quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Roubaram-me as Fraldas

O governo de Sócrates acaba de retirar ao meu filho 1 pacote de fraldas... Ou seja: acaba de lhe retirar o abono de família, aqueles pouco mais de €20 que apareciam disfarçadamente "ali" no saldo bancário, entre as várias parcelas do "dever e haver"... É, essa parcela, que, espero eu, não retirará as fraldas ao rebento, passará a ser uma espécie de "lembras-te, antigamente havia uma coisa a que chamávamos abono, uma coisa pequenina, mas recebida com agrado"...
Ouvi dizer e li em todo o lado que não foi o Sócrates quem as "roubou" mas sim uma senhora que gosta de nomes pomposos e que tem a mania que pode mexer nos nossos porta-moedas, uma tal de Dª Austeridade, uma senhora com ar sério, armada em ditadora.
E, para que fique já claro que não vou "bater" no Sócrates, permitam que informe que votei e continuo a querer votar no Sócrates, apesar das inúmeras razões que me incomodam na sua gestão governamental, a começar pelas fraldas.
Está visto que vamos regressar às manifestações do costume, com os "clientes" do costume - que respeito mas, perdoem, desvalorizo um pouco, tal como as centenas de camionetas que levam "assistência" para os comícios dos Partidos, de todos, menos os que não têm gente para encher táxis.
Está visto que vamos ter que nos habituar a trocar o "Continente" pelo "Lidl" (devem estar felizes da vida, com a crise!) e, não menos importante mas muito preocupante, vamos ter mais uma série de empresas a fechar e mais uns largos milhares de pessoas a perguntarem-se se ainda vale ou não a pena viver dos fundos, sejam eles de desemprego ou sociais.
Obviamente que todos sabemos que há exemplos para tudo, e injustiças para todos os lados, mesmo à custa de tentativas de justiça - e acho que o Sócrates foi quem mais tentou nas últimas décadas. (já sei que vou receber inúmeros exemplos "ao contrário", mas é a minha sensação, a minha opinião, vale o que vale)
Cá para mim, além de "alguns" erros, e apesar de ser "intitulado" de mentiroso, acho que o Sócrates é um bom primeiro-ministro, principalmente por "tê-los no sítio" e, para se perceber isso mesmo, digam-me lá quem estaria a fazer melhor do que ele... E, se estaria, porque é que não está?!
Ok, consegui finalmente, depois de tantos caracteres, chegar onde queria, ao voto. Sim, ao voto.
Se não se quer o Sócrates, o António, a Maria ou o Feliciano, por que é que eles continuam? Por que é são eleitos? Por que é que tantos dos que "gritam e esperneiam" não votam? Porquê? É assim tão complicado trocar o tempo de um "café" para colocar um "X" (ou sem "X") num papel que decide tanto, para não dizer quase tudo?!
Cá por mim, e não me referindo apenas ao caso Português, pois, imagino, todos saberão, o problema é geral, se os boletins de voto fossem respeitados, estou em crer que hoje não se reclamaria do Sócrates, já que à custa do seu título de "pior primeiro-ministro de sempre" não teria tão boas sondagens e jamais seria reeleito.
E as fraldas? Bem, quando for ao "Lidl" lembrar-me-ei do Sócrates e principalmente de todos aqueles primeiros-ministros, ministros das finanças e da economia que ouvi há dias dizerem que este governo é uma miséria e que, ao contrário dos ministros Irlandeses, não vão mas deveriam ir todos a julgamento, popular, de preferência, já quem são alguns dos muitos responsáveis pelo desaparecimento do abono, aquele item de boa memória que, por estar "no local errado à hora errada", ficará na história com o pomposo nome de "Socretismo".
Francisco Moreira

- Quem?!

Estou já há vários dias para rabiscar a minha opinião sobre o novo seleccionador nacional, Paulo Bento - aquele jovem que fez maravilhas nas camadas jovens do Sporting mas que eu prefiro recordar pela sua conduta firme e eficaz enquanto jogador.
Começo por referir que simpatizo com o homem, mesmo só tendo acesso ao que as televisões e os jornais reportam. Vejo-o como sério, e isso, para mim, dá-lhe desde já uns pontos a mais na escala da consideração. No entanto, e aqui é que está o meu ponto de vista, enquanto seleccionador - e antes de o ver em acção com jogadores melhores do que os que comandou na equipa Leonina - há que sublinhá-lo, penso que Paulo Bento está aquém do que desejaríamos para comandar uma equipa que, desde o início de Queiroz, anda a quilómetros luz do que deveria ser, ou seja: extraordinária, temível, demolidora, tendo em conta a experiência da quase totalidade dos seus titulares.
Em resumo, e espero enganar-me redondamente, vamos ter "mais do mesmo" e, pior ainda, desta vez, as contas voltarão a ser apertadíssimas, se chegarem para a "prova dos nove", à custa das benesses de uma "Dinamarca" qualquer, como aconteceu no apuramento medíocre para o recente Mundial.
Percebo muito pouco de futebol, daí não me armar em "treinador de bancada", mas estou em crer que Paulo Bento não é a pessoa certa para uma equipa que deveria estar (mesmo!) no leque das melhores do mundo.
Por outro lado, e em jeito de "auto-ataque", tento responder a um famoso jornalista televisivo a quem, há poucos dias, perguntei se não achava que deveríamos ter um melhor seleccionador, respondendo-me ele com esta pergunta:
- Francisco, diz-me lá quem? Quem?!
Pois, assim sem ser o Scolari, que continuo a defender como o que melhores resultados trouxe, não me lembro de ninguém, ninguém, quero dizer, a quem não possa apontar aspectos indesejáveis, tendo em atenção que o Mourinho, para já, não conta.

Francisco Moreira
quarta-feira, 29 de setembro de 2010

- Já ia!

