sábado, 30 de junho de 2012

"15 Minutos"



Hoje, 30 de Junho de 2012, recordo uma batata frita na mão, daquelas que, aparentemente, num primeiro encontro, necessitariam de faca e garfo e que, mesmo sem intimidades, foram partilhadas entre um filme de pretexto e um chá de prolongamento, tendo 12 horas de assuntos como banda sonora do tanto que, em resumo, exigiu ao mundo o gerar de um filho, o expoente máximo da loucura, consta-se.

A vida tem destas coisas, destes cruzamentos, aparentemente sem fio por onde se lhe pegue, e que redundam num "Amo-te para sempre", signifique o que significar o tempo, mesmo sem relógio no pulso, mesmo sem contrato com assinatura de cruz ou testemunhas por convidar. 

Sempre fui dado a cartas de amor, principalmente naqueles dias em que não as escrevi, mas sem esquecer de as colocar no marco dos instantes, com mais ou menos assiduidade, é certo, mas quase sempre, porque assim quis, porque assim senti, porque é assim que deve ser... Ensinei-me, e bem.

Assumo que é difícil, extremamente difícil, pegar numa madrugada com data marcada e seleccionar as palavras certas, aquelas que deveriam brilhar como fotografias no espelho dos momentos, como calendário das provas dadas, como memória futura a usar em contraditório, se necessário fosse, sem que nunca nenhum dos ambos o exigisse, por não ser necessário, por ser simples, demasiado simples, afinal. 

É, aquela palavra gigante que não se consegue traduzir em sinónimos escritos mas que existe, porque a sentimos, porque a sabemos, tem destas rasteiras: deixa-nos sempre aquém do tanto além que construímos, observamos e vivemos, aconteça o que acontecer, já que o amanhã é sempre longe demais.

E lá chegará, ou não, o dia em que me imporei escrever o tal livro onde, sem romancear, resumirei os pormenores e principalmente os "pormaiores" que me fizeram consolidar a certeza de que o nós não tem que ser "apenas" a reunião de dois pratos singulares numa mesa da sala de estar, por mais que a matemática das contas à vida assim o determine, por mais que possa chover no dia seguinte, por mais promessas que façamos ao sol, numa qualquer uva-passa. 

Apetece-me fazer de ti notícia de primeira página e escudar-me numa crónica com assinatura inventada, para que, desta vez, não me reconheças. Apetece-me a usar o saber destes 9 anos para vestir a minha metade de criador do compêndio de recordações para que, numa espécie de aula de liceu, daquelas em que as faltas dão direito a chumbo, possa ensinar a outros que o possível existe, por mais perto que esteja do impossível. E isto, claro, só para poder comprovar que o "20" mais não é do que uma ponte para se insistir (connosco e com os outros) no que somos, fomos, seremos, se o destino - essa palavra inventada para servir de resposta, quando não há resposta - se impuser... 

Quero sonhar com o por lá, por aí, por ali, por acolá, por cá... E porque não?! Afinal, se acreditamos no mundo, podemos vangloriar-nos do que tivemos, temos e teremos, certo?! Podemos desejar que o nunca nunca chegue, e que o amanhã não passe de uma invenção de última hora, já que o hoje faz mais sentido, principalmente quando nos apoiamos nos álbuns da balança do ontem, aquela que sempre se manteve firme e sem pestanejar, porque existiu, existe, existirá.

Estou com aquela sensação esquisita do dia anterior ao fim das férias, tenham sido elas as que tiverem sido, aconteçam ou não. Refiro-me àquela irritabilidade de não querer embarcar para um qualquer lugar diferente do que sou, porque não me dou bem com mudanças, porque comprei todas as acções do slogan "em equipa vencedora não se mexe" e faço questão de as valorizar, compartilhar, saborear, eternizar.

É, também acho! Este aglomerado de meias palavras, provavelmente alinhadas com o madrugar da hora e sedentas de uma lua cheia, saem da órbita pretendida, talvez porque seja mais fácil uma "sopa de letras" instantânea do que um "cozinhar de vontade", por mais "gourmet" que tentemos ser ou parecer, em função das circunstâncias.

E... só de pensar que este "Parabéns" nasceu para ser uma carta de amor, envergonho-me de, por mais que tenha dito ou não, não ter conseguido transformar todos os parágrafos anteriores naquilo que é o mais importante de tudo e do todo: que, de mim em mim, foi em ti que me escolhi. 

Amo-te Muito!

