domingo, 5 de maio de 2013

“Falta-me”


“Falta-me”

Não há dia em que não me faça muita falta esse seu ser mãe e pai ao mesmo tempo, esse seu ser mais do que sábia, mesmo sem livros.

Não há dia em que não me faça muita falta essa sua coragem para se ir mais longe, esse acreditar em mim maior do que o meu.

Não há dia em que não me faça muita falta esse seu aconchego irrepetível, por mais que o sempre – sabíamo-lo. - fosse uma ilusão.

Não há dia em que não me faça muita falta esse seu cume de referência, sabendo que você estaria por mim como mais ninguém.

Não há dia em que não me faça muita falta esse seu enxugar das lágrimas, incluindo estas que verto pela tanta falta que você, Mãe, me faz.

Francisco Moreira
sábado, 27 de abril de 2013

“What’s up?!”



Decorria o ano de 1992, se não estou em erro, e enquanto director de programas de uma Rádio, apaixonei-me por uma canção logo à primeira “escutadela”. E apaixonei-me sem conhecer minimamente o artista em questão e sem que o disco viesse com um qualquer “post it” a destacá-lo. Ouvi-o e, pronto, ficou.

Numa altura em que me chegavam às mãos dezenas de discos por semana, escolher aqueles que mereceriam estar no nosso TOP de apostas, convenhamos, não era uma tarefa fácil, não só pela oferta exagerada mas também pelos pedidos das editoras discográficas e, claro, pelos nomes de peso que muitos dos artistas (nacionais e estrangeiros) tinham, algo que, como era e ainda é lógico, abria-lhes portas para merecerem maior evidência na hora da selecção das canções que mais iriam tocar.

No meio de mais uma catrefada de cd’s-single, além dos cd-álbum, cruzei-me com um “What’s up?!” de uns tais de “4 Non Blondes”, canção que, eventualmente, seria mais uma a catalogar e a atirar para a prateleira dos discos que nunca chegam a acontecer, feliz ou infelizmente, dependendo da perspectiva.

Contudo, nem que fosse em simultâneo com outros afazeres, tentei sempre ouvir todas as canções que me chegavam às mãos, viessem por que meio viessem, e por mais que as tivesse que “desligar” ao fim de uns segundos, por já não as suportar.

“What’s up?!” funcionou ao contrário. Entrou(-me) imediatamente e implantou-se nos meus ouvidos, mesmo sem saber porquê e sem que houvesse uma correlação entre a letra e eventuais estados de espírito. Obrigou-me a ouvi-la em versão “repeat” vezes sem conta. E “pior” do que isso, consegui obrigar-me a fazer algo que, em anos, nunca aconteceu: colocar uma canção directamente no Nº1 do TOP de apostas musicais. Sim, “What’s up?!” foi directamente para a meta sem passar pela casa de partida.

A rádio onde estava foi a primeira a apostar seriamente na canção e isso, umas semanas depois, mereceu página no Diário de Notícias. E dessa notícia retenho uma frase, principalmente de cada vez que ouço “What’s up?!”: “há pessoas nas rádios que têm um “je ne sais quoi” que lhes permite descobrir sucessos em canções que, aparentemente, deveriam passar despercebidas”.

Obviamente que soube bem ler aquilo, mais ainda quando a referência vinha “assinada”, mesmo sabendo que, antes de mim, e pelo mundo inteiro, foram muitos os outros que, tal como eu, entenderam que aquela canção era tal, a tal “What’s up?!” que merecia ser Nº1, mesmo que aparecendo sem ter acoplado qualquer “post-it” da editora.

Kiko
domingo, 21 de abril de 2013

“Bandeira”


Sou daquele tempo em que ir ao futebol significava sentarmo-nos em bancos de pedra ou de cimento, ou não nos sentarmos, por o bilhete não proporcionar esse privilégio.

Em 1980, 1981 e 1982, vagueei entre os campos do Valadares e Coimbrões (a Madalena, meu ninho, não tinha equipa de futebol) e pelo estádio das Antas (mesmo sendo do clube rival). E naquela altura o futebol era ao Domingo à tarde. Só muito especialmente é que os jogos aconteciam fora desse dia, coisa que as audiências televisivas, felizmente, acrescento – se se retirar o lado romântico da coisa., vieram alterar significativamente.

Tenho a ideia de que naquela altura o futebol era mais interessante, inclusive às 4ªs e 5ªs Feiras, com a Taça dos Campeões, Taça das Taças e Taça UEFA, mesmo sem a imponência mediática dos dias de hoje. O futebol era mais giro, e muito menos violento, estou em crer. (mesmo naqueles casos em que os amigos se separavam por causa do “roubo” que era ou não era consoante o lado que se “vestia”)

Naqueles inícios da década de 80, no cirquinho dos jogos de futebol, fossem eles da terra ou do país, um dos pontos mais interessantes era ter-se uma bandeira, ou melhor, usar-se uma bandeira, especialmente no festejar de um golo ou na entrada da nossa equipa.

Lembro-me de como me soube bem ter a primeira bandeira do meu clube (um dos que jogarão daqui a pouco – risos), e como foi especial transportá-la pelas ruas, no autocarro, mesmo sendo de um clube que não era o mais apreciado na região norte.

E a bandeira era tão, mas tão emblemática, inclusive em termos auto-identificativos que, se bem me lembro, num dos anos em que fomos campeões, fiz questão de a pendurar à porta de casa, e com orgulho, mas sem malícia, sem querer importunar ou provocar, coisa que actualmente é difícil de aceitar, mais ainda quando, na verdade, já quase não existem bandeiras, dentro e fora dos estádios.
E é uma pena já só se verem bandeiras nas claques organizadas, principalmente porque, por mais colorido que o organizado se apresente, não há nada mais interessante do que ver as bandeiras ao vento, principalmente quando o vento sopra a favor dos nossos e, já agora, quando são milhares ao mesmo tempo, e mesmo que em coreografias não ensaiadas.