Confesso que sou daqueles que torce o nariz à expressão: "tenho cuidado com o que como". Digo-o erradamente, provavelmente, mas convictamente, mesmo voltando a recorrer ao: erradamente. Fiz-me entender?
Gosto de comer bem, mas só aquilo que realmente aprecio, e são poucas as comidas que aprecio, são simples e com direito a repetição, as vezes que forem necessárias, ao longo de décadas. (não, não sou dado a experimentações)
O que mais me deixa saudades, e que triste verdade, é o arroz de frango da minha mãe, aquele que não me importava nunca de ingerir com deleite ao almoço e ao jantar, isto se não se criassem condições para que houvesse espaço para refeições de prazer. Que saudades!
Mas, e voltando ao mote deste texto, mesmo compreendendo que devemos comer menos e melhor, sou daqueles que não se importa nada de comer muito... e melhor. E, para mim, o melhor é comer aquilo que mais aprecio, mesmo que seja um "prego no prato". E mesmo detestando as consequências colaterais, tais como enfartamento, adoro poder sentar-me à mesa, de preferência caseira, e saborear... até me empanturrar, como se não houvesse amanhã.
Hoje, ao olhar para o meu filho, sinto que ele herdou este "defeito", o de comer como se não houvesse amanhã, sempre com aquela rapidez quase ofegante, impressionante e - já sei, dirão quase todos - preocupante.
A esses (todos) respondo com uma pergunta, ainda por cima daquelas mais "gastas" do que as pedras da calçada:
- E que prazer levaremos nós desta vida além de uma saborosa refeição?
Ok, eu também me quero responder. Tantos outros, tantos outros prazeres... Mas, neste caso, se pudesse, neste preciso momento, devoraria um tacho de arroz de frango, mas do da minha Mãe, e repetiria até morrer.
Francisco Moreira

Puxar Ferro... Ou ferrinhos.

É urgente mudar de ginásio e tonificar os músculos que agilizam (ou fazem apodrecer!?) os pensamentos. É urgente dar mais "corpo" às emoções, privilegiando as ligadas à alegria, à felicidade, ao bem-estar.
Sempre ouvi dizer que "corpo são, mente sã" mas, com este correr dos dias - virados para resultados, chego à conclusão que anda tudo mais "virado" para o corpo - ou o que ele ostenta - do que para a mente, no que diz respeito ao "bom pensar", ao "bom agir", ao "bom ficar", inclusive em termos de consciência.
Consciência?! Sim, consciência. É que nos minutos que correm, fiquemos elucidados, anestesia-se a consciência com o "puxar ferro", sejam "ferros" de lustro ou de papelão, infelizmente.

Francisco Moreira
terça-feira, 28 de setembro de 2010

O escuro das Cores

Um dia destes tentarei mudar a cor aos meus dias e às minhas noites, só para tentar ver tudo por uma perspectiva menos imposta pelas condições vigentes. Vou tentar mudar a cor à roupa, às ruas, às pessoas e, se lá conseguir chegar, tentarei mudar a cor ao pensamento. Só para ver o que acontece? Para ver se com esta luz, a de sempre, não ando a ver mal, demasiado mal...
É, por vezes é preciso mudar de perspectiva para se ver melhor e, claro, decidir com mais clarividência, com menos "rituais", mesmo que para isso tenhamos que ficar às escuras, uma cor, convenhamos, que tantas vezes nos ensina e obriga a ver com olhos de ver.
Francisco Moreira

Eu rezo, tu rezas e eles...

Sou daqueles, não sei se muitos ou poucos, que acha que, independentemente da prática activa ou passiva das religiões, todos rezam, todos falam com Ele, Deus ou outra "entidade" qualquer.
Seja para reclamar, implorar ou exteriorizar, todos acabamos por nos dirigirmos a Ele, porque sim, mesmo sem saber bem como e por que é que se faz. Mas, afinal, o que é rezar? Não sei, confesso. (estava provavelmente desatento nas aulas de religião e moral, apesar da nota máxima)
Será uma espécie de introdução à conversa com Ele, em jeito de pedido de "reunião"? Será uma espécie de fórmula, nada secreta, para conseguir a Sua atenção e dedicação especial? Será uma "desculpa" para tentar passar as culpas para outro lado, o Dele?
Não sei se alguém saberá explicar além do dicionário mas, por outro lado, uma coisa é certa, mesmo que não saibamos para o "que serve", mal não fará certamente.

Francisco Moreira
segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Sombra da Bananeira

Quantos de nós andam à "sombra da bananeira", mesmo numa altura em que as bananas andam mais murchas do que nunca, mais escondidas, para não dizer mais pisadas e podres?! Mas, mesmo assim, continuamos a fazer dos nossos hábitos um autêntico "bananal", nem que seja sob o efeito de miragem, aguentando as pontas ao "fio da navalha", certos de que nos iremos salvar, nem que seja deixando as "contas da vida" para os descendentes liquidarem.
Temos que mudar urgentemente de filosofia de vida, temos que mudar de hábitos, temos que ficar mais sensíveis, mais humanos, mais pessoas, mais verdadeiros, mais nós.
De que é que estou a falar, afinal?
De tudo e de nada. De tudo o que deveríamos fazer para ter uma vida mais verdadeira e menos "lantejoulada" e de nada, aquilo que levamos, quando partirmos.
Sim, de que serve amealhar dívidas se nos arrependeremos de as contrair? Sim, de que serve não fazer melhor se nos arrependeremos do que deixamos de ser e de fazer?
Eu sei que o tudo e o nada são apenas "bananas", mas será que vale mesmo a pena viver-se na "sombra"?

Francisco Moreira

O Silêncio das Sirenes

São inúmeras as pessoas que neste preciso momento andam à procura de uma "saída de emergência", seja qual for o contexto, ou melhor, seja qual for a emergência. E, como imaginam, não me refiro àquelas emergências com direito a "sirene", mas sim às outras, aquelas vividas em silêncio, em tantos cantos destas nossas ruas.
Entretanto, e para quem ainda não entendeu, convém referir que se tratam de emergências sem sangue à vista mas com danos graves, principalmente no foro psicológico, afectando tudo o resto, seja físico, emocional ou relacional.
Há feridas que não se vêem, e pelos vistos espalham-se como se fossem um vírus vingativo, daqueles que julgamos nunca nos poder atingir, pelo menos a nós, embora de fácil acesso ao "vizinho do lado" - mentimo-nos.
Preocupa-me, e muito, esta nova moda das emergências silenciosas, ao ponto de achar que deveria ser criado um "corpo de bombeiros" que, sem sirenes, acudisse às tantas dores espalhadas por aí...

