sábado, 26 de janeiro de 2013

“Papelinhos de Amor”


Julgo que, ainda hoje, mesmo com as tecnologias vigentes, a começar pelos sms e facebook, ainda haverá quem se dê ao trabalho e à “loucura” de enviar recados de amor por papel escrito manualmente, seja o pedaço de papel excerto de uma folha de caderno A4 ou arranca a uma outra fonte qualquer.

Não?! Já ninguém manda recados… de amor?

Que chatice. Que falta de originalidade. Que falta de empenho. 

Quase aposto que um papel, por mais “rafeiro” que seja, consegue melhor resultados do que uma mensagem de telemóvel.

Alguém concorda comigo? (ainda bem!)

Nas décadas de 70 e 80, naquela altura em que atravessei a primária, ciclo preparatório e secundário, era normal (embora atrevido) enviarem-se papéis com mensagens amorosas, ou melhor, tentativas de o chegarem a ser, cada uma delas com dizeres pouco elaborados mas directos, e em grande parte sob a forma de pergunta. 

Exemplos?

- Queres encontrar-te comigo no intervalo grande?

- Queres ir comigo pela linha, em vez de irmos de autocarro?

Ou então, para quem tinha o ego mais inflamado, havia sempre o tradicional: 

- Queres namorar comigo? 

Os papéis, pelo menos no meu tempo (nosso tempo), tinham um lado romântico interessantíssimo, dignos de merecerem um estudo de semanas, por mais pequena que pudesse ser a mensagem, por mais incógnita que pudesse seguir (sabendo-se em instantes quem tinha sido o emissor – fazia parte, para deleite dos outros e cara rosada dos visados). 

Era giro. Era intenso. Era especial. 

Naqueles outros tempos, muitos eram os namoros que começavam assim, muitos eram os nãos que se levavam por também se ficar sem resposta, muitas eram as mensagens que ficavam alojadas eternamente nos bolsos das calças, à espera da coragem, e por aí fora. 

Hoje, e voltando à comparação para com as tecnologias (sms, facebook e afins), chego à conclusão de que a rapidez com que se passou a comunicar gerou um retrocesso, e dos grandes. Tudo se tornou mais descartável, o que é uma pena. 

Não sei onde moram ou se ainda moram os tantos papéis que escrevi e entreguei (ou “mandei” entregar, por falta de coragem), mas tenho a certeza de que, escrevendo sobre isto, muitos serão aqueles que, ao lerem sobre isto, de repente, lembrar-se-ão do que foi ser-se emissor e/ou receptor de mensagens escritas com letra mais arredondada, e com todas as sílabas, ao ponto de, por se carregar tanto nas “BIC laranja”, decalcar-se a mensagem em mais uma ou duas folhas do tal caderno, arrancando-as para que não restassem vestígios. 

Naquele tempo, um simples pedaço de papel, convenhamos, valia muito mais do que os 500 sms que os “teenagers” trocam nos dias de hoje em cada um dos seus dias. 

O assunto até pode ser o mesmo. Os resultados até podem ser mais rápidos. Mas o sabor, estou em crer, não se compara. Razão pela qual, estou em quer que, se por acaso, um "teenager" ler esta crónica e decidir enveredar pelo "estilo arcaico" dos "papelinhos de amor", poderá ter uma agradável surpresa em termos de resultados, ou talvez não. (sorrisos)

Kiko

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

“Bilhar”


Isto de ter tido uma juventude em que houve mais tempo do que alternativas para o desfrutar, fez com que em meados da década de 80, eu mais uns 3 ou 5 amigos, nos tivéssemos empenhado “à séria” em actividades extracurriculares tais como: o bilhar “snoocker”. Nem mais!

E o jogo, em si, atraía porque era considerado uma actividade lúdico-táctica para homens com barba na cara, coisa que sonhávamos e fazíamos por ter (rapando o que ainda não tínhamos, para nascer depressa), sem ter.

Penso que foi lá para a altura dos meus 14 anos (1984) que, ignorando o dístico “proibido a menores de 18 anos”, comecei a treinar a arte do bilhar dito normal, aquele em que a mesa que tinha 6 buracos, onde quem ganhava era quem metia a bola preta (no final e não antes) e, claro, gerido por um “cronómetro monetário” que impunha pagamentos a “meias” ou a “quadras”, como se fosse uma espécie de júri dos nossos porta-moedas.