Francisco Moreira 

* E foram 15 minutos de para sempre, aqueles tais que te dei...


quinta-feira, 28 de junho de 2012

"Pacote de Bolachas"



Lá para meados da década de 70, um simples pacote de bolachas, mesmo daqueles que só sabiam a bolacha, ou seja, simples, conseguia, bolacha a bolacha, "chinca" a "chinca", abrir em mim e em muitos outros um sorriso do tamanho do mundo. E até a brincadeira parava, automaticamente (o momento era "solene"). E sem que nos expressássemos, por (ainda) não sabê-lo e/ou compreendê-lo bem, comer aquelas bolachas era quase como sentir o mundo parar só para que pudéssemos deleitar-nos com aquele prazer, ora apressado, sem saborear, ora mais lento (geralmente quando estavam a acabar), saboreando cada milímetro daquele "manjar dos Deuses".

Sei que não se podem comparar os "tempos", inclusive em parcelas de carácter socioeconómico, mesmo estando-se em crise (na verdade, sempre estivemos em crise!), mas - e é por isso que escrevo estas poucas palavras. - pode recordar-se e, através do pensamento, contemplar o valor das coisas, o outro: das coisas simples, daquelas que hoje já não têm significado, muito por culpa da confusa e diversificada oferta que todas as prateleiras nos apresentam ao virar, por exemplo, de um posto de abastecimento (só haviam bolachas nas lojas). 

Hoje, mesmo sem ter ingerido qualquer bolacha (Maria), senti no paladar da memória o sabor dos outros tempos. E que sabor!

Não, não me vou precipitar numa ida a uma qualquer loja de esquina, e não só porque já não as encontro. Não, não me vou linkar a um site de hipermercado e pedir que me entreguem um pacote de bolachas em casa, mesmo sabendo que, no meio da viagem virtual, certamente que o "carrinho" viria cheio de muitas outras coisas, a maior parte "novas" e inovadoras, das que nunca sonhei poderem vir a existir... 

É, naquele 1975, do alto dos meus 5 anos de idade, a vida tinha muitas vezes e tão só o sabor de um pacote de bolachas, mesmo que houvesse um jogo de futebol "vital", na televisão ou na rua, em jeito de concorrência. 

Kiko

quarta-feira, 27 de junho de 2012

A NOSSA SELECÇÃO


Neste Euro 2012, e recuando para toda a fase de qualificação, começamos mal, muito mal. Prosseguimos mal, mesmo apurados, aquando dos "treinos", contra equipas que, geralmente, servem para nos dar "moral", já que estão em férias.

Jogamos mal frente à Alemanha, acordando depois do golo deles. E sentiu-se, finalmente, que, afinal, havia Selecção, mesmo que só nos últimos 20 minutos desse jogo, mesmo que só quando "encostada aos arames".

E tudo começou depois, depois, com toda a equipa - e perdoem - e com quem faz a diferença, quando a faz, fazendo mais vezes do que se consta: Cristiano Ronaldo, sim, o melhor. (é a minha opinião, não me crucifiquem)

Sempre que houve CR7, jogamos, e bem, principalmente quando a isso fomos obrigados, com garra, alma, com vontade. Conseguimos. E conseguimos voltar a ver um povo que quase nunca acreditou a começar a acreditar, lá, naquele jogo frente à Holanda. Foi aí que a vontade de hastear as bandeiras começou, foi aí que renasceu a vontade de ir ver os jogos para as praças, foi aí que os carros voltaram a buzinar... 

Sempre disse que, por mim, Paulo Bento e alguns jogadores não fariam parte da melhor Selecção, mas hoje, dando uma boa parte do braço a torcer, tenho que lhe dar os Parabéns, a ele e àqueles jogadores que demoraram a convencer-me (bem, há dois que nunca me convenceram!). 

Paulo Bento conseguiu construir uma equipa, uma equipa com entreajuda, com níveis e desníveis qualitativos (em termos de jogadores e jogo) que, na verdade, foram compensados e recompensados pela forma como quiseram e conseguiram calar todos aqueles que os criticaram. Afinal, assumamos, esta foi e é a nossa Selecção, porque é a que temos, gostemos mais ou menos. É a ela que temos que apoiar, sempre. 

