quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Niqueis

O mundo assemelha-se cada vez mais a um enorme tabuleiro, daqueles que têm inúmeros e atraentes jogos que nos são oferecidos a preço de saldo.

E quando se vai a jogo, seja por curiosidade ou porque nos atiram lá para dentro, chega-se à conclusão de que, na verdade, o que todos os jogadores procuram é o mesmo resultado: exercer o "custe o que custar", mesmo que se comece por brincar.

Nesta vida de tabuleiros mil, confesso, já não sei se se joga pelo prazer de jogar, pelo prazer de vencer ou para sobreviver ao sufoco de não se perder.

Acho mesmo que as regras já não são tão importantes, que tudo depende do ângulo com que as câmaras filmam e emitem (ou não?!), ou - não menos estranho nos dias que correm - daquilo que o árbitro (o conjunto de interessados) pretenda, seja no papel de investidor ou vendedor, já que o disfarce não revela outras "funções".

A vida está a ficar um jogo demasiado sujo, demasiado feio, demasiado viciado... E isso é perigoso, principalmente junto daqueles que não gostam de apostar, que não querem viver no arame das incertezas nem serem levados pela corrente de interesses: o monopólio.

E por falar em monopólio, tenho saudade do tempo em que me entretinha à custa dele - do jogo, fosse comprando um hotel ou endividando-me até à bancarrota.

Porquê?

Porque sabia que chegaria o instante em que tudo aquilo voltaria para dentro da caixa de cartão e não se transformaria numa espécie de "caixa de pandora", daquelas que mesmo só valendo niqueis são ornamentadas com um laço intitulado "esfola".


Francisco Moreira
quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Espelho

Parece que se descobriu a pólvora. E, pelo que ouço, ela está na geração que passou pelos anos 80, aqueles que, na altura, não valiam nada - por causa de uns tais "60's" - e que agora rivalizam com outros dos grandes consumidores: as crianças, as de hoje, claro.

Nunca vi tanto marketing apontado para a geração saudosista - esta, a minha, aquela que, consta-se, tem (ainda) poder de compra e "pedal" para fazer muita coisa e atrever-se a aceitar convites para ir aqui e acolá, nem que seja para ver o concerto da banda que na altura não sabia onde ficava Portugal e que hoje, para pagar as compras, depende deste "jardim" de ex-Teenagers.

Já repararam na quantidade de produtos que nos são direccionados? A oferta é gigantesca, ao ponto de, em determinadas alturas, ficar com a sensação de que estão a tentar empurrar-nos para o ventre da nossa ex-juventude, como se isso fosse possível.

Das rádios às televisões, passando pelos objectos de culto e "slogans" de então, há uma imensa máquina do tempo que tenta dar-nos a ideia de que, se quisermos, por uns trocos ou um pouco de participação, poderemos voltar àquela outra altura em que pensávamos saber tudo e não sabíamos quase nada - assumamos, de vez.

E o mais interessante é que, na tal altura, sonhávamos em chegar a este hoje, embora com menos preocupações, e depressa.

Aqui chegados, por estranho que possa parecer, só nos apetece voltar para o "ovo", aquele em que poderíamos sonhar ser quem quiséssemos, já que o tempo encarregar-se-ia de nos facilitar a vida. Terá facilitado?
Esquecendo o percurso, já que o que conta mesmo é o hoje, permitam que sublinhe que é uma pena já terem inventado o espelho, este desmancha-prazeres que teima em mostrar-nos o cartão de cidadão em versão adulta.


Francisco Moreira
quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Imagem

Numa era em que se afirma que a imagem vale muito mais do que mil acções, chego à conclusão de que deveríamos abortar os pensamentos e as causas mais nobres para - fintando quem "come com os olhos" - apostar todos os cêntimos e imaginação na criação de uma imagem de topo, com tudo aquilo que pode resultar em objectivos efectivos sem ter que se abrir a boca ou puxar por mil dossiers. Não, não concordo nada com o que acabei de escrever. (ponto)
Obviamente que há circunstâncias em que se privilegia imenso a imagem, - exceptuando as imagens que não carecem de visualização, porque assim pode ser. E obviamente que todos apreciamos mais uma "jarra com flores brilhantes" do que um "vaso com terra e folhas secas". Mas, por outro lado, entre o valer tudo e o valer muito menos, na prática, entendo que há uma enorme diferença, principalmente com o decurso do tempo, aquele que vai "diluindo" os primeiros impactos.
Tudo pode ser muito esbelto no início mas - convenhamos! - há o além disso e há pormenores que acabam por ressaltar numa segunda ou décima "olhadela", e aí, certamente que as opiniões formadas numa primeira instância sofrem alterações.
Assim de repente, lembro-me daquela piada em que "a mulher era boa como o milho até à altura em que ficou sem roupa", e não, não estou a ser sexista, apenas apresentei um exemplo.
Mais, quando me refiro a imagem não quero estreitar a linha do pensamento à questão da imagem corporal feminina, nada disso. Tento sim abordar a imagem enquanto algo global, enquanto parte de um todo social, gerando ela - a imagem, sabemos. - uma melhor "performance" quando emoldurada por "adereços" mais em conta com o que os novos tempos exigem em termos de "formatação".
Quanto à imagem que escolhi para ilustrar este "post", como imaginam, foi seleccionada "ao calhas", como não poderia deixar de ser, já que, se não tivesse imagem, estou certo de que todos os que leram o que acabei de escrever -lo-iam sem pestanejar. (sorrisos)