Ah! Os cachecóis também se usavam, e o meu primeiro cachecol foi feito pela minha mãe. Não, não tinha logótipo. E não, não era daquele tecido sintético que transportamos na mala do carro, para quando é necessário tirar-lhe o pó.

Kiko


quarta-feira, 17 de abril de 2013

Vendaval Social


Vendaval Social

Só me chegam noticiários excessivamente cinzentos…
E os outros canais só me repetem repetições…
Que novela é esta, servida em índices de terror sem fim?
Estará a humanidade a morrer ou a suicidar-se?
Não entendo. Não nos entendo!
Será que há quem nos queira hibernar?
Quem nos injectou as prestações das circunstâncias?
Ter-nos- emos vendido ao dinheiro que nunca foi nosso? 
Estamos melhores? Encontramos o paraíso?
Ficamos lindos e seremos felizes para sempre?
(Alguém liga o interruptor, por favor!?)
É quando saímos do sofá que mais nos perguntamos:
- Que vendaval foi este que nos podou até ao tutano? 
Será que os ecrãs mostraram ou nunca quisemos ver?
As ruas a sério dizem que já não somos os mesmos, 
que já nem sabemos quem queremos ser, 
porque até o sorriso, outrora gratuito, tem débito.
Maldita televisão!
Ouço comentarem que o autocarro passou… 
E que nós ficamos na manta do “para aqui”, de comando na mão…
E por mais que pressionemos os botões multicanal, 
na verdade da verdade, nada muda, além dos intervalos: 
aqueles 15 minutos em que sonhamos com quem éramos,
por já quase não termos com o que nos envaidecer.

Francisco Moreira

domingo, 14 de abril de 2013

“Tarzan”



Estou em crer de que o primeiro super-herói que tentei interiorizar como sendo real e possível de copiar, apesar de viver numa selva a preto e branco trazida pela RTP, foi o Tarzan.

Sim, eu sei que estou a cometer um erro enorme ao afirmar que o Tarzan era um super-herói quando, na verdade, ele não tinha capa nem fato especial, mas sim uma espécie de cuecas rasgadas.

Naquela década de 70, certamente que muitos, tal como eu, tentaram imitar aquele grito inconfundível. E como eu o treinei, ao grito. Sim, imitei-o vezes sem conta, e penso que me aproximei imenso do original, por mais ridículo que fosse abrir os pulmões e emiti-lo, principalmente fora das quatro paredes onde a televisão mo apresentava, semana sim, semana sim.

O Tarzan não era um super-herói de desenhos animados, pelo contrário: era mais do que o Super-Homem, era muito mais do que o Homem-Aranha, era mais do que todos os outros com quem me cruzei ao longo dos anos.

Sim, o Tarzan existia, e existia mesmo, mesmo que vivesse numa selva distante, porventura numa Amazónia qualquer, daquelas onde só se chegaria de hidroavião e se, quando lá chegássemos, saltássemos de paraquedas.

E, dissessem o que dissessem, o Tarzan era o homem mais forte do mundo. E mais interessante do que isso: para ser o mais forte do mundo, e para derrotar todos os maus que lhe pudessem aparecer pelo caminho, ele era de carne e osso, não necessitando de roupas especiais e muito menos de adereços ou qualidades mágicas para conseguir os seus fins: salvar o mundo, mesmo que esse mundo fosse tão só aquela selva distante. (quantas vezes imaginei que o pinhal perto de minha casa seria um bom local para o Tarzan, mesmo sem o ser)

Por outro lado, e pensando melhor, acho que o Tarzan não era um super-herói. Era apenas um homem normal, que se perdeu de casa, quando, eventualmente, foi comprar tabaco, e que tinha o dom de resolver os problemas saltando de árvore em árvore, e pouco mais do que isso.

Contudo, mesmo perante essa verdade incontornável, a de que o Tarzan era apenas um homem mais forte do que o normal, hoje, em “homenagem” a essas inúmeras horas que passei (passamos) em frente à televisão a apreciar os seus feitos, investido de poderes inexistente, estabeleço que o Tarzan era um super-herói, ou ainda melhor, foi o super-herói dos super-heróis, pura e simplesmente porque não precisava de poderes especiais para fazer tudo o que os outros super-heróis faziam, ponto.

Não, não vale a pena contra-argumentarem, pelo menos por agora. (sorrisos)

Kiko
quinta-feira, 4 de abril de 2013

“Telejornal”



Lá para as décadas de 70 e 80, as notícias bombásticas, ou seja, quase todas, porque não existia termo de comparação com canais estrangeiros e muito menos com concorrência, eram emitidas e apresentadas às 20 horas em ponto no único “Telejornal”.

Hoje, décadas depois, como em tantas outras coisas, na televisão já nada é igual ao que era. E uma demissão governamental, se é que existiam com regularidade, eventualmente, não apareceria a abrir um “Telejornal” nem teria a oportunidade de interromper a emissão de qualquer um dos dois canais. Na verdade, não interromperia o pior dos programas nem teria acesso a transformar-se em rodapé informativo, se é que já existiam na altura, algo do qual a minha memória duvida, e muito!

O “Telejornal” era, sem dúvida, o momento por excelência do algum silêncio familiar, por mais barulho que os talheres fizessem ao encontrar os pratos, já que as notícias eram apresentadas à hora da reunião à mesa. Quem se atreveria a jantar depois das 20 horas!? Quem!? Algum lunático, certamente, já que, a essa hora, as ruas estavam vazias e os autocarros viajavam sem passageiros.