Francisco Moreira

Alfinetadas

Acredito que todos somos ingénuos, uns mais que outros, naturalmente, mas todos padecemos do mesmo, inclusive aqueles que se dizem "nunca enganados", por estarem sempre alerta. Será que estão? Será que conseguem? Cá por mim, são enganados mais do que imaginariam, mesmo sem estarem alerta. Mas esta é também uma das várias piadas com que se veste a vida, um dos seus condimentos, permitindo que haja mais "assunto", para não lhe chamar outra coisa.
Eu, mero exemplo, considero-me um dos mais ingénuos dos ingénuos, embora por convicção, porque aprecio a leveza com que encaro o verbo acreditar nos outros, talvez por querer acreditar quase sempre... Mas, por outro lado, tal como cada um, não sou de "me ficar", usando essas alfinetadas para filtrar quem me "pica". E mesmo que não responda na mesma moeda, os visados, acredito, percebem facilmente que o grau de atenção de que dispunham perante mim esvazia-se rapidamente, graças ao uso que dou à agulha com que me alfinetaram, alfinetam ou alfinetarão, mesmo "às escondidas".

Francisco Moreira
sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Vintage

De quando em vez, só para darmos mais valor às "facilidades" que temos, deveríamos ser mais "vintage".
Estou em crer que apreciaríamos mais o tanto que nos é dado ou, e porque não (?!), mudaríamos radicalmente muito do que somos e fazemos.
Não quero dizer que no antigamente é que se estava bem, apenas quero lançar a questão de que "quanto mais temos menos valorizamos", assim ao jeito de "profissionais do insatisfeito".

Francisco Moreira
quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Pobre de Rico

Sou fã de milionários como o Bill Gates, daqueles que sabem dar uso ao dinheiro que têm em prol dos que não têm. E não me refiro aos seus familiares e amigos, inclusive aos seus filhos que, segundo ele, vão ter que se fazer à vida para construir os seus "impérios", se os quiserem ter, claro.
Para que se perceba, Bill Gates, só no ano passado, comprou vacinas que evitaram a morte de 5 milhões de pessoas. Sim, eu disse 5 milhões.
Mas há mais, muito mais. Posso referir, por exemplo, mais um, que este homem mais rico do mundo anda a reunir-se um pouco por todo o mundo com os mais "pesados" milionários para os tentar convencer a doarem 50% das suas fortunas para causas como estas, as de salvarem milhões de pessoas que não têm como se salvarem sozinhas.

Francisco Moreira

- Perdoe o incómodo!

Há anos que me apetece escrever sobre aquelas pessoas, provavelmente fantásticas nas suas vidas fora do emprego, que têm o dom de atender "por favor", sim, aquelas pessoas brilhantes, provavelmente nos seus sonhos, que têm o dom de detestar o que fazem e de o demonstrarem com todas as rugas e cabelos brancos, mesmo não os tendo.
Não são raras as vezes em que me apetece perguntar-lhes o seguinte:
- Já pensou em mudar de emprego?
Claro que, se obtivesse resposta do género "tomara eu", teria logo uma segunda pergunta na manga, esta:
- Já imaginou quantos dos 600 mil desempregados ficariam felizes por hoje terem a hipótese de ter o seu lugar?
Eu sei que existem condicionantes para que o atendimento, privado ou público, viva neste estereótipo denominado "mal-encarado", mas será isso suficiente para se demonstrá-lo a todos e a mais alguns, mesmo aqueles que "até" são simpáticos?!
Obviamente que não faltam exemplos de clientes e outros que merecem aquelas faces de "gato mal morto" como resposta mas - e aqui está a diferença - será que não dá para separar o "trigo do joio"?
Ah, isto sem esquecer que naquela outra altura, a do despedimento, todos esses "mal-encarados" serão os primeiros da fila a tentarem comprovar, com palavras e sinónimos deles, que foram os melhores atendedores do mundo e arredores.
Francisco Moreira
quarta-feira, 22 de setembro de 2010

O corpo é que Paga

Deveríamos poder escolher o nosso próprio fuso horário, de acordo com a vontade do dia, ou do momento. Deveríamos poder estar em Bangkok, em São Paulo ou Nova Deli, sempre que nos desse jeito.
Nem que fosse apenas para podermos enganar o corpo das mazelas que o relógio inflige tantas vezes ao dia.
Eu sei que teríamos vários problemas em voltar ao ritmo das nossas vivências mas, mesmo assim, pelo menos no "às vezes", deveríamos poder ser nós a escolher onde queremos os ponteiros e não o inverso, como acontece, sem que possamos dizer "ai".
Francisco Moreira

Complot

Um minuto destes olhei para o meu velho espelho, aquele estranho que raramente cumprimento, mesmo sabendo que isso é falta de educação. Passou-me pela cabeça perguntar-lhe as horas. E ele, carregado de ironia, respondeu-me que "já era tarde", inclusive para mim, aquele que prometi vir a ser.

Não, não acreditei naquele reflexo estapafúrdio que teima em dizer o que lhe apetece porque, simplesmente, nunca há um outro espelho por perto que me permita uma verdadeira "prova dos 9", que é o mínimo que mereço, quanto mais não seja pelos cabelos brancos que ostento.

Fiz-lhe um "manguito", torto, é certo, mas com vontade, pelo menos no lúcido pensamento. E ele, aquele espelho de 4 décadas, teve a distinta lata de franzir o meu próprio rosto e, como que por magia, da falsa, claro (!), repetiu-me que "já era tarde", inclusive para mim, aquele que prometi vir a ser.

Como é que o fiz pagar por tamanha ousadia, por tamanha falsidade? Ainda não o fiz, mas certamente que o farei um ano destes, naquela outra altura em que o meu relógio se chatear de vez e me disser as horas certas, e não as combinadas... com aquele estranho que raramente cumprimento e que se dá pelo título de espelho.

Francisco Moreira

Intervalos

É quando a cidade adormece que melhor me revejo, que menos me contraio e que melhor me defino... É nessa (nesta!) altura que adoro acontecer, neste silêncio de gritos, por vezes mais doridos, ou talvez não, mas sempre autênticos, entre um e outro cigarro, num e noutro gole de água, imbuído de pensamentos que as imagens oferecem sem troco, sem horas, sem punição...
Gosto de estar para aqui, principalmente quando me dou a esses "intervalos" que irrompem entre um e outro afazer, quando me permito brincar com as palavras todas, ao de leve, ou nem por isso, embora sempre em ritmo apressado, porque se faz tarde, bastante tarde, sussurra a madrugada...
E o amanhã, para muitos, já começou, entre aquele respirar do guerreiro e a vertigem do acordar, porque também se faz tarde, mesmo no sono, mesmo nos sonhos... E eu aqui, neste intervalo roubado, mais um, entre mim e mim, sem pressa de chegar ao dia onde já estou, cansado, mas ciente de quem sou.