Francisco Moreira
terça-feira, 20 de setembro de 2011

O Eu e o Nós

É uma pena que o mundo, apesar de ter uma linguagem comum, além de inúmeras formas de se "traduzir", esteja com um gigantesco problema de expressão.

E já não sei se o problema passa pelo emissor, pelo receptor ou pelos meios - cada vez mais evoluídos e simplificados. Mas, na verdade, entendemo-nos muito mal, ao ponto de caminharmos precipitadamente e convictamente uns contra os outros, embora, ironicamente, "todos" desejarmos o mesmo, mesmo que remando em velocidades e verbalizações bem diferentes.

Que é feito do senso-comum?

Que é feito do querer-se o melhor, para nós e para os outros?

Que é feito da entreajuda?

Que é feito do "nós"?

É, o "nós" mais parece um termo perdido, abandonado, sem eira nem beira, usado como marketing e pouco mais. E há quem sublinhe que já nem a família tem o peso que tinha, que os elos são fracos, fraquíssimos, e tudo em função de um umbigo aglutinador, fervoroso guerreiro contra tudo e contra todos...

"- Que viva o Eu!" é a bandeira da moda, desculpada com a tal da necessidade dos tempos modernos em função de uma esquizofrenia que se apelida de sobrevivência, embora me apeteça baptizá-la de demência...

Onde chegaremos assim?

Quem somos hoje, afinal?

Haverá amanhã? E como será?

Por este andar, mais dia, menos dia, acabaremos por matarmo-nos uns aos outros. E quando a história decidir dar título ao (nosso) livro, muito provavelmente chamar-lhe-á: "Problema de Expressão - O dia em que o Eu engoliu o Nós sem se aperceber que fazia parte dele".

Francisco Moreira
sexta-feira, 16 de setembro de 2011

Estás acordado?

Respondam-me lá!

- Porque é que dormimos?

Sim, porque é que dormimos?

Não, não se comparem a baterias de telemóvel para justificar o necessário carregar de energias, principalmente porque, na verdade, quando dormimos, continuamos acordados, continuamos em plenas funções, agimos, conversamos, pensamos, decidimos, apenas não mexemos tanto, certo?!

Não, também não vale a pena arranjarem "desculpas" científicas para o caso, porque não me convencem. E, se pensarem mesmo bem, não serão convencidos, também.

Então, porque é que temos que dormir? Muito ou pouco, mais tarde ou mais cedo, porquê?

Não, não tenho a resposta, mas posso sempre lançar "disparates" para esta "tertúlia"...

Será que não existe uma ligação directa entre aquilo a que chamamos dormir e a morte?

Será que não estaremos a dormir quando estamos mortos?

Será que estamos acordados quando julgamos não estar a dormir?

Que parvoíce! Para quê pensar nisto?!

Pois. Além da morte, a vida é uma enorme parvoíce, e daquelas para as quais só teremos resposta quando passarmos para o lado das revelações, aquela outra ciência - essa sim! - que comprova(rá) o que somos, quem somos, para onde vamos e o que andamos aqui a fazer. No entretanto, vamos "dormindo" ou "sonhando"...


Francisco Moreira
quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Escravos

Estou a tentar mentalizar-me de que todos seríamos mais felizes se abandonássemos os relógios, mesmo aqueles que já raramente o usam, como eu.

Refiro-me ao abandonar do conceito tempo, ao esquecer que faltam "5 minutos" ou que se está atrasado "Uma hora"... Deixar o tempo para segundo plano.

Eu sei que, em princípio, tal não será possível, principalmente porque, mais segundo, menos segundo, acabaremos por tropeçar num ou nos dois ponteiros.