Apesar de, actualmente, estarmos circundados por canais televisivos informativos, os noticiários tinham uma importância maior do que a que têm hoje, e isso permitia que “comêssemos o que nos entrava pelos olhos e ouvidos”, tudo seleccionado por quem domava os editoriais da altura, ao ponto de, por exemplo, a parte mais expressiva da oposição a um governo merecer uns míseros segundos de antena, só para se provar que a democracia existia, que haviam outras opiniões…

A voz do povo, outra “undergrounduzidade” daqueles tempos, era captada em temas menos sensíveis, menos políticos, tão só.

- Alguém se lembra de ter visto um “Telejornal” a abrir com a notícia da demissão de um ministro?

Não. Mal se sabiam os nomes deles, os pelouros, onde estavam. E, claro, presumia-se que todos eram doutores. (Sê-lo-iam?!)

- Alguém se lembra de um jornalista ter entrevistado um popular na televisão investido de “opinion maker” sobre a demissão de um ministro?

Não. Mal se viam telespectadores nas televisões, a não ser nos programas de entretenimento. (Para quê entrevista-los, já que, mal se lhes apresentava um microfone começavam a chorar, e sem saber porquê?!)

Pois, tal como se percebe, as coisas ficaram bem diferentes com o decorrer dos anos. E, de repente, qualquer um de nós pode investir-se de visionário, cartomante, astrólogo, vidente ou viciado em sites de apostas online para jurar que, daqui a pouco, todos os “Telejornais” abrirão com a espantosa notícia de que um ministro se demitiu. E mais ainda: todos já saberemos o que fez, deixou de fazer e, já agora, que ceroulas usa à 5ª feira.

Porque é que sabemos tanto? Porque, ao contrário de antigamente, estudamos (piada de mau gosto) nos “iPhone”, “Tablet” e “LCD”.

Pois. E melhor ainda, ao contrário do passado, daqui a pouco, quando estivermos a vero “Telejornal” (esteja ele travestido com que nome estiver), na verdade, esta notícia em concreto saberá a “dejá vu”, porque já todos sabemos qual é, ao contrário daquela altura em que se aguardava ansiosamente pela notícia do dia, ou melhor, da noite.

Kiko
terça-feira, 2 de abril de 2013

“Cowboys”



Estou certo de que todos, enquanto crianças, já fomos cowboys, pelo menos durante um dia. Todos imaginamos índios ou outros “adversários” perigosos para, de pistola em punho, fosse ela de plástico ou simplesmente o indicador de uma ou das duas mãos, disparar uma série de tiros, saindo sempre vencedores, e sem jorrar uma única gota de sangue.

Lembro-me vagamente do dia em que tive finalmente acesso a uma pistola “a sério”, com coldre e tudo. Foi um momento de felicidade imensa, já que foi muito desejado e ainda mais esperado, ou seja, em função do que deliberava o porta-moedas da minha mãe, normalmente muito pouco recheado. Outros tempos, claro!

Nesse tal dia, estou em crer, devo ter “morto” uns 1000 índios, umas 3 sardoniscas, uns 20 automóveis que, eventualmente, terão passado pela frente daquela minha arma de plástico e, já agora, uns 3 ou 4 vizinhos, gostasse mais ou menos deles. Devem ter dado jeito à fantasia, calculo!

Naquela altura, ao contrário do hoje, e por razões que se entendem, não era mau dar-se uma pistola a uma criança, pelo contrário: ao dar-lha, estar-se-ia a provocar felicidade, e sem o receio de que viessem a transformar-se em assassinos ou assaltantes já que, se bem me lembro, pistolas só (quase) as tinham os polícias e os militares.

Os tempos mudaram. E mudaram muito.

As pistolas, mesmo as de plástico, pelo que vou vendo, são mais sofisticadas, algumas até disparam mesmo, embora outro tipo de “munições”, por mais protegidas que estejam pelas leis comunitárias e internacionais.

Por outro lado, os cowboys, actualmente, evoluíram para seres monstruosos que, vindos de outras galáxias directamente para os hipermercados e outras plataformas menos reais, necessitam de mais do que uma bala para morrerem, isto sem esquecer a dose de menor imaginação que é necessária (os desenhos explicam tudo).

Não tenho reparado se as feiras, o lugar onde se compravam as pistolas na década de 70, ainda as vendem, com os coldres e, já agora, com o cavalo em relevo no punho. E, já agora, se ainda existem aqueles espingardas com uma pequena rolha amarrada a um fio, que permitia a existência de munições infindáveis.

A saudade do brincar aos cowboys, mesmo que em versão a solo na maior parte das vezes, mantém-se. Embora, para a recuperar em termos de visualização, tenha que se recorrer ao “Google”, porque, pistolas, só com laser, já que os cowboys extinguiram-se e fomos invadidos por “Gormitis”, um mero exemplo dos novos heróis, para o bem ou para o mal, dependendo dos pontos de vista, e da idade, claro.

Kiko
domingo, 31 de março de 2013

“Ovos de Páscoa”


Numa era em que a Páscoa não vivia de montras e muito menos da pressa em se pegar no comando para “zappingar” o que os canais televisivos compram, ou seja, o nosso tempo, improvisavam-se ovos de Páscoa: a grande novidade de todos os anos, além das amêndoas de uma, duas ou três qualidades.

Os ovos de Páscoa eram, imagine-se, ovos verdadeiros. E procuravam-se os maiores, para se conseguir um resultado final mais vistoso. 

