi superado degrau a degrau enquanto observava os inúmeros objectos que acompanharam a mãe dos meus filhos ao longo dos anos. Falo de um diário que não ousei ler, de cadernos escolares com inúmeros desenhos, de peluches dos mais diversos feitios e de um pequeno equipamento de som que, pelos vistos, servia para a Lu treinar os seus dotes vocais. Ela era viciada em cantorias, cantava o dia todo. Recordo que houve uma altura em que só pensava no karaoke, até parecia que queria ser artista. Mais, de cada vez que cantava, independentemente do palco, era como se estivesse perante uma plateia de milhares de fãs. Fartava-se de agradecer, de saltar e chegava ao ponto de apontar o microfone para a frente, como que a incentivar o público a cantar o refrão das canções que interpretava e as quais, refira-se, eram sempre as mesmas. Ou era o "Breathless" dos Corrs, o "One" dos U2 ou o "Linger" dos Cramberries. Penso mesmo que foi essa tentação por bandas Irlandesas que nos levou num fim-de-semana alongado para a República da Irlanda no ano passado.
Estava exausto, mas ainda fui a tempo de abrir a porta do quarto à minha mãe. Queria dizer-me que estava imensamente feliz por mim e informar-me que iria com o meu irmão no dia seguinte para Portugal. Disse-lhe que também iria, pois queria voltar à rádio, avançar com a lavandaria e recomeçar a trabalhar, além disso tinha que dar uma arrumadela no apartamento que alugara pouco antes da Lu falecer.
Deitei-me em paz comigo mesmo e com a vida e tive a melhor noite dos últimos meses, foi como se estivesse sem dormir há anos. Senti-me bem, muito bem.
Despertei com a claridade de um sol estupendo que invadiu todo o quarto da Lu, tinha-me esquecido de correr as cortinas.
Olhei para o relógio e ainda era bem cedo. Decidi vestir-me e fui ao encontro da Lu, ou melhor, da sua estátua rodeada por malmequeres situada no jardim. Sentei-me à sua frente e prometi criar os nossos filhos com todo o amor que certamente ela lhes dispensaria. Prometi também reorganizar a minha vida e colocar em prática os projectos a que em conjunto nos propuséramos. Foi sem lágrimas que também lhe disse que um amor destes não acaba com a morte e que, mesmo não sabendo o futuro, tentaria ser e fazer mais alguém feliz.
Despedi-me com um "- Virei cá sempre! E sempre que sintas a minha falta dá-me um dos teus sinais, largarei tudo para vir para junto de ti".
Depois deste monólogo que certamente tinha sido ouvido pela Lu, fui passear um pouco pela imensidão da "Casa da Luz".
É um espaço fantástico e de uma serenidade inesquecível. Falta-lhe muito pouco para se transformar em paraíso.
No meu passeio acabei por encontrar a Aaliyah a regar as plantas que circundavam a casa de madeira da Lu. Disse-me que era um ritual que mantinha desde que a filha tinha fugido, queria que quando ela regressasse tudo estivesse perfeito, tão perfeito como ela deixara. Contou-me também que quando a Lu voltou - quase nove anos depois, ficou feliz da vida por encontrar a sua "casa" em tão bom estado, tratada com tanto carinho.
Passamos quase duas horas a falar das peripécias da Lu, numa espécie de partilha do muito que; quer um, quer o outro, não tinham tido oportunidade de vivenciar.
Regressamos a casa e fomos tomar o pequeno-almoço na companhia dos irmãos da Lu, da minha mãe e do meu irmão. Há muito tempo que já não sabia o que era boa disposição ao despertar, há muito tempo que não saboreava um pequeno-almoço tão familiar, tão cheio de sabor.
Comuniquei a todos a minha decisão de partir para Portugal naquele mesmo dia com o compromisso de voltar o mais rápido possível, pois queria acompanhar de perto a gravidez da Raja.