Francisco Moreira

Balão a Balão

Por que é que não poderemos viver eternamente na era dos "balões de sabão", mesmo sabendo que rebentarão e se dissiparão sem futuro possível, a menos que façamos novos balões, e mais balões?
Não me importaria muito de percorrer os meus dias de balão em balão, de sonho em sonho, sem me preocupar em demasia, sem demasiados "dizeres e sentires" para acrescentar ao sopro da minha existência...
É tão mais fácil quando andamos de balão em balão, naquela outra altura dos "porquês", dos "porque sim", para não que me referir aos actuais "tem que ser"...
Quando olho para os balões que faço para o meu filho fico sempre com inveja de não os estar a fazer para mim... Mas, por outro lado, à custa dos dele, confesso, vou saboreando ao de leve aqueles lugares por onde ele viaja, balão a balão, porque sim...

Francisco Moreira
segunda-feira, 20 de setembro de 2010

- Abracem-se!

É preciso sair à rua e começar a abraçar estátuas, nem que seja sob o pretexto tresloucado de ser por uma espécie de serviço público, como se se tratasse de um novo desporto. É preciso dar mais abraços, sentir os verdadeiros e catalogar os falsos, numa espécie de "coador" ambulante.
E porquê?
Não, não é apenas pela falta dos ditos, dos abraços, mas também, e principalmente, pela necessidade que há em sentirmos que somos gente, que gostamos de o ser, que temos que o continuar a ser, que temos que fazer por isso, por acontecer, com carne e osso, mesmo que isso nos "limpe o sebo", à custa de algumas descobertas menos esperadas e muito menos desejadas.
É preciso abraçar o próximo e o afastado. É preciso agir, sob pensa de nos transformarmos em tristes manequins, daqueles que vivem de e em montras, e cada vez mais em saldo, sem que ninguém se atreva a comprar.

Francisco Moreira

Nas costas dos outros...

Estou cheio e cansado de ver e cumprimentar rostos de barro, daqueles que não param de nos enganar com "contos e ditos", só para salvarem a própria pele, se é que ainda a têm.
Será que essas figuras não aprendem que a lama, mesmo que atirada para o ar em nome de terceiros, acaba quase sempre por lhes cair em cima, borrando ainda mais a sua já suja pintura? Será que esses seres mesquinhos não aprendem de uma vez por todas que as facturas, por mais que demorem a ser facturadas, entram sempre em processos do género: "compraste por isso terás que pagar e com juros"?
Tenho pena, muita pena, daqueles que copiam, ainda por cima na "candonga", estes seguidores do mal, estes fazedores de mentiras, estes venenosos ambulantes que mais não fazem do que esconder-se daquilo que são, esquecendo-se de reparar que "nas costas dos outros vemos as nossas".
Francisco Moreira
sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Umbigo de Deus

Um dia destes telefono para o Senhor lá de Cima, só para lhe perguntar se está tudo bem com Ele, se não precisa de nada, se lhe posso ser útil ou, quiçá, para o convidar para tomarmos um café.
Pode parecer irónico, aparentemente provocativo, mas estou em crer que mesmo Ele tem os seus dias, tem os seus azares, as suas discussões, os seus erros, as suas dores de cabeça. Mas nós, cá em baixo, responsáveis - consta-se - de muitas daquelas suas enchaquecas, somos tão egoístas que achamos que, só por Ele ter aquela "varinha mágica", não tem "contas" para pagar ou "lágrimas" para secar.
É, somos demasiado "umbiguistas", seja com Ele ou com todos os outros, aqueles que nos acompanham neste percurso de "curvas e contra-curvas".
Já alguém se perguntou porque é que não Lhe perguntam nada que não seja em jeito de reclamação?
Pois, foi o que pensei, que Ele se governe, que não temos nada a ver com isso, principalmente por não termos o que Ele tem... E o que é que Ele tem?
Terá um castelo com vista para o paraíso? Um cartão de crédito com saldo ilimitado? Um "voucher" para curar todas as doenças? Terá todo o tempo do mundo para fazer o que Lhe der na real gana?
Estou em crer que deveríamos mudar o nosso tipo de conversa com Ele, dando azo para que, pelo menos, de quando em vez, lhe perguntarmos se tem tempo para um café, só para falarmos das "modas" lá de Cima, entre uma lágrima e um sorriso.
Francisco Moreira

O mais importante do Mundo

Filho é aquele ser que nos acorda, aquela interferência que nos faz perceber à força que a vida é muito mais do que contas e obrigações, muito mais do que maquilhagem e resultados, muito mais do que falta de tempo. Pelo contrário, um filho ensina-nos a ter que ter tempo, a melhorar a nossa percepção de tempo.
Para quem é pai pela primeira vez, ou mãe, tudo se transforma, tudo passa a ser mais relativo, mais intenso, mais orgânico e menos superficial. As dores doem mais, as preocupações são mais verdadeiras, os objectivos deixam de ser os mesmos, mesmo batalhando para os continuar a conquistar.
Filho é aquele ser que nos impulsiona, que nos despe de inúmeros desperdícios, que nos embriaga com um sorriso e que nos cansa vezes sem conta até perto da exaustão. Filho é aquele gigante que no balanço final de cada instante nos comprova sempre que tudo "faz parte", que tudo vale a pena, por mais ínfimo que possa parecer.
Não é nada fácil ser-se pai ou mãe, não é nada fácil reaprender a viver, não é nada fácil resistir à pressão das novidades constantes repetidas vezes sem conta, não é nada fácil deixar de ter vida própria e poder de decisão.
Mas, e aqui está a vitória, ser-se Pai ou Mãe, mesmo quando não se entende nada do assunto, é perceber que deixamos de ser a pessoa mais importante do mundo e arredores por vontade própria, sabendo no entanto que é muito bom estar-se em segundo plano.