Mas, em jeito de conclusão, e basta rever-se o jogo de hoje e o da Alemanha (além da "sorte" frente à Dinamarca), Portugal fez a diferença quando teve ao seu nível quem faz a diferença, daí ser considerado por muitos o melhor do mundo, gostem ou não do seu "estilho". Ele é um grande jogador. (ponto)

Hoje, por exemplo, Portugal não venceu só por causa da "lotaria", não venceu porque a afinação do capitão não esteve nos seus dias. É, repara-se mais e critica-se mais ainda quem está mais exposto, como é o caso. E hoje perdemos porque o CR7, mesmo correndo e correndo, não conseguiu, ou não o deixaram conseguir o que, como todos nós, também ele queria, e muito. Foi pena.

E com mais pena fico porque, além de sentir que golearíamos a Alemanha (fezada em nome próprio!) na final, percebeu-se que Cristiano Ronaldo, muito provavelmente, perdeu a final da sua e nossa Selecção (ele não é Espanhol.) e a bola de ouro, a qual para mim, merecia, depois da época extraordinária que fez.

Se a nossa Selecção merece ser recebida com aplausos amanhã, na sua chegada a terras Lusas, claro que sim! Passou de "menos " a "mais ou menos" e conseguiu chegar ao "mais", aquilo que sempre desejamos (todos), os mesmos ("todos") que duvidaram.

Perdemos e, pelo prolongamento, merecemos perder, já que os Espanhóis mostraram ter mais "vontade" de vencer o jogo. Mas, do mal o menos, saímos como Vencedores; já que ganhamos uma equipa, um país e, espero eu, uma Selecção com futuro, ou melhor, uma Equipa com futuro, mesmo com Paulo Bento. 

Francisco Moreira

* Gostei das prestações de vários jogadores, mas tenho que destacar Pepe como o melhor jogador da Selecção Portuguesa em toda a prova. Para mim, merece ser eleito o melhor do torneio.

* Ah! Não perdemos por causa do árbitro, desta vez.

terça-feira, 26 de junho de 2012

"Relato"



E lá vai Humberto Coelho recolher a bola... Desloca-se ligeiramente para a direita e entrega-a a Pietra... Pietra, sob o olhar do avançado da equipa adversária, não hesita e atrasa o esférico para Bento, o guarda-redes da equipa das quinas... 

O jogo mantém-se a zero, e nota-se algum nervosismo misturado com a confiança de milhares de Portugueses no estádio, milhões de Portugueses a ouvirem e a sentirem através deste rádio...
Vamos lá, Portugal! Vamos lá, Portugal!

Vítor Baía passa a bola ao nosso lateral João Pinto que, por sua vez, a faz percorrer uns bons 30 metros, para o outro lado... E lá vai a redondinha na direcção de Paulo Alves, o qual, sem perder tempo, a passa para Manuel Fernandes...

Rui Costa dribla um, dois, três adversários e tenta metê-la com precisão em Sérgio Conceição, mas o defesa contrário antecipa-se, atirando a bola para a bancada...

Portugal está a amedrontá-los, aos 11 e a todos os que pensavam que este jogo decisivo eram "favas contadas".

O apanha-bolas entrega o esférico a Diamantino que, por sua vez, sem perder tempo, a atira para Fernando Gomes... E Gomes resiste ao ataque de dois adversários, dando um ligeiro toque para João Alves, o luvas-negras da nossa selecção, aproveitando-se este da excelente finta sem bola por parte de Domingos.

Persente-se que Portugal está mais forte. E depois de um drible fantástico, Paulo Sousa troca de posição com Luís Figo, permitindo que, com um inteligente jogo de cintura, se confundam os adversários, 3 de uma vez... Até parece o "Bailinho da Madeira".

Mas atenção, atenção, lá surge Jordão, e sozinho à entrada da meia-lua da área adversária... Será que arrisca o remate, ou passará para Frasco?

O jogo está bom. E faltam 3 minutos para o fim. Basta um golo, meio golo, que seja. Portugal tem que vencer.

Vamos lá, Portugal! Vamos lá, Portugal!

Oceano está com vontade e tabela com Shéu, o qual, sem perder tempo, faz questão de, num passe longo, colocá-la em Chalana... E lá vai o nosso criativo, lá vai Chalana, com Vítor Paneira a seu lado, como que a protegê-lo de quem lhe quer cortar o caminho..
.
Força, Portugal! Vamos conseguir! Há 10 milhões a acreditar, 10 milhões a sofrer, 10 milhões a rezar... 10 milhões a quererem festejar... 10 milhões com orgulho em serem Portugueses.

Mas vamos com calma, ainda temos 2 minutos... 2 minutos... para evitar as grandes penalidades... Queremos um golo de ouro do nosso Portugal...