E se tentássemos, pelo menos?

E se experimentássemos não fazer referências a fusos horários?

E se acreditássemos que o tempo, afinal, não existe, que é uma invenção das nossas cabeças, uma forma de metodologia social?

Não, não imagino o resultado que poderia acontecer com essa troca de quase tudo - já que tudo parece identificar-se com o tempo, a começar pelo calendário, mas acredito que se ganharia algo muito mais interessante e proveitoso do que "1 minuto".

E sabem porquê?

Porque o minuto, não existindo, daria mais tempo ao tempo, este chicote que só existe porque, mesmo reclamando, o veneramos, nós, escravos.



Francisco Moreira

Cubículo

Acho que tinha uns 7 anos de idade quando fiquei preso sozinho num elevador. Lembro-me que fiquei aflito, lá para os lados de "Paço de Arcos"... Não me lembro como surgiu a solução mas sei que ao longo destas décadas tentei - e com sucesso! - superar esse receio de ficar preso dentro de um cubículo que, nessas alturas, fica ainda mais apertado.
E não é que voltei a ficar lá dentro? Ainda por cima num elevador que nunca demonstrou segurança?!
A recordação do tal passado voltou... O receio tentou vencer-me... E, logicamente, a vontade era imensa, quase incontrolável: sair dali e assentar pés e oxigénio em terra firme.
Naqueles cerca de 30 minutos, confesso, houve alturas de maior tranquilidade (muito à custa dos diálogos cerebrais entre mim e a minha pessoa) e de maior agitação (quando o nervoso interferia directamente na minha desequilibra tensão arterial).
Ontem, quando voltei a encarar o elevador de frente, e uma vez mais sozinho, ainda equacionei trocá-lo pela escadaria de 9 andares, mas não quis ceder a esse jogo. E lá fui, novamente, como há 33 anos atrás, na luta contra a força que me incentiva a não arriscar.
Eu sei que é mais provável morrer-se num ataque de um mosquito do que por causa de um elevador mas, por outro lado, há sempre aquela perseguição do: "E se acontece a nós?".


Francisco Moreira

Passa-Passa

Detesto falta de educação, principalmente quando é dada na presença de quem se tenta ensinar princípios. Principalmente por ser moda falar-se dos gestos dos outros, tantas vezes sem se olhar para os próprios.

A pressa de chegar sem olhar para o lado, e muito menos para a frente, queiram ou não, pode não ser detectada pelos próprios mas é mal recebida pelos que estão pacientemente na sua vez.

O "passa-passa" não condiz comigo. (ponto)

E faz-me imensa confusão assistir a repetidos exemplos de pais que incentivam os filhos a "despacharem-se" e a "empurrarem-se", independentemente de terem alguém à sua frente.

Será que se acham mais despachados, mais inteligentes? Será que acham que os outros estão ali a ver "montras"?

Um dia destes chateio-me e ergo a voz só para ver se os olhares "cegos" e copiados começam a ver que além de: "Obrigado", "Bom Dia" e "Com licença" existe um silêncio que deve ser respeitado, mesmo que se traduza num simples "Esperar".


Francisco Moreira
domingo, 11 de setembro de 2011

Nada

Com a quantidade de imagens com que hoje estamos sintonizados, é caso para dizer que, mesmo 10 anos depois, aquele despertar Americano fez com que o mundo se transformasse de vez num lugar menos bom, já que a maldade comprovou não ter fronteiras.

Há quem diga que hoje estamos mais seguros. Eu tenho as minha dúvidas. Acho mesmo que esta "publicidade" mundial fez (faz) com que se despertassem inúmeros seguidores de uma espécie de "15 minutos de fama", principalmente aqueles que sonham em ser notícia, em fazer notícia, independentemente dos danos necessários para chegarem a esse fim incompreensível.

O "9/11", inquestionavelmente, e enquanto habitantes de um mesmo mundo, fez-nos ceder e "aceitar" duas coisas: o bem nem sempre vence, e o mal tem armas poderosas.

Eu sei que posso virar o ponteiro da tristeza para outras calamidades, e daquelas que diariamente "consomem" mais vítimas do que as que se verificaram naquele dia de horror... E pena é que não mereçam o mesmo tempo de antena, para ver se também acordávamos para outros terrores, bem vivos, e há mais de 10 anos, de maneira a tratarmos melhor dos nossos.