Francisco Moreira
quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Sabor Agridoce

Estamos a precisar urgentemente de ingerir quantidades descomunais de doces. Porquê? Porque é preciso tirar o sabor agridoce com que tantos gestos poluem os nossos dias. Reparem na quantidade de gestos negativos que são distribuídos gratuitamente sem apelo nem agravo a todos os minutos, mesmo sem que os destinatários tenham "culpa no cartório". Reparem na quantidade de "trombas" que andam por aí a exibir-se nas montras das nossas ruas, sejam elas mais vistosas ou mais pobres. Reparem na enormidade de boas acções que se deixam de fazer porque "não sei bem".
No fundo, este novo método de esconder a alegria e de gerar felicidade, nos outros e automaticamente em nós, faz com que a vontade seja engolida pelos vícios colaterais dos outros, refiro-me ao mal humorado com que nos deparamos logo ao raiar dos dias, para que não ousemos rir e sorrir, dizem, sem razões para tal.
E é assim que prosseguimos, feitos cordeiros, nesta via verde da indisposição. Porque, assumamos, mesmo que estejamos bem dispostos, para não fazer frente ao azedume nacional, é melhor mantermos os rostos fechados e dar uso à má educação.
Estamos a precisar urgentemente de mais calorias, daquelas que podem fazer mal à saúde dos negativistas deste mundo mas que - e revolta seja feita - nos engorde de coisas boas, as boas coisas da vida, aquelas que começam e acabam com sorrisos, sem maquilhagem.
Eu sei que tanta quantidade de açúcar pode fazer mal, não só pelo pelo exagero mas porque já não estamos habituados a estar rodeados de pessoas positivas, mas, convenhamos, mais vale morrer doce do que amargo, ou pior, azedo.

Francisco Moreira

Peão e a Razão

Hoje, num dia em que graças a uma campanha da STCP, se discute o comportamento dos peões nas estradas dos automóveis, apraz-me sublinhar que sou melhor peão do que condutor, embora, como a grande maioria, ande mais de carro do que a pé.
Enquanto condutor, tento ser respeitador das regras de trânsito, exceptuando os limites de velocidade dentro das localidades, algo que raramente faz equipa com o pedal do meu acelerador. No papel de peão, tento atravessar nas passadeiras, ao ponto de fazer mais uns metros para cumprir as leis. E olho, sim, olho para quem vem.
No entanto, no papel de condutor, vejo repetidas vezes o instituído poder do peão que, graças ao seu "tenho sempre razão", atravessa-se onde bem lhe apetece dando-se ao luxo de nem olhar, arvorando-se de todas as razões e mais algumas. Isto para não me referir às "bocas" que também adicionam a essa "lei pedonal".
É lógico que muitos dos inúmeros atropelamentos que acontecem, lotados de mortes, são culpa dos peões, pelo menos na maior das percentagens, e pelas razões que já referi. Contudo, no papel de peão, não são raros os exemplos contrários.
Em que ficamos? Na selva, aquela espécie de "salve-se quem puder", sendo certo que dói menos aos automobilistas.
Francisco Moreira

Recomendo Amor

Com o "puto" a preencher a agenda, e bem, torna-se cada vez mais difícil ir ao cinema, algo que aprecio imenso, principalmente quando se tratam de comédias românticas.
Hoje, aproveitando a "ausência do puto", lá fomos os dois ver um filme recomendado por uma terceira pessoa. Prometeram um romance e eu, desconfiado, achei que não teria a parte mais interessante do romance, ou seja, a comédia, mas com romance, claro.
Confesso que não ia muito esperançado em ver o que acabei de ver, principalmente por ter tido algum "azar" com as últimas escolhas, inclusive minhas. E, por outro lado, como concorrente directo, ainda bem que tenho um amigo, o Paulo Oliveira, que me vai fornecendo quantidades interessantes de películas, para que eu possa desistir daquelas que vão perdendo o interesse com o decorrer dos minutos... Coisa que, convenhamos, torna-se mais difícil de assumir numa sala de cinema.
Enganei-me. Mesmo com os primeiros minutos a conduzirem o meu pensamento para aquilo que julgava vir a ser, uma seca com fim facilmente detectável... O filme, depois de vê-lo, também tem um fim facilmente detectável, como todas as comédias românticas, mas, neste caso, há que dizê-lo, somos nós, os espectadores, que temos vontade de que assim seja, inclusive naqueles ligeiros apertos de coração em que, por segundos, sem nos apercebermos, vestimos a pele de um ou outro personagem.
"Cartas para Julieta" é um filme simples, com pouca comédia, actores razoáveis e bem conduzidos. Mas, mais do que isso, é um filme que vai agradar aos românticos, principalmente aos que são como eu.
Se o recomendo? Logicamente que sim, e sem pensar duas vezes. Não teria lógica escolher um título que não condissesse com a "perdigota", principalmente para alguém como eu que acredita nas cartas de amor e, já agora, no "Romeu e Julieta", mas com sorrisos.
Francisco Moreira
quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Espelho do Portfólio

Quem disser o contrário, perdoem, não está a ser completamente verdadeiro. Refiro-me ao envelhecer, aquele que se nota mais a partir de uma certa idade, provavelmente a minha.
O envelhecer, nem que seja pelas mazelas que oferece como brinde, preocupa-nos, e pelas mais diversas razões, seja pela dificuldade em concretizar sonhos sonhados, seja pelas responsabilidades que se assinam obrigatoriamente no calendário dos dias, ou mesmo pelo simples apressar dos ponteiros do relógio, que demonstram não terem tempo suficiente para quem vive da sua "corda".
Não penso nisso, no envelhecer, todos os santos dias, nem por perto, mas não deixo de, quando em vez, olhar olhos nos olhos para o espelho do portefólio, aquele que não pára de nos dizer o que fizemos e, principalmente, o que deixaremos de fazer, por desperdício de tempo, quando tínhamos todo o tempo do mundo.
Francisco Moreira

Montras da Moda

Começo por sublinhar que cada um sabe de si e que pode fazer o que quiser com o seu corpo, goste-se ou não. Eu não gosto. Não gosto dos "piercings", principalmente em genitais e mamilos, sem esquecer de referir que também não sou fã dos que são adicionados a outras partes do corpo. Mas, por outro lado, e contrariamente às tatuagens, sou da opinião de que se podem alterar estas montras, principalmente quando o tempo (idade) já não se ajustar às modas.
Não quero, não vou nem posso fazer uma campanha contra os "piercings" e tatuagens mas, se me permitem, não gosto, inclusive naqueles casos em que os adereços até ficam "mais ou menos", como é o caso dos umbigos e daquelas letrinhas pequenas em partes pouco visíveis da pele.