Os finais de tarde das 4ªs e 6ªs feiras eram passados no café “Pulga 2”, na Madalena, Gaia, e, com sorte, quando saímos das fronteiras da freguesia, se nos deixassem, lá jogávamos em cafés mais “crescidos”, tentando, claro, dar nas vistas perante estranhos (os quais, na verdade, só queriam era que nos despachássemos para lhes dar a vez).

O bilhar, como qualquer outra actividade, em termos de resultados, até um determinado nível, depende essencialmente do treino. E para quem, como eu, começou por mal saber pegar no taco, convenhamos, ao fim de alguns meses e de muitas moedas de 50$00 investidas, acabava-se sempre por lá se “dar um jeito”, arriscando mesmo algumas “tabelas”, embora, por defeito, e no meu caso concreto, apostasse especialmente na força com sorte, a tal que falhava muitas vezes e tantas vezes deu vida própria às bolas que saíam disparadas para lá do pano verde.

Dar a tacada inicial, com força “à homem”, confesso, dava um prazer especial (quando não tínhamos que nos desculpar com a falta de giz na ponta do taco), e, já agora, eu apreciava jogar com “as grandes”, mesmo tendo no “6” o meu número de eleição, sendo o número em questão membro das “pequenas” (as bolas, as bolas!).

Penso que ao longo de uns dois anos fui “ferrinho” nesta coisa do bilhar. Depois, como em quase tudo, apareceu algo mais motivador e “passei a pasta”, até hoje. E por falar em hoje, quando me falam de jogar “snoocker”, até gosto de dizer que “dava umas tacadas”, porque até as dava, mas de cada vez que me dei ao luxo de voltar a jogar, bizarramente, ninguém acreditou que eu alguma vez tenha tido jeito para a “coisa”. E eu, vendo-me jogar, concordo com todos eles, mesmo sabendo que o jeito, esse, na verdade, ficou na juventude, na tal das moedas de 50$00 de boa memória.

Kiko
sábado, 19 de janeiro de 2013

“Baba e Ranho”



Na juventude, pertença ela a que geração pertencer, há sempre uma fase em que passámos por “bebés-chorões”, mesmo sem saber muito bem porquê ou, pior ainda, sem ter razões para chorar, mas forçando-o na mesma, quanto mais não seja, imagino eu, para que possamos – ao menos – justificar a força que uma determinada canção tem num determinado momento, mesmo que tal só aconteça porque nos “chicoteamos” a ouvi-la um mínimo de 20 vezes seguidas. Chama-se a isto uma espécie de “exercício para sentir o sabor das lágrimas à conta de um refrão”, mesmo que possamos só entender uma ou outra palavra daquele estrangeiro que gravávamos dos “discos pedidos”.

Não sei se aconteceu convosco, mas, por mais ridículo que possa parecer, também me fechei no meu pequeno quarto e pus o gravador de cassetes crómio a repetir vezes sem conta, ou melhor, horas a fio, a mesma canção. Claro que estou a falar de baladas, das que provocavam (e, eventualmente, ainda provocam) baba e ranho, além de milhões aos seus proprietários e intérpretes.

O mais bizarro daquela juventude, a qual se tentava viver à força como se já se fosse adulto, e daqueles com problemas emocionais e financeiros (mesmo não os tendo, nós), era inventar maneiras de se dar a ideia de que ninguém nos entendia porque éramos “muito à frente”, à frente da idade que o bilhete de identidade registava.

Sim, eu sei que era ridículo, e sei que, quase 30 anos depois, é difícil encontrar um quadro psicológico minimamente plausível ou aceitável que justifique este comportamento sedento de sentimentalismos do além (aqui, o além refere-se a idade, idade mais além – risos).

- Afinal, chorávamos porquê? Em nome de quem? O mundo ainda tinha (e tem) tanto amanhã…

O nada é a melhor e única resposta para cada uma das perguntas.

Convenhamos que, neste preciso momento, estou na dúvida se devo ou não recomeçar uma outra crónica ou permitir o vexame desta, a que o teclado e a minha mente estão a ditar, assim ao sabor de um desvario da memória.
Que se lixe! Vai assim. (risos)

É, é verdade. Para que ainda não entendeu, houve alturas entre os 12 e os 16 anos em que me fechava no quarto, colocava uma das baladas mais tristes e de maior sucesso na altura, imaginava um terrível final romântico que me envolvesse (em sonho acordado, claro) e forçava as lágrimas, algo que chegava a concretizar-se, embora a muito custo, talvez por volta da 10ª repetição da canção escolhida para esse fim.