Mas reportando-me ao mal e à insaciável vontade de o colocar em prática, recordando a emissão da RTP, Canal 1 - que vi estupefacto, na altura e hoje, apetece-me sublinhar que é uma pena constatar-se que o ser humano consegue ir do 8 ao 80... por nada, sendo que o tudo que argumentam, no final da vida, muito provavelmente, representará nada. E pior ainda é sentir-se que, se o deixarem, ele, o ser humano, fará de tudo para chegar ao 800... E por nada, recordo, mesmo que o nada, na vida, dependendo do lado em que se está, pode representar tudo.

Francisco Moreira

* Ah! E fiquei com saudade de ver a Andreia Neves a apresentar o "Primeiro Jornal". Excelente, principalmente por, na altura, ainda não ter anos e anos de traquejo. Também ela ficou para a história, por "fazer" história.
quarta-feira, 7 de setembro de 2011

Bis

Quem me conhece sabe que me dou melhor com a escrita do que com a leitura, ao ponto de, em 40 anos de vida, ter lido menos livros do que neste meu ano 41. E um dos livros que acabei de ler esta madrugada foi este, gentilmente oferecido. (Obrigado Miguel Gonçalves) Chega amanhã às prateleiras.
Conheci os "Sitiados" num álbum do "Rock Rendez Vous", lá na "minha" década de 80, ficando então apaixonado pelo "A noite" à primeira "ouvidela". E esta é uma canção que, mais de duas décadas depois da primeiras vez, ainda me embala as emoções. E tal como o Aguardela - porque foi assim que me foi apresentado., sorri quando ouvi a versão dos "Resistência", por ser pior, bem pior.
Quanto ao músico em si, entrevistei-o enquanto "Sitiados" e enquanto "Megafone", projectos bem diferentes, alturas bem diferentes. Gostei da sua honestidade enquanto artista, sem os "salamaleques" de outros, os que fui e vou encontrando pela frente...
Debruçando-me sobre o livro de Ricardo Alexandre: "João Aguardela - Esta vida de marinheiro", numa primeira análise, tenho que assumir que me comoveu, algo que aconteceu pela primeira vez num livro - leio muito poucos livros, recordo, e creio que só verto lágrimas quando os "acontecimentos" chegam "cá dentro".
E foi já com a "Vida de Marinheiro" a ser cantada por milhões que vi os "Sitiados" pela primeira vez ao vivo. Foi no "Infante Sagres", se não estou em erro, e com a queda do palco do Aguardela ou da Sandra. Fiquei impressionado com a energia que despoletaram numa sala longe de esgotar. Sim, valeu a pena ter aceite o convite da editora.
Mas, e o livro?
Bem, biografias musicais só li duas até à data, a de Bono Vox (sou fã) e esta, a de Aguardela (admirei-o).
O que dizer?
Tenho obrigatoriamente que registar que se lê muito bem, que preenche os vazios que desconhecemos em relação ao percurso, à pessoa, ao músico e, acima de tudo, vinca o orgulho do "marinheiro" em ser Português, em criar em Português.
Por outro lado, sendo do Porto, gostei de conhecer o seu lado nortenho, o sentir mais além e aquela certeza de que partiria com obra feita. Conseguiu. Parabéns.
Eu, talvez por estar blindado por mais de duas décadas de rádio onde o "comercial" asfixia tudo o resto, ouvi "Megafone" porque o Aguardela sempre me mereceu respeito, e quando assim é devemos ouvir com atenção os discos de quem vamos entrevistar, mesmo que eles custem a "entrar". Foi o que fiz, foi o que aconteceu.
Quanto aos "Linha da Frente" e "A Naifa", recordo-me que os nomes me foram apresentados como "mais alternativos", daí, como a gigante maioria, pensar exclusivamente e talvez erradamente em "Sitiados" quando se faz referência a Aguardela... (vou ouvir melhor os outros projectos, prometo!)
Em resumo, este "João Aguardela - Esta vida de marinheiro", pelas palavras do amigo e pelos inúmeros testemunhos com que o fotografam, homenageia um artista que não foi descartável e que, pelo que percebi, fez sempre o que quis, como quis, quando quis: "tudo para ontem, sendo que o seu ontem tinha muito amanhã".
Se Aguardela já merecia o meu respeito enquanto ouvinte e profissional de rádio, depois de ter lido este livro - que o (re)apresenta, e muito bem!, fiquei com a certeza de que quem "me" continua a cantar "só o sonho fica, só ele pode ficar" foi sempre autêntico, e só por isso, merece o meu aplauso, em pé. E que pena não poder gritar "Bis"!



Francisco Moreira
terça-feira, 6 de setembro de 2011

Entretanto

Ironicamente, o mundo que se anuncia como estando constantemente em excesso de velocidade, afinal está lotado de passageiros parados, embora certos de que continuam a correr.