Francisco Moreira
terça-feira, 14 de setembro de 2010

Gorduras Desnecessárias

Há uns 30 anos (sim, estou velho!), não havia nada destas novas "siglas" com 3 e mais letras, aqueles nomes estranhos que nos entram pela porta, pela caixa do correio, pelo e-mail e por telefone, perdão, pelo telemóvel.
Refiro-me às ZON, às MEO, às Clix e por aí fora... Aqueles novos colossos empresariais nacionais e globais que passaram a fazer parte do nosso currículo ortográfico.
São cada vez menos os que não têm acesso às televisões com mais de 4 canais e demais inovações que não sonhávamos poderem existir, pelo menos em tão curto espaço de tempo, em tão pequenas décadas.
Poderemos dizer que tal se deve à evolução dos tempos... Mas eu prefiro chamar-lhe veia profissional, aquela que dá gás aos calcanhares criativos para arranjar maneira de nos vender mais alguma coisa, mesmo que não necessitemos dela.
Peguemos no exemplo da televisão por cabo. Quantos canais conseguimos ver mais do que 5 minutos? Não serão, em grande maioria, os mesmos das antenas de outros tempos?
Pois, mas se não tivermos o canal 4563 não nos poderemos considerar cidadãos deste mundo desenvolvido, deste mundo comercial, desta montra com "pestaninhas" de todos os cantos, inclusive do céu.
Voltando aos "menos 30 anos", mesmo sonhando com um futuro ao estilo "Espaço 1999", confesso, nunca esperei ter tanto por tanto, ou seja, nunca esperei ter tanto onde gastar, sendo que, feitas as contas, a grande fatia dessas despesas chama-se desperdício, ou se preferirem, "gorduras".
Francisco Moreira
segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Um ontem que poderia ser Hoje

Há quem diga que África tem uma espécie de magia que chama, e chama muito. A mim, confesso, nunca me chamou, mas mesmo assim, equaciono seriamente lá ir em breve para, "in loco", tentar entender aquilo de que tanto ouço falar. Dizem que é o cheiro da terra...
Por outro lado, talvez por lá ter ido ou por sempre ter sonhado lá ir, o Oriente continua a chamar-me vezes sem fim, sempre em sussurro, sempre de uma maneira calma e descontraída mas, simultâneamente, intensa, irresistivelmente apaixonante.
Nunca encontrei ninguém que me soubesse explicar o porquê de os locais nos chamarem, de nos cativarem, independentemente dos milhares de quilómetros que nos "afastam".
Serão as vidas passadas? Serão os postais que nos enviam, mesmo sem conhecermos os remetentes? Serão as energias que recusamos assimilar?
Logicamente que também sofro dos chamamentos internos, principalmente naquelas horas da despedida desses locais que o mundo me convida a visitar mas, na verdade, quando se trata de analisar o poder do chamamento, por incrível que possa parecer, o Oriente continua a fazer "estragos" naquilo que apelidamos de saudade.
Quando voltarei? Hoje seria um bom dia, apesar de o amanhã me continuar a dizer que já fui "ainda ontem".
Francisco Moreira

Rés-do-Chão

A vida de cada um tem sempre uma varanda, aquele patamar que, com tamanhos diferentes, dadas as expectativas de cada um, proporciona uma visão mais distante mas presente do que se viveu, do que se vive e do que se pretende viver.
Nas varandas choramos, recordamos, sonhamos e tomamos consciência de nós. Razão pela qual é tão importante visitá-las com frequência, com vontade e com fé.
É nas varandas que somos mais nós, é nas varandas que pensamos mais nos outros, é nas varandas que somos mais intensos, mesmo quando sonhamos com o aparentemente impossível, quando exclamamos desejos que sabemos não chegar a cumprir, quando nos assumimos como seres melhores sem o fazer por ser.
Pena é que, quando descemos dessas varandas para o rés-do-chão dos dias, esqueçamos quase automaticamente tudo aquilo que elas nos mostram, tudo o que nelas nos ensinam pura e simplesmente, julgamos, porque a vidinha não se pode dar ao luxo de ter varandas com vista para o melhor de nós.

Francisco Moreira

Foi você que Pediu - FIM

Ao longo de quase 3 meses, eu e o Alberto Rocha, sempre na companhia de câmaras, andamos a "meter-nos" com quem encontrávamos nos lugares mais emblemáticos do Porto, inclusive na praia, em pleno areal, sempre a fazer perguntas parvas, sempre à procura de reacções interessantes... E foi assim que fizemos cerca de 200 entrevistas, umas mais conseguidas do que outras, muitas delas hilariantes, emitidas no Porto Canal, 6 dias por semana.
Foi um enorme prazer fazer um programa que, e sentimo-lo pelos mais diversos meios, agradou a tanta gente. Foi um enorme prazer fazer tudo na base do improviso, e sempre com muito boa-disposição, embora sempre a correr, sempre nos intervalos entre as nossas ocupações, mas sempre com vontade e empenho.
O "Foi você que Pediu" foi um programa de verão, assim nasceu e assim se despede, mas, acima de tudo, foi um espaço de puro entretenimento televisivo que valeu a pena. Se terá continuação... Nunca se sabe, mas, para já, chegou ao Fim, e sob o signo de missão cumprida.
Francisco Moreira
sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Truques Impessoais

Os comportamentos humanos andam diferentes, radicalmente diferentes. Usamos cada vez mais "truques" para evitarmos o contacto entre humanos, procurando, no entanto - e mentindo-nos, comprometermo-nos com mais e melhores meios de fugir dos outros e, quiçá, de nós mesmos. Já repararam na quantidade de pessoas que não saem à rua sem estar de telemóvel colado ao ouvido ou ao olhar? Já repararam na quantidade pessoas que não saem à rua sem auscultadores? Já repararam na quantidade de pessoas que não vivem sem os e-mails, os "Facebook" e as outras coisas todas que servem para matar o tempo que, antigamente, era vivido entre conversas e actividades menos "falsas"?
Nos dias que correm, convenhamos, corremos para tudo o que possa ocupar o tempo que repetidamente dizemos não ter. Por isso, e assente numa perspectiva meramente ocular, feita nas ruas, chego à conclusão de que andamos a fazer de tudo para não estarmos pessoalmente com pessoas, mesmo que, com os tais "truques", tentamos a todo o custo chegar mais perto das mesmas pessoas, aquelas que, dia após dia, vamos afastando de todo, embora aproximando-as com truques de magia, da falsa.