Entretanto chegaram a Rute e o Jorge disponibilizando-se para nos levarem ao aeroporto. Ficamos a saber que só poderíamos partir a meio da tarde, pois só havia voo disponível às 16H00. Foi da maneira que aproveitei para conhecer melhor Atenas e admirar as belezas naturais de uma cidade com tamanha importância cultural. Sempre na companhia da minha mãe e da Aaliyah, acabei por ficar a conhecer mais alguns locais que marcaram a vida da Lu; a escola primária, o parque onde brincava com os amigos de infância e inclusive o teatro onde organizou, apresentou e interpretou sozinha um musical intitulado de “Luz”.
O tempo passou a voar e de uma forma muito agradável, embora as recordações gerassem uma lágrima aqui e ali às mães que me acompanhavam. Aproveitamos a proximidade para passar no hotel e apanhar as minhas poucas coisas. Voltamos à “Casa da Luz” para nos encontrarmos com os outros e partimos em direcção ao aeroporto de Atenas.
Não era um adeus, mas sim um "até já" que não deixou de merecer mais algumas lágrimas de todos.
- Allan, sabes que a partir de hoje também és meu filho?! Sabes que te estou extremamente grata por teres feito a minha filha feliz?! - Disse a Aaliyah.
- Sim, claro que sei, claro que sou seu filho... e com imenso orgulho. Obrigado por tudo.
Despedi-me de todos com emoção e, de braço dado à minha mãe, entrei na sala de espera do aeroporto para ir de encontro ao avião que me levaria de regresso à vida, de regresso a Portugal quase um mês e meio depois de lá ter saído.
Foi uma viagem curta, não sei se pela ansiedade de voltar a Portugal, se pela vontade de recomeçar o que tinha deixado para trás.
Quando chegamos senti o cheiro típico dos aeroportos que, no entanto e naquela ocasião, me parecia cheirar a Portugal, ao meu país.
Quando chegamos à porta de saída do aeroporto de Lisboa reparei em algo estranho. À minha frente estava uma elegante lavandaria com um grande letreiro onde se podia ler: "Lavamos a sua roupa em 15 minutos". Sorri e não resisti a comentar com o meu irmão aquele pormenor que, refira-se, ia de encontro ao que a Lu sempre sonhara; abrir lavandarias em aeroportos para que os passageiros pudessem ter a hipótese de viajar com roupa limpa nas malas, contrariamente ao que acontece em todo o mundo.
- Já viste Ferdinand, podia muito bem ser a lavandaria da Lu... - Disse.
- É Allan, poderia ser, vamos dar uma espreitadela?
- Mãe, venha! Olha que nome original; "Love yoU"... - Acrescentei.
- É, é o nome que a Lu registou... - Disse o meu irmão.
- O quê?! Não, ela registou o nome Lu, ela sempre quis ter uma lavandaria com o seu nome, quer dizer com o seu diminutivo, já que o nome dela é Luna...
- Pois, foi o que eu disse... Repara bem, o nome da lavandaria é "LoveyoU". Repara no tamanho da primeira e da última letra...
- Tens razão, que estranho. Vamos lá, vamos ver como é... - Sugeri com imensa vontade.
Estavam cerca de 15 pessoas a serem atendidas e quando me aproximei do balcão fiquei estupefacto. Por trás dos clientes - gente das mais variadas nacionalidades, estava uma fotografia gigante de mim e da Lu a segurar num cesto de roupa. Na imagem podia ler-se "15 Minutos" em letras garrafais.
De repente uma criança virou-se para os pais e exclamou:
- Olha, é o rapaz da fotografia!
Fiquei quase sem reacção e sem saber o que fazer.
O meu irmão e a minha mãe aproximaram-se e informaram-me que aquilo era uma prenda da Lu. Mais, que existiam lavandarias "LoveyoU" em todos os aeroportos por onde eu e a Lu tínhamos passado juntos.