Que ovos eram esses, afinal?! – perguntar-se-á quem não passou pela experiência, todos aqueles que presumem que os ovos de Páscoa são em chocolate, que têm um papel de embrulho colorido e metalizado e, não raras vezes, que trazem um brinquedo em jeito de brinde. 

Os ovos de Páscoa na década de 70, quando não se possuía galinheiro, eram trazidos, no meu caso, da loja do Sr. Eduardo. 

E já que era Páscoa, contrariamente ao habitual, em vez de meia-dúzia, pedia-se uma dúzia inteira. 

Depois, eram cozidos, como qualquer ovo normal, mas com uma enorme diferença: evitava-se que a casca partisse ou estalasse e, quando arrefeciam, eram pintados manualmente com canetas de feltro, daquelas “Molin”. 

Os desenhos, algo rupestres, poderiam ser dignos de uma exposição ridícula, mas o que realmente contava era a cor que aqueles ovos pintados davam às mesas onde, reunidos em família, celebrávamos a união, a família, o estar-se junto, o acontecer-se com mais “vida real”.

Naqueles domingos, os tais ovos ficavam expostos, admirando toda a refeição, culminando o momento com a parte do descascá-los, sem esquecer de escolher aquele que, através da pintura, mais nos tinha cativado a atenção.

Claro que, ao descascá-los, lá se ia a imagem lá pintada, mas, para compensar, enquanto se comia a clara e a gema, cozidas, claro, ficava-se feliz por, simplesmente, saborear aqueles momentos, os quais, sinto, eram mais coloridos do que os que se vivem hoje, e por mais tinta que fosse retirada aos marcadores “Molin”.

Kiko

• Hoje, a minha irmã Manuel entendeu recuperar essa “modalidade” dos ovos de Páscoa em jeito de homenagem à minha mãe, a pessoa que mais fazia questão de usar os ovos como pretexto para dar cor a uma era algo cinzenta em oferta mas colorida em conteúdo. E ainda bem.

domingo, 24 de março de 2013

“Discos Pedidos”


Na década de 70, sem a actual envolvência sufocante das televisões – na altura muitos lares ainda só tinham “ouvido falar” da caixinha mágica., a rádio era a companhia mais interessante, a melhor companheira, a ligação ao resto do mundo, ao ponto de estar sintonizada na mesma frequência anos a fio, e essa frequência passava essencialmente pela Rádio Renascença, a líder absoluta em termos de audiências, principalmente por não haver grande concorrência, nem tão pouco das estações piratas, as quais ainda estavam a uns valentes anos de darem nas vistas, ou melhor, de darem nos ouvidos.

O programa mais apreciado - ou pelo menos o mais falado - era o dos “Discos Pedidos”, com frase ou sem frase, mas com canções insuportáveis que acabavam por obrigar-nos a decorá-las – pela via da repetição – e todas as outras canções, aquelas que mereciam que nos déssemos ao trabalho de colocar uma cassete “BASF” no gravador, para a conseguir “pescar”, e de preferência sem a voz do locutor, aquele “intruso” que amiúdas vezes ficava acoplado às canções, as tais que, depois de “pescadas”, ouvíamos vezes sem conta, nem que para isso fosse necessário usar a fita-cola para unir as partes da fita castanha das cassetes que, por tanto se usar, acabava por partir. Era “um trabalho e pêras”!

Obviamente que a década de 70 pouco tem a ver com a década presente, e 40 anos é tempo suficiente para transformar gostos, hábitos e muitas outras coisas… Mas há sempre algo que fica, por mais diferente que possa parecer e/ou aparecer. E refiro-me em concreto aos “Discos Pedidos”, aquelas canções, mais recentes ou mais antigas, que continuam a ser pedidas e dedicadas vezes sem conta, porque a fórmula mantém-se, seja com recurso a um telefonema, um SMS, a um e-mail ou a um comentário no Facebook, e tenha o pedido frase obrigatória ou não, seja a rádio mais ou menos famosa, mais ou menos sintonizada.

E enganam-se aqueles que acham que os “Discos Pedidos” são um divertimento dos “velhos”, já que, por mais “Internetes” ou “iPodes” que apareçam, a fórmula do telefonar-se para a rádio para se ouvir a própria voz e dedicar uma canção a uma infindável lista de familiares e conhecidos mantém-se e promete continuar, mesmo que as rádios corram rapidamente para locutores virtuais ou mesmo que as rádios deixem de existir na plataforma que ainda é a mais utilizada; o éter.  

E por falar em frase, permitam que vos dedique uma canção, imaginando-me em 1978, com 8 anos de idade:

- Olá, eu sou o Kiko e quero ouvir a canção “Dai-li-dou” dos Gemini ao futuro, o futuro onde algumas pessoas ouvirão esta canção num computador ao jeito do “Espaço 1999”. Obrigado.

Kiko
sábado, 16 de março de 2013

“Sair à Noite”


O sair-se à noite, bem no início da década de 80, para a minha (nossa) geração, era porventura um momento digno de ficar registado no para sempre da memória, tamanha era a ansiedade, o receio de fazer má figura, o não saber o que fazer, o que vestir, o que dizer, como dar um ar adulto, embora tendo 11 ou 12 anos de idade, por aí… Mas era excessivamente importante, era quase como perder a virgindade, embora num contexto público e não privado, embora muito menos preocupante, não deixando de ser ridiculamente enervante. (sorrisos)

E o que me leva a fazer as palavras deambularem por esta minha primeira saída à noite é o facto de, por mais que me esforce, não me conseguir lembrar do local onde terei ido, do que terá acontecido de marcante, por aí, e apetece-me, quanto mais não seja para conseguir definir e avaliar as impressões que tive na altura. (esta cabeça já não é o que era! – risos)

Obviamente – e penso que será comum a todos. – que a primeira saída à noite foi à tarde, porque era à tarde que se começava a sair à noite. (ponto)

Confuso? Bizarro? Português maltratado? 