Francisco Moreira
quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Marionetas

Acho que ando a sofrer uma transformação pessoal em termos de pensamento. Não é que pense mais do que antigamente, nada disso. Sempre dediquei boas horas da minha existência a dar "trabalho" ao "tico" e ao "teco", seja em função do passado das saudades, do presente das constatações ou do futuro dos sonhos e projectos.
Mas, nos últimos tempos, noto uma "predilecção" sobre como seremos depois da morte, como descobriremos a "luz" ou alugaremos espaço na chamada terra prometida.
Não, não estou a preparar a minha partida nem tão pouco me tenho preocupado em demasia com o que encontrarei, mas sinto que está a despertar em mim uma consciência, porventura ridícula, relativamente àquilo que nos une e desune, enquanto seres vivos, enquanto humanos, enquanto seres pensadores.
Confuso? Talvez.
Mas uma coisa é certa: estou cada vez mais convicto de que, quando passarmos a "fronteira", iremos rir-nos do que fazemos e somos aqui, já que, "lá", ficaremos esclarecidos num ápice acerca desta brincadeira que tentamos levar muito a sério, contrariando as marionetas comandadas por nós próprios, embora enquanto seres porventura não humanos mas definitivamente humanizados.
Francisco Moreira
quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Sine qua Non

Consta-se que, nos dias que correm, os alicerces da humanidade já não se regem pelos mesmos materiais de antigamente, provavelmente atacados pelo vírus das imitações baratas, importadas do oriente ou de algum outro canto qualquer.
Mesmo certo de que a vida muda, dadas as novas "oportunidades" (outras!), sou daqueles que ainda entende que nos devemos regir por valores, pela ordem, por regras, inclusive por alguma tradição. Mas... as coisas já não são assim.
Os mais novos não respeitam as idades, as regras já valem pouco, inclusive em tribunal, e as pessoas passaram a ter sarrabiscos em vez das assinaturas de antigamente.
Sim, sou daqueles (diminutos) que dá valor à palavra, mesmo sabendo que o papel é o que mais vale nos dias que correm. E fico triste, sim, triste de cada vez que vejo a ordem das coisas inverter-se, assente em pilares coloridos, muito provavelmente feitos de areia movediça quando, "no meu tempo", a pedra era condição "sine qua non".
Francisco Moreira

Scolari - Nº Sr. do Caravagio

Recordo-me de ter escrito por estas bandas, quando mandamos embora o Scolari, que ainda sentiríamos muitas saudades dele, assunto que repeti perto daquele milagre que a Dinamarca nos ofereceu aquando do apuramento para o Mundial.
Hoje, já com dois jogos no apuramento para o Europeu, essas palavras, sob a forma de fantasma, voltam a ser actuais.
Como é possível perdermos contra uma equipa com a qual nunca tínhamos perdido? Como é possível empatar em casa contra uma equipa que nunca ganha pontos? Como é possível, com apenas 2 jogos disputados, já estarmos a fazer contas à vida?
Que me perdoe a equipa técnica, no banco ou na bancada, mas assim não dá. É muito, muito mau. Principalmente quando se diz que não há dúvidas de que venceremos os próximos 6 jogos. Venceremos, certamente, se tratarem de telefonar ao Scolari e à Nª Srª do Caravagio. Ou estarão à espera que a Dinamarca nos volte a salvar?! É que, pelo andar da carruagem, já nem a Dinamarca nos retirará desta azia.

Francisco Moreira
terça-feira, 7 de setembro de 2010

Preguiça dos Ponteiros

Isto de deitar tarde e acordar às 05H30 já não condiz com o meu cartão de cidadão, no que à data de aniversário diz respeito. Menos ainda quando, talvez com o receio de adormecer (maldita responsabilidade patente e latente!), tenho acordado 1 hora e meia mais cedo do que o necessário.
Para "complicar" ainda mais, fico sem entender o porquê de, com estradas sem trânsito, circular sempre em excesso de velocidade, embora refreando o acelerador em tudo quanto é semáforos verdes (não se sabe quem sofre de miopia àquela hora!), chegando ao destino 30 minutos antes do horário previsto.
Há uns valentes anos, para que se conste, fiz isto diariamente, ao longo de quase 3 anos, deitando-me às 02H00 para acordar às 05h00... Mas hoje, com o tal cartão de cidadão a puxar pelos colarinhos, percebo que tudo vai mudando, principalmente quando o relógio teima em espreguiçar-se ao longo de todo o dia, como que a assumir que já não tenho "ponteiros" para estas coisas.
Francisco Moreira
segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Ímpares Tresmalhados

Sei que não o faremos, mas sinto que temos que começar a desligar mais vezes as televisões, principalmente as dos restaurantes onde vamos, as das lojas onde fazemos compras, as das feiras onde passeamos, as que vamos desejando ver nos nossos automóveis e telemóveis.
A televisão está em todo o lado, ao ponto de fazer-nos interromper quase tudo o que possamos estar a fazer ou pensar fazer para dar uma "espreitadela", daquelas de segundos que, claro, acabam por se transformar em minutos e horas.
Estou em crer que com esta mania de se ter em todas as esquinas um guião opinativo, vulgo televisão, estamos a perder cada vez mais tempo com as tragédias dos outros, estamos a passar-nos para um plano secundário, ao ponto de deixarmos de viver a nossa vida para "viver" as dos outros.
Por mais comandos que tenhamos, passamos o nosso tempo a ver o que nos impingem, ao ponto de - e aqui é que está a ironia! - não comandarmos nada, pelo contrário, somos completamente comandados pela agenda informativa ou opinativa de terceiros, os verdadeiros donos dos comandos.
Estamos viciados em televisão, tendo sempre que saber (urgentemente) o que está acontecer, seja na China ou no Paquistão, no Porto ou em Bragança, na nossa rua ou no nosso prédio. O importante é estar-se a par, mesmo que isso possa, sem repararmos, transformar-nos em ímpares, daqueles que parecem ovelhas, tresmalhadas da vida, da nossa própria vida.