Era espantoso, principalmente porque jamais imaginaria abrir lavandarias em Madrid, Belfast, Punta Cana, São Paulo, Cancún e Lisboa... Pelos vistos era mesmo verdade e fiquei a saber que todas as lavandarias foram inauguradas durante a minha estadia na Tailândia. Entendi que a Lu decidira gastar a sua fortuna em algo no qual tanto acreditava. Afinal, já não precisaria de abrir a pequena lavandaria que ficava perto do apartamento onde morávamos, aquelas lavandarias certamente que preencheriam o meu tempo e dariam para ter uma vida mais desafogada, principalmente depois do nascimento do Gabriel e da Safira.
Despedi-me das funcionárias com um aceno e elas não pararam de rir quando se aperceberam de que o homem da fotografia era eu. Dei a entender que voltaria mais tarde e sorri.
- Mãe, vamos de táxi ou telefono à tia Aurora para nos vir buscar? - Perguntei.
- Não, vamos de táxi, poupamos tempo e, afinal, a bagagem é pouca... - Disse-me enquanto sorria alegremente.
Dirigimo-nos à porta de saída do aeroporto e não se via um único táxi. Estava uma fila imensa de pessoas desesperadas por apanhar um meio de transporte, mas pelos vistos os taxistas estariam em greve.
Por sugestão do meu irmão, decidimos andar um pouco e tentar ir apanhar um autocarro que nos levasse até ao centro de Lisboa. Mal atravessamos a larga rua começou-se a ouvir em alto e bom som uns acordes de guitarra.
Olhei à volta e não consegui perceber de onde vinha tanto barulho. Foi então que do cimo do terraço do aeroporto começaram a chover milhares balões vermelhos.
Entretanto os acordes de uma guitarra eléctrica continuavam a entoar pelo céu... E foi quando comecei a ouvir uma melodia que me era extremamente familiar.
À minha volta concentravam-se centenas de pessoas aos berros de: "-São eles! São eles!".
Sem perceber o que estava a acontecer no meio de tanto histerismo, agarrei a minha mãe e fiquei ali a assistir aquele momento de completa loucura. Queria entender o que estava a acontecer logo no dia do meu regresso a Portugal.
- Ei Allan, Ei look at me! I'm here! - Ouvi.
Não, não podia ser, era completamente impossível. O Bono Vox, acompanhado dos outros 3 elementos dos U2, estava no terraço do aeroporto de Lisboa a chamar por mim, sim por mim.
- Allan, this one is for you, with love... Enjoy! - Acrescentou o vocalista da banda que eu e a Lu mais admirávamos.
E foi assim que, entre centenas de pessoas vindas não sei de onde, comecei a ouvir o "One".
O espectáculo era impressionante e de uma intensidade indescritível. Por outro lado, nem os polícias conseguiam controlar a alegria do mar de pessoas que se juntava em frente àquela plataforma.
Dei por mim aos pulos e a cantar com toda aquela gente enquanto o Bono não parava de apontar a mão para mim, como que a dizer que aquele momento era meu, era especialmente meu.
Ao lado deles, num enorme placard electrónico, podia ver-se as curvas de uma mulher que dançava ao som deste "One". A dada altura, uma voz feminina passou a cantar em dueto com o Bono. A voz era-me familiar, parecia a daquela cantora que integrou os Silence 4...
Sem dúvida nenhuma que este estava a ser o melhor concerto da minha vida e da vida dos milhares de pessoas que entretanto se juntaram num coro arrepiante. Parecia impossível, mas os U2 estavam a actuar ao vivo em Portugal, num aeroporto e a surpreenderem todos os que ali passavam àquela hora.
O momento mais fantástico foi quando, através de um cabo de aço esticado da plataforma até ao chão, o Bono Vox atravessou aquela imensa plateia em completo delírio e veio ao meu encontro. O resto da banda continuava a tocar o "One" em parceria com a mulher que aparecia no placard electrónico.