Nada disso. Na verdade, as saídas começavam à tarde, fosse por ser mais fácil conseguir-se autorização dos encarregados de educação, fosse porque, naquele tempo, haviam formas de transformar as tardes em noites, mesmo que se entrasse em “pseudo-discotecas” (“escurizadas”) à tarde e se saísse ainda com a luz do dia a raiar, no fuso do verão, claro.

Mas em termos de saída à noite, com noite, como não me consigo lembrar, vou inventar um espaço e tentar transportar-me para essa altura, sendo que, se bem me conheço, não estarei muito longe do que terá realmente acontecido.

Imagino que os meus amigos mais velhos, não muito, mas mais velhos, terão convencido a minha mãe de que iríamos ao cinema, porventura à sessão da meia-noite, porque o tal filme só daria àquela hora. Depois, acredito que apanhamos o autocarro, fomos a um café mais frequentado para “fazer horas” e, sempre a olhar para o relógio, ao jeito de “Cinderelo”, muito provavelmente teremos arrancado para uma discoteca, o local mor das imaginadas saídas à noite. Isto, claro, sem esquecer a preocupação latente pela (in)certeza de o porteiro (não) me deixar entrar, por (efectivamente) não aparentar ter 16 anos – a idade minimamente aceitável, longe disso. 

Depois de entrar na tal discoteca, fosse ela o “ArsNova” (é assim que se escreve?), a “Rock’s” ou outra qualquer (eventualmente um bar onde também se dançasse), certamente que me senti mais adulto do que nunca, mesmo que tenha pedido uma ou duas Coca-Colas com muito gelo, eventualmente na expectativa de que, quem me visse, imaginasse que o copo também teria whisky. (santa ignorância) 

Estou em crer de que passei aquelas duas ou três horas a olhar para tudo e mais alguma coisa e, muito provavelmente, devo ter-me sentido deslocado, para não dizer deslocadíssimo. 

Imagino também que, acossado pelos amigos, eles já com mais experiência noctívaga, devo ter tentado fazer “olhinhos” a uma miúda mais ou menos gira, a qual certamente me ignorou. (claro que, oficialmente, devo ter dito que fui correspondido, para não ficar mal)

Depois de ter dado a entender que dancei, sem o ter feito, por não saber e por ter uma vergonha eventualmente insuportável, acredito que terá começado o contra-relógio do: “vamos embora”, porque a sessão cinematográfica inventada já se teria despedido, e eu sempre tive a mania de ser cumpridor, quanto mais não fosse para garantir autorização para próximas investidas naquele novo mundo, o tão sonhado e desejado mundo da noite.

Em jeito de conclusão desta minha primeira saída à noite, embora não me lembre dela - repito, estou em crer de que: entre o último autocarro, um táxi ou “penantes”, deve ter sido um regresso a casa com muitas histórias conversadas, a maior parte delas inventadas, sonhadas ou desejadas, já que, em resumo, aquela primeira vez certamente que não foi mais do que um par de Coca-Colas com muito gelo, uma vergonha escondida pelas luzes da bola de espelhos e um mar de perspectivas que se abriram pura e simplesmente por ter aval de um porteiro de discoteca, dissesse o que dissesse o bilhete de identidade. 

Kiko
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

“Carrinhos”


O mundo dos carros de brincar – aqueles “pequenititos”., presumo eu, é uma espécie de local encantado na mente de qualquer criança. E era-o também no meu outro tempo, naquele dos meus 4, 5 e 6 anos de idade. 

Ai, que saudade! (É bom ter-se saudade, certo?!)

As posses familiares não permitiam grandes investimentos em brinquedos, nem tão pouco existia uma oferta tão vasta e aprimorada como a que escorre pelos espaços comerciais que encontramos ao virar de cada esquina, neste 2013. 

Ter-se um brinquedo, era quase um luxo, por mais barato e “insignificante” que fosse esse exemplar. E não me lembro de ter entrado em quartos de outras crianças – as que tinham quartos “unipessoais” eram muito poucas, ou nenhumas. – e ter dado de caras com “n” brinquedos.

Naqueles meados da década de 70, os brinquedos duravam muito tempo, mesmo muito, e os exemplares de maior “quilate”, convenhamos, apareciam quando se fazia anos ou quando o Pai Natal entendia visitar-nos. 

Sim, era assim. E, eventualmente, dávamos aos brinquedos o valor que as crianças de hoje já não dão… principalmente ao fim de 3 minutos, se tanto!

Sim, eu sei! Os tempos são outros, e há brinquedos para todos os bolsos, sejam eles - os brinquedos. - Chineses ou Franceses... (Naquela altura brincávamos muito com exemplares Portugueses, dos em madeira, pintados com tinta "normal", comprados geralmente em festas e romarias.)

Mas voltemos aos “carrinhos”, aqueles bem pequenos que, quase religiosamente, me eram oferecidos numa escolha demorada (só podia trazer um) no quiosque do café Embaixador, ali para os lados dos Aliados. 

Era regra que, em cada Domingo que lá fosse lanchar, seria presenteado com essa benesse em nome do "portar-me bem"... Mas mesmo sendo só um, ele, o tal, conseguia preencher e bem o resto da semana, ou mesmo das semanas que se seguiam. Era um prazer poder brincar com um brinquedo "novo a estrear", por mais pequenos que fosse. E era-o. 