Francisco Moreira
sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Taxistas ao Parlamento

Nunca andei muito de táxi, mas lá fiz as minhas viagens, a contar a ouvir histórias e historinhas, algumas dignas do "arco da velha".
Que enciclopédias terão os taxistas para contar ao mundo, ao verdadeiro, e não ao dos jornais? Que episódios viverão os taxistas, mesmo retirando aquelas tristes peripécias que aparecem nos jornais? Que certezas terão eles conquistado com os seus "estudos de mercado"? Que decisões tomariam se fossem poder?
Imagino que haverá histórias para todos os gostos e desgostos, já que transportam um excelente naipe de exemplos do que somos, pensamos e sentimos, transformando-se num dos melhores "censos" de sempre, e sempre em actualização ao minuto.
Sou daqueles que acreditam que, sempre que haja algo de importante a decidir, deve-se consultar os taxistas, já que, concordemos ou não, eles são, certamente, das pessoas que melhor percepção têm do que acontece e como acontece, e, já agora, não menos importante, os taxistas são a melhor urna de votos, embora ambulante e (ainda) sem direito a assento parlamentar.

Francisco Moreira
quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Quem vê caras...

O mundo está cheio de bonecas, ao ponto de, não raras vezes, chegar a achar que voltamos à idade dos brinquedos, neste caso sérios, há que sublinhá-lo. Ainda há instantes, numa daquelas viagens a olhar para o que por mim passa, vi mais uma série delas, todas produzidas, todas maquilhadas, todas com ar juvenil, ou pelo menos tentando.
Claro que, em muitos dos casos, olhando um pouco melhor, percebe-se que o esboço fica aquém daquilo que o olhar assimila, já que não falta quem decepcione ao segundo instante. Mas, verdade seja dita, se o objectivo é dar nas vistas, nem que seja num primeiro instante, conseguem. Pena é que a "prova dos nove" comprove algo contrário, principalmente quando abrem a boca, ou não.
Mas é giro, é giro ver estas "bonecas" dos tempos que correm, sempre na procura de novos apêndices, que permitam cativar o maior número de olhares possível.
Será suficiente para alimentar o e ego? O delas? Presumo que sim, tamanho é o investimento, por vezes bizarro, com que se publicitam.

Francisco Moreira

Parêntesis e dois Pontos

Nos dias que correm, muito graças aos telemóveis, tenham eles mensagens grátis ou ao custo de "couro e cabelo", passamos, infelizmente, para a era do dizer por interposta "pessoa", neste caso por interposta "coisa".
Já repararam que os convites, inclusive os mais importantes, já se fazem por mensagem de telemóvel? Já repararam que se despede por mensagem de telemóvel? Já repararam que se anunciam separações por mensagem de telemóvel? Já repararam que se medicam pessoas por mensagem de telemóvel? Já repararam que se "vai ao banco" por mensagem de telemóvel? Já repararam que se falha no Euromilhões por mensagem de telemóvel? Já repararam que se faz quase tudo, inclusive isso, por mensagem de telemóvel?
Muitos dirão que "ainda bem", que tudo está mais simples. E é um facto, mesmo com erros ortográficos de fazerem corar este mundo e outro mas, por outro lado, será assim tão interessante trocar um beijo, no rosto ou noutra parte qualquer, por um "smile", ainda por cima escrito com um parêntesis e dois pontos, para poupar caracteres?

Francisco Moreira

Estou a Precisar

Todos nos referimos a férias ao longo dos 365 dias do ano, inclusive em período de férias. Ou seja, tecnicamente, gostaríamos de estar em férias inclusive nas férias. E, com isto, não estou a dizer que, em férias, as pessoas pensam em tirar férias das férias, mas já pensam na altura das próximas férias, como se já não estivessem em férias.
Em resumo, e ao contrário do que andamos o ano todo a dizer, ou melhor, a queixarmo-nos, se porventura tivéssemos férias todo o ano, certamente que passaríamos o ano a reclamar de outra coisa qualquer, nem que fosse a necessidade de trabalhar.
Será que o ser humano, para se sentir verdadeiramente inserido numa comunidade, tem obrigatoriamente que passar a vida a queixar-se de tudo e de nada?
Sim, claro que há quem não se queixe assim tanto, principalmente em férias, mas, se virmos bem as coisas, estou em crer que mesmo esses passam a maior parte do ano a usar o "estou a precisar", seguido de "qualquer coisa".
Francisco Moreira
quarta-feira, 1 de setembro de 2010

O Você das Palavras

Quem passa por aqui ou me conhece de outras "bandas" facilmente assimila que adoro escrever, que é um dos meus maiores prazeres, principalmente por escrever sempre no "fio da navalha", com incongruências e alguma ingenuidade, mas sempre autêntico, no que diz respeito aos sentires.
Adoro brincar com as palavras, tentando quase sempre levá-las a conseguirem exactidão ou, de quando em vez, abordagens mais filosóficas, sempre na tentativa de colocar a pensar quem perde tempo a lê-las, inclusive eu mesmo. Sim, também me leio, vezes mil, embora tentando sempre resistir às naturais e quase incontroláveis correcções e acréscimos.
Não menos bizarro, para alguém que tanto escreve como eu, é o facto de continuar a não ter hábitos de leitura, exceptuando a imprensa escrita e pouco mais. Razão pela qual, hoje, me coloco uma pergunta: como é possível ter tanta paciência para escrever e não ter nenhuma para ler?
Gostaria imenso de alterar esta fórmula errada de tratar as palavras por tu quando, na verdade, no que toca a familiares delas - das palavras, não consigo ultrapassar a barreira do você.

Francisco Moreira

Ainda tens janela?

Uma das perguntas que mais deveríamos colocar a nós próprios com bastante frequência seria esta: - O que vês da tua janela?
E com essa pergunta, feita as vezes que fossem necessárias, até aprendermos, teríamos como disciplina olhar mais e melhor à nossa volta, não só para aprender com os erros dos outros mas, acima de tudo, reaprender a sentir, reaprender a cheirar, reaprender a ouvir, reaprender a viver.
Eu sei, eu sei que, hoje em dia, as janelas ficam uns andares acima e que não temos grandes hipóteses de cumprimentar quem passa lá em baixo mas, ao menos, mesmo à distância, poderíamos, de uma vez por todas, ganhar vontade, daquela com gestos, para descer o elevador e fazer parte do mundo, aquele que, afinal, tem outras pessoas, outros costumes, outras vivências, menos televisivas.

Francisco Moreira

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Sempre algures entre o hoje e o amanhã, sem esquecer a memória.

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