Com a ajuda de alguns seguranças, o Bono aproximou-se de mim, deu-me um forte abraço e, num Português esquisito, disse-me:
- A Luna queria muito que fosses o seu maior fã. Nós somos fãs dela, é por isso que estamos aqui... com ela e contigo. Sê Feliz!
E nisto o Bono apontou para o placard electrónico. A mulher que participava nesta fantástica versão do "One", como que por indicação dele, virou-se e ficou a cantar sozinha o refrão da canção mas em Português:


Um amor
Um sangue
Uma vida
Deves fazer o que entenderes
Uma vida
Com cada um de nós
Irmãs, irmãos
Uma vida
Mas não somos iguais
Temos que nos carregar um ao outro
Carregar um ao outro
Um


Essa cantora, essa mulher, essa surpreendente e maravilhosa pessoa era, nada mais, nada menos do que a Lu, desta vez numa imagem completamente real, sem efeitos, mas infelizmente à distância. Ela estava a interpretar a canção do nosso amor com os U2 no melhor e mais eléctrico concerto do mundo e, ainda por cima, comigo no público, no público que ela sempre imaginara nas tantas vezes que cantara o "One" para plateias minúsculas nos mais diversos palcos.
O “One” acabou e os restantes elementos da banda acenaram-me com um "adeus", acabando ali a sua curta mais memorável missão.
No placard electrónico ficou a tradução do último refrão do tema, a parte que a Lu cantara em Português e com a qual terminou a actuação dos U2.
O meu irmão visivelmente emocionado pegou-me no braço e disse-me:
- Percebeste porque é que hoje não há táxis no aeroporto?
- Incrível, é incrível como as surpresas não param... É incrível o que a Lu consegue fazer. Mas como é que foi possível? - Perguntei.
- A "Excellence" tem os U2 como um dos seus financiadores e, quando eles souberam desta situação, fizeram questão de vir a Portugal conhecer pessoalmente a Lu, propondo-lhe que gravasse a participação que viste de forma a poderem oferecer-te um concerto memorável. Era para ter sido na Grécia, mas como vocês não os viram em Alvalade, optaram por fazê-lo neste final de tarde. Toda a situação foi sugerida pelo The Edge, o guitarrista, contando imediatamente com o aval de todos os elementos do grupo. Imagina Allan que a banda viajou hoje mesmo para cá só para te surpreender.
- E tu sabias disto?
- Allan, mal disseste hoje de manhã que virias para Portugal, a Rute ligou ao manager dos U2 e tratou de criar as condições necessárias para que isto acontecesse. Por isso é que só saímos de Atenas a meio da tarde…
- A todas os acontecimentos gerados pela Lu, também sabias?
- Sim, sabia. Eu fui uma das pessoas que acompanhou a Lu nos últimos dois anos, estive sempre a par de toda a situação. Ela não queria fazer nada que fosse contra a vontade da família, quer nossa, quer dela.
- Mas, foste tu quem lançou a lebre...
- Sim, mas estou certo de que agora entendes o porquê... Era importante levar-te a acreditar em tudo o que estava a acontecer.
- Como é que conseguiste esconder-me tudo isto?
- Simples, vendo o amor empenhado pela Lu em tudo o que programou. Estou certo de que farias o mesmo se fosse eu o visado. Allan, a Lu de início não era uma mulher que eu entendesse ser a certa para ti, mas com o tempo e principalmente com estes seus gestos percebi que não há mulher que preze tanto o amor como ela.
- E tu mãe, também sabias?
- Não querido, só soube um dia antes de partirmos para a Grécia. Achei tudo uma loucura e custou-me a acreditar. Olha, já agora, não conhecia esta canção, quem são eles? - Perguntou-me despertando em mim e no meu irmão um imediato sorriso.
Ainda a pensar no que assistira, fui andando a caminho da paragem do autocarro. Tinha sido um regresso a Portugal jamais imaginado, jamais sonhado.

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