Colecção?! Não, nada disso. Não tive assim tantos. Mas cada um deles foi especial, principalmente naquela parte do sonho… E como eu sonhava com o dia em que teria um carro verdadeiro, mesmo que fosse o menos bom exemplar de todos e por mais diferente que fosse daquelas miniaturas topo de gama. 

Saudade?

Sim, e principalmente de brincar, como se o amanhã ainda fosse um dia demasiado longínquo para merecer qualquer tipo de preocupações ou deliberações. (sorrisos)

Kiko
domingo, 24 de fevereiro de 2013

“Facão”


Lá nos finais da década de 70 e inícios da década de 80, uma das experiências que - infelizmente - me ficaram por concretizar (até hoje) foi a de querer ter sido e de não ter chegada a ser escuteiro. 

É, vá-se lá saber porquê, naquela infância de sonhos, nunca me cruzei com ninguém que me abrisse a via para ser escuteiro. 

E numa altura em que se celebra o escutismo (algo que respeito imenso, mesmo sem saber quase nada da “poda”), recuo umas boas décadas no tempo para lembrar que admirava imenso ter usado aqueles trajes, aquele laço… Nunca aconteceu, e tenho pena que não tenha acontecido, mesmo!

Mas, por outro lado, e eventualmente inspirado pelo escutismo, recordo a insistência com que implorei à minha mãe para que me oferecesse um daqueles facões especiais que os escuteiros (mais crescidos) usavam nas suas missões. Sim, aqueles iguais ao da imagem que aqui adiciono. 

Mesmo contrariada, a minha mãe lá me comprou um, vindo, salvo erro, de uma daquelas lojas ambulantes da festa do Sr. da Pedra, em Miramar. (prometi-lhe que não me aleijaria, e nunca me aleijei)

Já que não tinha conseguido ser escuteiro, ao menos tinha o facão, usando-o para cortar galhos de madeira e mais galhos de madeira, já que não me ocorriam outras utilidades que pudesse associar ao escutismo. (para mim, os escuteiros andavam sempre no mato, e sempre a fazer cabanas e fogueiras – risos)

Apesar de ser considerada uma arma, constava-se (consta-se ainda?), aquele facão acompanhou-me (a medo, o meu) para alguns lados, eventualmente para precaver a necessidade urgente em poder ter que o utilizar… Mas nunca foi preciso, inclusiva mais tarde, quando "espigadote", acampava junto à praia da da Madalena. (o facão foi sempre comigo)

E este era um facão pelo qual eu tinha respeito. Considerava-o uma peça importante, inclusive na eventualidade de poder ter que servir para confrontar “perigosos ladrões”. 

- Ai deles, se me aparecessem pela frente! (fugiria, certamente – risos)

Bizarramente, ou talvez não, esse facão mantém-se fiel, mesmo mais de 30 anos depois de me ter vindo parar às mãos. Está ali para um canto, algo enferrujado, mas pronto para entrar em acção, se necessário for. (sorrisos)

E o mais interessante é o facto de aquele meu primeiro e único facão manter a sua bolsa especial em couro, na qual ainda vigora a minha assinatura de então. Ou seja, a mesma com que assino estas crónicas. 

Kiko

“Filmes Indianos”



Os filmes Indianos, que não vejo há décadas, acompanharam a minha infância, principalmente por volta dos 6 anos de idade, lá para o ido 1976, por aí.

Imagino que não serei o único (ou talvez seja!) a, ainda hoje, ter uma afeição especial por elefantes (o animal que está no meu top de animais preferidos), em virtude de tanto os ver sacrificarem-se em filmes vindos de um país tão distante, tão desconhecido, tão diferente, pelo que o grande ecrã nos mostrava. 

Naqueles filmes em idioma estranho, geralmente, o final implicava o sacrifício de um elefante, ou dois, ou três… Ou então, mesmo não sendo sacrificado, o animal acabava sempre por rivalizar em termos de importância com os protagonistas dos filmes. Nunca o entendi.

As minhas sessões cinematográficas daquela altura passavam principalmente pelo cinema “Olímpia”, aquele encostado ao Coliseu, onde os domingos à tarde ditavam a compra de um bilhete de cor azul, o tal onde, além do preço do bilhete, destacava-se o “M/6”, ou seja, para maiores de 6 anos, se não estou em erro. 

A minha mãe, mesmo sem saber ler, adorava ir ver filmes Indianos. E eu era a sua companhia especial de todos eles, ao ponto de se tornar quase religioso ir ao cinema ao Domingo à tarde. E mesmo sem saber ler aquelas legendas, estou em crer que ela conseguia entendê-los melhor do que muitos dos “alfabetados” presentes naquela sala. 

É! Tenho saudade desses tempos, desses filmes, e até daqueles elefantes… Daquelas histórias de amor com final feliz que, na verdade, pouco mudavam em termos de enredo. Mas era especial, era muito especial todo aquele protocolo da altura, o tal que ia do apanhar o autocarro para ir até ao centro do Porto seguido da compra dos bilhetes à pressa, do ir ver o filme, usar o intervalo para o xixi ou para ver quem de conhecido também lá estava e, claro, o terminar do dia de folga com a mais do que tradicional ida ao famoso “Café Embaixador”, junto à Avenida dos Aliados, para o lanche da praxe, sempre com aquelas caixas de plástico com pastéis (bolos, melhor dizendo!).

Da Índia, nos dias que correm, são várias as canções que me fazem companhia, mas, agora que falo nisso, sinto-me impelido a recordar um desses filmes com elefantes… E fá-lo-ia já, se possível. (sorrisos)

- Alguém me sugere algum?