- O que se ganhava com isso?

Nada.

Bem, lembro-me que o “após” dava uma ligeira sensação de alívio. (além de alguma vergonha, sempre que a minha mãe me perguntava se tinha algum problema amoroso)

- Alívio? Alívio de quê?

De nada. E de nada porque, nessas alturas, geralmente, ou não namorava ou as relações nem ralações tinham para justificarem tamanha “adoração sentimentalista”. Isto, claro, sem esquecer que, na mesma altura, o Português já era complicado de decifrar, quanto mais o inglês, chorando eu por refrões que, na verdade, supunha, já que não os conseguia traduzir à letra.

Ai, a juventude, a juventude! Que saudades. (ponto)

Kiko
terça-feira, 15 de janeiro de 2013

“Rock’s”



A discoteca “Rock’s”, ali na Rei Ramiro, em Gaia, estou em crer, foi a discoteca (a sério) de baptismo para uma grande senão mesmo para a maior parte dos jovens que fazem parte da minha geração, a dos "ternura dos 40". 

Em concreto, refiro-me à década de 80, principalmente entre 1984 e 1989, naquela transição muito especial de jovem para adulto.

E o mais interessante do “Rock’s” era a “religiosidade” com que para lá íamos no “57” ou “91”, e especialmente aos domingos à tarde, ficando, por vezes, na rua (já deitando o olhinho na “fauna”), à espera que se abrissem os portões de ferro escuro, sempre com a preocupação de saber se o porteiro nos deixaria entrar, fosse pela idade ou por não estarmos com "mulheres". (entrava-se sempre, mas havia o receio) 

Claro que também se frequentou o “Rock’s” ao sábado à tarde, nas tais festas temáticas (recordo-me de uma gótica, com The Cure e Mission a destacarem-se na banda sonora) e, mais tarde, aos sábados à noite, já com bilhete de identidade no bolso e à boleia de um carro que se estacionava a "quilómetros".

Mas, a essência do “Rock’s”, convenhamos, vivia-se e viveu-se nos domingos à tarde, naquelas matinées compostas por um repertório repetido vezes sem conta: 

- Entrar, descer aquele corredor de cimento, entrar na “sala-de-espera” (ou de “curtes”), pedir um primeiro copo (cerveja, claro!), aguardar pelos raios laser e pela música de abertura de pista, tentar começar a dançar, muitas vezes num “air-guitar” deprimente, tentar fugir da meia-hora de slows (por não se saber dançá-los), usar a última hora de canções (antes da hora do autocarro: 19H45, se não estou em erro) para tentar concretizar os “olhinhos” que se trocaram na pista ou nas idas ao WC e, com sorte, sair-se “perdidamente apaixonando” com um ou dois “linguados” em crédito. 

Em resumo resumido, as tardes no “Rock’s” – a verdadeira discoteca – eram um jogo de sedução, muitas vezes sem resultados, ou melhor, com “mais garganta do que barriga”, e isso fazia-nos felizes, nem que fosse nas conversas entre “parceiros” ao jeito de: “Domingo é que vai for!”, mesmo que não se “fosse”. E tinha piada, além de ter assunto, ou melhor, de gerar assunto. 

Logicamente que existem inúmeros episódios envolvendo o nome da famosa discoteca de Gaia (que fechou e abriu uma série de vezes, principalmente depois dessa década dourada), principalmente episódios que envolvem uma geração que, em termos de alternativa (o autocarro é que a ditava), viam naquele espaço o epicentro do ser-se especialmente jovem (quase adulto).

Sim, também faço parte do enorme grupo de pessoas que “foram felizes", muito felizes, no “Rock’s”, o que, só por isso, merece que esta crónica seja vista como uma espécie de pista de dança de algumas das melhores memórias da nossa juventude, mas com abertura e raios laser, claro!

Kiko

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

“Bip”


Isto das novas tecnologias, nos idos 80 e 90, convenhamos, era merecedor de um curso intensivo, principalmente para aqueles jovens de hoje que nunca tiveram o enorme prazer de privar com um “BIP”.