Por vezes, quando olho para o como estamos, fico com a sensação - para não lhe chamar certeza! - de que a grande maioria de nós hibernou, e hibernou por descrença, pelo excesso de uso do "deixar andar", aquela moleta especial que serve para quase tudo, principalmente quando se é assolado pela inoperância e pela descrença.

Mas deixar andar o quê, quem, porquê, até quando?

É, esta moda do esperar pelo outro dia faz com que se desperdice o tanto que pode ser feito ainda hoje, acabando nós por coleccionar uma gigantesca quantidade ontem's, e logo daqueles que não são dignos de registo no calendário de cada um, tão simplesmente porque o que não foi feito acoplado ao que não se tentou fazer redunda num vazio, e de cansaço. É, isso também cansa, e muito!

Ironicamente, neste mundo onde andamos sempre sem tempo, fartamo-nos de desperdiçar horas e dias, justificando - a nós e aos outros - que temos isto e aquilo: aquelas invenções que angariamos na esquina do pensamento para que, diante de terceiros, se fique com a ideia de que não estamos parados. E chegamos ao ponto de nos convencermos a nós mesmos com as mesmas justificações, perdão, invenções. (anunciar que se fará não significa fazer)

E o que mais me custa neste nada fazer com muito para fazer é pactuar-se com o "deixar andar" porque, um dia destes, acredita-se, "a coisa pega", e aí é que será um "vê se te avias", e daqueles que saldarão a dívida que se colecciona - com inúmeros cromos repetidos - neste conjunto de nadas, o entretanto.


Francisco Moreira

Chegar



Está a chegar a altura de abandonarmos as tantas muralhas que nos impomos e com as quais pensamos estar mais seguros de um mundo cada vez mais invasivo.


Lá chegará o tempo em que seremos mais abertos, mais autênticos, mais normais, mais de acordo com a missão que nos trouxe para cá.


E isso só acontecerá quando nos livrarmos das amarras com que nos enjaulamos, só acontecerá quando aceitarmos que ganharemos muito mais quando formos verdadeiramente livres, sem as fronteiras do ter que parecer.


A que tempo me refiro?


Ao tempo em que passaremos a viver o tempo sem a pressa de fugir mas sim com a certeza de que haveremos de chegar.


Chegar onde?


Chegar a nós.


Francisco Moreira

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Fora da Asa


Hoje encerra um primeiro ciclo na vida do meu filho: o antes de ir para a escola. Sim,queiramos ou não, existe um antes! E até hoje, na verdade, a escola era dada exclusivamente por nós: pais e outros familiares.

E escola sim, porque, pelo que me disseram, onde ele entrará amanhã, já há matemática, além dos riscos e sarrabisos e tudo o resto.
Estou feliz.

Sim, estou feliz por tudo ter corrido tão bem, sem grandes percalços, sem doenças, sem problemas.

Sinto que todos contribuímos para um resultado excelente, por isso: missão cumprida.

E missão cumprida principalmente por todos estarmos orgulhosos pela forma como cresceu, como se desenvolveu, pelo que já é, e ainda a meses de completar 3 anos. Sabe muito bem, confesso.

Sei que amanhã começa o ciclo das preocupações - por passar a não estar "debaixo da asa" - : as doenças - que me deixam mais doente do que a ele, o choque de personalidades, as aprendizagens colaterais e tudo mais, aquilo que, mesmo só tendo um filho, tento assimilar como "faz parte".

Não, não tenho receio da forma como ele se envolverá, nem como se desenvolverá. Sei e sinto que está preparado para passar a um outro nível, "sei" que está preparado para ser mais ele, mais independente...

E o que mais me conforma é sentir também que o Anjo vai dar-nos muitos motivos de orgulho, e muito graças à sua inteligência, poder de observação, o ser tão sociável, naturalmente bem-disposto, etc. e tal.

Hoje, sinto-me um pai babado, tal como todo os outros pais se devem sentir nestas e em tantas outras alturas. E, já agora, sem me sentir o melhor pai do mundo, porque não o sou, sinto que tenho o melhor filho do mundo, porque o tenho, e sem o comparar com nenhum outro, porque é um sentimento "unipessoal", instransmissível e incomparável, pelo menos hoje.

Francisco Moreira

* Uma nota de agradecimento gigante para a minha irmã Manuela Moreira que, ao longo de quase 2 anos e meio, contribuiu imenso para o Ser que hoje já é o Anjo. Também me sinto orgulhoso dela, da "Tia Nela".

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Sempre algures entre o hoje e o amanhã, sem esquecer a memória.

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