Kiko

sábado, 16 de fevereiro de 2013

“Karaoke”



Foi em meados da década de 90 que fui apresentado ao Karaoke, uma variante do espectáculo, na altura inovadora em Portugal e um pouco por todo o mundo.

Tendo sido convidado na qualidade de apresentador – já que já tinha uns anos de locutor de rádio, e apesar de o Karaoke traduzir-se em cantar e não em apresentar, aceitei o convite. E aceitei-o sem nunca imaginar que tal actividade viria a representar uma página importante na vida que se seguiu, a minha e a de tantos… E não só, mas também, no Vice Versa Bar, o espaço de onde parti para tantos e tantos palcos, sem nunca ousar esquecer o ponto de partida, já que tantas outras vezes também foi ponto de chegada.

Recordo-me do dia em que comecei, tímido, nervoso e sem nunca ter cantado. Foi a uma 5ª Feira.

A minha voz radiofónica (colocada) parecia estar mais intimidada do que eu, mesmo perante um público composto por apenas 5 ou 7 pessoas, se não me falha a memória, sendo que a quase totalidade de percentagem desse público tinha sido convidada “à força” por mim.

E é precisamente a memória que me leva directamente para a primeira canção que interpretei, já lá vão quase 20 anos: “Can’t help falling in love”, na versão de Elvis Presley, aquela que, da vasta lista, me pareceu ser a que melhor se enquadraria com o meu timbre de voz.
Julgo que não correu mal. Pelo menos fiquei convencido disso, ao ponto de ter aceitado partir para outras canções, sem nunca esquecer aquela, a primeira.

E como em tudo, o que custa é começar. Depois, com mais ou menos treino, a “coisa” ajeita-se, permitindo que as lacunas sejam disfarçadas principalmente quando existe um simultâneo com a natural evolução no “metier”, ou seja, quando nos empenhamos a fundo, por apreciarmos o que fazemos, o que proporcionamos.

Em pouco tempo, aquelas noites de Karaoke transformaram-se em salas cheias de gente, anexando às 5ªs feiras, as 6ªs e os Sábados, sem esquecer as vésperas de feriado. (pelos vistos, eu tinha jeito para a apresentação, ou então a simpatia de quem me/nos visitava era algo que se multiplicava, como os “pães”)

O Karaoke entrou-me nas veias, levando-me a inventar concursos e demais acontecimentos, com maior e menor escala (inclusive nacional), transformando aquilo que era visto como um “espectáculo deprimente” num entretenimento profissional, levado ao pormenor, pelo menos nos “meus” palcos.

Quem subia a esses palcos, principalmente ao “Santuário” Vice Versa, sabia que teria o seu momento, por mais que ele demorasse, tamanha sempre foi a lista de cantores. Todos mereciam o seu espaço, o seu foco de luz, o seu instante, independentemente da qualidade das suas interpretações. Todos eram cantores. (ponto)

Nunca fiz contas, mas “baptizei” uns largos melhores de pessoas na actividade do canto amador, sendo que alguns ficaram profissionais. E estou grato a todos, sem excepção, pelo contributo que deram, a mim e ao público, especialíssimo, interventivo e atento.

Nunca fiz um “CV” desta minha etapa “Karaokiana”, mas guardo na memória o tanto que foi concretizado, incluindo as amizades, as experiências, as saudades… Sim, ficou dessa vida uma banda sonora brilhante, mesmo!

O espectáculo que conduzi ao longo de quase duas décadas foi sempre especial, sempre único, irrepetível, intenso, incomparável (por mais que o tentassem copiar, e tentaram, e tentam… e fazem bem!). E isso, assumo, aconteceu porque, além de mim, fui acompanhado por pessoas que sentiram aquelas horas, dias, meses e anos como verdadeiramente especiais, verdadeiramente gratificantes. (apetece-me enumerar algumas dessas pessoas, mas receio cometer o erro de me esquecer de alguém, e isso seria muito injusto)

Por isso, e porque esta crónica já vai longa, e principalmente porque as minhas histórias sobre o “meu” Karaoke dariam quase uma enciclopédia, permitam que, ironicamente, neste dia 16 de Fevereiro de 2013, dedique o “Can’t help falling in love” a todos aqueles com quem cruzei a voz, o olhar e o sentir ao longo de quase duas décadas completamente e incomparavelmente afinadas.

Obrigado por Tanto!

Kiko

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

“Dia dos Namorados”




Penso que terá sido já depois de completar 16 anos (1986) que notei a existência de uma realidade (comercial, ou também) com o interessante e cativante título de “Dia dos Namorados”. 

E era uma ideia gira, especialmente gira para quem tinha namorada, embora, principalmente naquela “minha” altura, fosse exageradamente repetitiva… É que, neste dia, todos os rapazes e homens rumavam exclusivamente às floristas, fazendo fila de horas e, pior ainda, ao estilo de quem ia “comprar preservativos”, já que o corar dos rostos, principalmente nos mais novos, era notório…

E porquê? Porque numa era ainda mais machista do que a de hoje (muito mais!), as floristas não eram locais de visita para homens e muito menos para rapazes. Ok. Talvez fossem, mas, eventualmente, apenas e tão só na compra de “ramos” para funerais, as únicas flores que - pelo contrário. - não nos envergonhavam ao serem transportadas pela rua fora. (vá, “encalhados” e “encalhadas”, nada de fazer associações menos positivas entre namoros e funerais, já que existem diferenças. – risos)

Andar com ramos de flores nas ruas ou nos autocarros, assumamos, era algo demasiado embaraçoso, razão pela qual a ala masculina não apreciava (esta parte d)o Dia dos Namorados, tentando avidamente trocá-la pelo momento da entrega e, já agora, o da pós-entrega. (sorrisos)

Claro que existiam alternativas às flores! Chamava-se “ourivesaria em prata”, fossem pingentes, anéis, brincos ou outra ornamentação qualquer (digna de chacota masculina à posteriori, se se constasse). É, apesar do custo absurdo das rosas, sempre saiam mais baratas (se se esquecer o tal corar e as duas horas de espera) do que entrar numa ourivesaria (local também propício a corar-se, pelo gesto e, claro, pelo fundo de bolso não compatível com o que se desejaria poder comprar).