Confesso que me lembro muito pouco desse aparelhómetro da marca “Motorolla”, confesso que nem me lembro se usá-lo era caro ou mais ou menos barato… Mais, nem me lembro bem de como se fazia para enviar mensagens ou recebê-las… Mas lembro-me que, naquela altura, era um excelente e avançado meio de se ter contacto para além do telefone fixo, era algo que mexia connosco mesmo que estivéssemos em movimento, e, só por isso, já era extraordinário.

Claro que, trazendo-o para a altura dos iPhones de hoje, os “BIP”, autênticos vibradores (entenda-se o lado não sexual do termo), eram uma tecnologia de ponta, ao ponto de nos permitirem “namoriscar” sem ser por cabine telefónica ou em voz sussurrante, para evitar ser-se “escutado”.

Tenho a ideia de que os “BIP’s”, apesar de viciarem quem os tinha, não tiveram uma vida longa em Portugal, e acho que tal aconteceu devido à chegada dos telemóveis (e não me estou a referir às “malas” de 600 ou 800 contos – tive “uma”, emprestada pela rádio onde trabalhava), estou a referir-me aos “tijolos”, aqueles que, se não me engano, nos primeiros tempos de existência, permitiam que se enviassem e recebessem mensagens sem pagar (campanha bem conseguida para “aniquilar” os “BIP”), ou então, tentando não fazer da minha memória um hastear de erros e confusões, tinham um custo insignificante, provocando a “morte” do “BIP” mais rápido do que se suporia. É que: os telemóveis permitiam mais do que meia-dúzia de letras… (sorrisos)

Infelizmente para eles, para os “BIP’s”, acabaram em gavetas ou em arrecadações. E mesmo aqueles que tentaram voltar a ter vida em “Feiras da Vandôma”, na verdade, limitaram-se a ficar com a esperança, nada mais do que isso.

Lamento não ter contribuído com informações úteis que permitam recordar os “BIP” como merecem, mas décadas depois, é natural que a minha memória vibre com outras coisas. (risos)

Quem teve um “BIP”?

Quem pode acrescentar respostas às suposições que levantei?

Todos os contributos serão bem-vindos, em nome da memória de todos os que, como eu, também vibraram com essa tecnologia “forex” ou, se preferirem, “muito à frente”. (risos)

Kiko 
sábado, 5 de janeiro de 2013

“Locutor”


Foi no ano de 1989 que, acidentalmente, dei os primeiros passos radiofónicos, numa rádio bizarramente chamada de “Paralelo”, e, se não me engano, no primeiro dia do pós-rádios piratas. 

A história do meu entrar para a rádio, onde me mantenho até hoje, embora em registos bem diferentes, aconteceu por mero acaso. E a história parece inventada, mesmo não o sendo. Como explicá-la em poucas palavras?... Vou tentar. 

Numa tarde de semana, um disc-jockey de uma pequena discoteca que eu frequentava, no VillaGaia, a GaiVille, pediu-me para o acompanhar a um teste que ele iria fazer numa rádio, já que esse era o seu sonho, e um dos sonhos de muitos rapazes, ontem e sempre. 

Aceitei, metemo-nos no comboio, e lá fomos. 

Chegamos. Entramos num conjunto de casas, com um terraço imenso e eu limitei-me a ficar sentado num banco, no tal terraço, à espera dele. 

Do nada, fui abordado da seguinte forma:

- Então, rapaz, vens para os testes de rádio?!

- Não, não, vim acompanhar um amigo. Ele sim, ele é que quer fazer rádio. – exclamei. 

- E tu, nunca pensaste em fazer rádio?

- Não, não teria jeito nenhum. – acrescentei, algo envergonhado. 

- Hmmm. E não queres experimentar? – perguntou-me.

- Não sei, acho giro, mas não creio que me safe… - sorri, nervoso.

- Então, vamos experimentar. Anda comigo, eu sou o dono da rádio. 

Entramos dentro das instalações, puseram-me à frente de um microfone, se bem me lembro, e, passados poucos minutos, o diálogo com o tal dono prosseguiu.

- Olha que és capaz de ter jeito, rapaz. 

- Acham mesmo?! - perguntei e perguntei-me.

- Podes começar na 2ª feira, das 18 às 21 horas, em todos os dias úteis da semana?!?