Quem estiver a ler, poderá ser induzido em erro e achar que eu só oferecia rosas. Nada disso! Apesar de também as ter oferecido. (sorrisos)

Sempre gostei de acoplar alguma originalidade aos gestos mais banais, e o calendário sempre mereceu a minha especial atenção, com ou sem datas a assinalar. E quem me conhece, acredito, poderá atestar (sem ter que o fazer, logicamente) que raramente me ficava (ou fico) pelo trivial. Gosto de encenações e de surpreender, e confesso-o com todas as letras.

E foi este lado inventivo e romanticamente interventivo que me levou a saborear de especial maneira (quase) todos os “Dias dos Namorados”, principalmente entre os meus 16 e os 28 anos de idade (décadas de 80 e 90), cometendo algumas pequenas loucuras, inclusive monetárias. Sabia-me bem e queria que soubesse especialmente bem à outra parte. (ponto)

Claro que os “Dias dos Namorados” dariam pano para mangas, mas, por falta de espaço (para não dizer: não entrar em caminhos mais “privados”), concluo esta crónica com uma canção que, sem que, ainda hoje, entenda porquê, acompanhou-me em alguns períodos da minha vida. Uma canção que me sabe especialmente bem ouvir, e sem que haja qualquer tipo de interferência da letra (quando a ouço, nem reparo nisso, limito-me a permitir que me embale, sem laço, claro!).

Por isso, hoje, e em plena hora de ponta nas portas dos restaurantes, permitam que dedique esta canção a todos os amantes. Não àqueles que se obrigam a registar a data, para não ficarem “menos bem”, ou melhor, para poderem ser exemplo no dia seguinte, mas sim a quem ama, a quem sente, a quem cria, recria e acredita no amor, um dos “bens” mais desejados pelo ser humano, um ser que, geralmente e infelizmente, só o valoriza substancialmente em dois momentos: quando o recebe e quando o perde.

Amem o mais que poderem, inclusive a 15 de Fevereiro.

Kiko
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

“Carnaval”


Com o avançar das idades, a nossa e a dos tempos, presumo, o Carnaval - e tantas outras coisas., vai perdendo o encantamento vivido noutras décadas, no caso a década de 70, para onde hoje nos tento transportar. (Ou será que estamos a perder predisposição para a "coisa" e tratamos de nos convencer com o "antigamente é que era bom"?) 

Por volta de 1975, sem a existência das lojas que hoje fornecem tudo e mais alguma coisa para que se possa brilhar, e principalmente porque não haviam (para a grande maioria) condições económicas que permitissem “ir às compras”, recorria-se à imaginação da mãe para vestir um personagem diferente do personalizado nos restantes dias do ano. 

Do vulgar lençol aparentemente branco para a mais do que conhecida versão fantasma às roupas femininas para a não menos “tradicional” mudança de "identidade sexual", lá nos íamos divertindo com os “remendos” que os guarda-vestidos permitiam, mas sempre com empenho e gosto, por muito que ficássemos a dever ao "estilho". 

Obviamente que os quase instantâneos desfiles Carnavalescos (na freguesia) limitavam-se a uma espécie de circular de fotocópias, já que, com todos a recorrerem à mesma táctica, era normal haver um “dress-code” semelhante, mesmo que ninguém combinasse com os outros. 

Com o decorrer dos anos, claro, as coisas mudaram-se, havendo a compra de caretas (o adereço!) e bisnagas para nos proporcionarem um melhor desempenho, mesmo que a variedade ficasse “muito a desejar”. 

Por isso, e para se tentar dar nas vistas, quanto mais não fosse para se poder dizer e sentir que se tinha Carnaval, além das máscaras e bisnagas, divertíamo-nos com outros pormenores (hoje em estado moribundo) que ajudavam a assinalar melhor o entrudo. Refiro-me em concrecto, e sob a forma de perguntas, a exemplos que, estou em crer, mexeram com cada um de nós: 

- Quem não vibrava com as serpentinas a ficarem presas nas antenas dos carros que passavam na rua?

- Quem não tentou assustar as colegas de escola com os famosos “estalinhos”?

- Quem não corou por ter soltado bombinhas de (mau) cheiro numa sala de aula?

- Quem não andou a “faiscar” as paredes da rua com aquelas tiras de papel com “micro-pólvora” cor-de-rosa/castanha. (sim, não me estou a lembrar do nome, novamente – risos)

- Quem não apanhou confétis do chão para os voltar a atirar para a cabeça de alguém?

- Quem não pegou em serpentinas usadas para fazer “rolinhos”, de maneira a reutilizá-las?

Ou seja, e em resumo, todos, todos já vivemos o Carnaval de forma intensa, ou melhor, de forma muito mais intensa. E isso aconteceu naquela tal altura em que se “aguçava o engenho”, porque mais importante do que ter, na verdade, era acontecer. E nós, crianças remediadas, poderíamos não ter muito, ou mesmo não ter nada, mas acontecíamos, julgo eu (e perdoem se exagero!), de uma maneira muito mais Carnavalesca e verdadeira.

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