- Eu, eu?! Acho que sim, acho que sim, mas não sei se consigo… - disse-o, pressuponho, de uma forma bastante aparvalhada.

- Ok, então, começas na 2ª. Se precisares de algo, pede ajuda aos outros ou anda falar comigo. Boa sorte!

Pois. Foi assim. E quando eu e o meu amigo (o verdadeiro candidato e entendido em música) regressamos ao comboio, lá tive que lhe dizer que iria ter o meu programa de rádio, ao contrário dele, que não passou nos testes, eventualmente por não ter estado naquele terraço à hora certa. 

Para que se evolua um pouco na história, esta, a minha, em termos radiofónicos, há que referir que me despedi ao fim de dois meses, supostamente por me sentir “desacompanhado”, apesar de ter tido colegas, mais velhos, impecáveis. Não sei, acho que não me “ensinavam” e que me estava a tornar repetitivo… (sorrisos) 

Uns meses mais tarde, através de um amigo, o Nuno Oliveira, por imposição minha (paranóias), fui para a Rádio Clube de Gaia fazer madrugadas, como técnico de som, algo que, ao fim de uns meses, transformou-se em locução, embora já com outros “predicados”. (sorrisos)

É, o “bichinho” de que se fala, existe, posso testemunhá-lo, a caminho dos meus 25 anos de rádio.

Kiko
quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

“O tal casamento”



Isto de se ser o “menino” da família, principalmente quando se tem (o alto dos) 11 anos de idade, faz com que abusemos um pouco da “vaidade”, ao ponto de, sempre que nos dão azo para isso, “esticarmos a corda”…

Das centenas de casamentos onde marquei presença – sem que nunca tenha estado no meu (risos), fosse por razões familiares, de amizade ou, na grande maioria, por motivos profissionais, houve um casamento (este que a foto documenta) onde me senti uma autêntica estrela.

Porquê?

Naquele ano de 1981 (se não me falha a memória), o casamento da minha irmã Manuela mereceu uma produção “hollywoodesca” (para altura), com convidados vindos de vários pontos do País, com vários carros “grandes”, motoristas, vestidos sumptuosos, enfim, algo em demasia para uma família pobre, como a minha. (pobre, quer dizer, a minha irmã, não a que casou mas a da foto, vivia milionariamente no Brasil, razão pela qual assumiu o peso da produção além da própria produção)

Foi um “Sr. Casamento”, refira-se. E foi mesmo.

Armando-me em “crescido”, e eventualmente com ciúmes pela perda de protagonismo, fiz de tudo para dar nas vistas. Exigi ir de fato e não de “smoking” ou de calças de flanela, e, claro, obriguei a que me comprassem um “Sr. Laço”. Isto, claro, sem esquecer o penteado “cabeleirado” com as patilhas cortadas a eito, a minha (horrível) imagem de marca durante uns 15 anos.

Depois do desfile de viaturas, com muita gente nas janelas, lá fomos para uma Sé do Porto - toda engalanada, ao que se seguiu o cortejo até Miramar, onde um violinista e outros “adereços” deram ainda mais brilho ao enlace, à "Srª Boda".

Neste dia, que guardo na memória por razões bem mais interessantes e bem mais importantes do que as que aqui descrevo, recordo-me do pico da minha “vaidade”: a meio da tarde, porque tinha a paranóia de andar sempre a arranjar o cabelo, ou melhor, arranjar a minha “pala”, lá fui à casa-de-bando da sala de banquetes do (desaparecido) Hotel Mirassol (um luxo na altura, ao ponto de lá ficar a equipa do FC Porto) para dar um retoque no cabelo. 

Entrei, olhei umas 20 vezes para o espelho e, que me lembre, foi a única vez em que, na década e meia em que usei “pala”, não mexi num único fio de cabelo. Incrível!

Porquê?

Porque, naquele dia, mesmo ao meu olhar excessivamente crítico, a “pala” estava fantástica. Mais, confesso que nunca na vida me senti tão “munito”. Não arranjei namorada, também não haviam grandes alternativas na enorme lista de convidados, mas casei-me logo ali com o meu próprio ego (fosse lá o que isso fosse), e, juntos, tivemos uma fantástica noite de mel, embora sem sexo, claro! (risos)

Kiko

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Sempre algures entre o hoje e o amanhã, sem esquecer a memória.

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