A bola pára na relva e vê-se Damas a avançar no terreno em passo de corrida, vai juntar-se aos seus colegas... Com ele sobem também Abel Xavier, Jorge Costa, Dimas e Paulinho Santos...

Portugal pressiona já no campo adversário... E é verdade, inclusive com o guarda-redes... Há que tentar, há que acreditar...

Atenção, atenção,... prevê-se o cruzamento de, de... de Álvaro Magalhães, nem mais! O defesa já está na linha lateral junto à área adversária... Os outros estão a defender com 11, e até o arbitro lá está... Que sufoco!

Sente-se, sente-se... sente-se que Portugal pode marcar... É agora ou nunca, agora ou nunca... É agora! Tem que ser agora!

O esférico já está com Inácio que, afinal, não cruza, passa a Jaime Magalhães, que, por sua vez, sem oposição, deixa a bola com Paulo Futre...

Vai, Paulinho! Vai, Paulinho!

E já é Capucho quem entra com a bola na grande-área, finta 1, finta dois, finta 5 e, atenção, caros ouvintes,... É Penalti.

O que se passa?! O árbitro conferencia com o bandeirinha e - que nervos, que nervos! - com coragem, mesmo contra a equipa Campeã do Mundo, aponta para a marca dos 9 metros...

É mesmo penalti! É penalti a favor de Portugal.

E já passa da hora...

Que nervos, que nervos, caros ouvintes!

Quem irá marcar? Quem terá coragem, já que tem todo um País sob a costas?!

Atenção, Nené dá um passo, dois passos e chuta sem dar hipóteses.

Goooooooooooooooolllllllllllllllooooooooooooooooooo!

E é de Poooooorrrtttttuuuuuuggggaaaaaaaaaaaaaaaallllll!!!!!!!!!
Kiko

* Muitos outros jogadores que representaram - e bem - a nossa selecção nas décadas de 70, 80 e/ou 90 merecem destaque, mas a crónica já estava demasiado extensa. Que me perdoem, eles e os adeptos deles.

"Um chapéu aos quadradinhos"


O S. João da década de 80, comigo a "teenager", era um momento único. Não pelas sardinhas (nunca me chamaram!) nem pelo caldo-verde, mas sim pela envolvência. Envolvência essa que reunia um grupo gigante, misturando amigos de "rua" com amigos de escola e - mais interessante ainda - com amigas de amigos nossos, gerando aquele "frenesim" de: " - Ei, viste aquela?! Ainda vou dar uns beijos com ela na Foz!". É, o S. João sempre foi muito mais do que carroceis, "um chapéu aos quadradinhos" ou cervejas quentes (molhadas por fora). 

A concentração acontecia junto à Câmara de Gaia (uns 4 quilómetros a pé, desde a minha casa da altura). Depois, já com uns 40 ou 50 elementos, lá íamos Avenida da República abaixo até à Ponte D. Luís I, para sentir o tabuleiro inferior a tremer, geralmente depois do fogo de artifício. 

Depois, geralmente, lá se ia às Fontainhas (fazia parte), para os apertos e mais apertos, sempre com paragens para recontar os elementos da equipa, entre os incessantes " - A minha é a maior!" e, claro, mais umas "Super Bock" vindas directamente das bacias com água e gelo que preenchiam os passeios do nosso destino. 

A rotunda da Boavista (quando ainda funcionava, com carroceis e tudo) também tinha passagem obrigatória, tal como Miragaia e o seu (ainda) famoso baile. 

Por fim, claro, a ida à praia, lá para os lados da Foz, já com desistentes a ficarem pelo caminho, entrelaçados ou desgastados.

Naquela altura, do alto dos meus 16 anos, com as férias grandes a entrarem em cena, o S. João, por si só, era a festa que, por excelência, poderia gerar inúmeros sentires: saudade, alegria, euforia e cansaço. 

Saudade, claro, dos bons momentos passados no ano lectivo que chegava ao fim, principalmente quando se sabia que se mudaria de escola ou que se "perderiam" muitos dos ex-colegas de turma.

Alegria, claro, pelo que se iria viver - pensava-se, desejava-se e sonhava-se - naquela noite de S. João, uma noite que, a correr mesmo bem, terminaria com uns valentes "beijos" lá para os lados da foz, num recanto de areal. 

Euforia, claro, porque havia sempre uma ou outra potencial conquista feminina que, em sinais (sonhados, constatáveis ou inventados), davam azo a que se imaginasse um resto de noite realmente "apaixonante".

Cansaço, claro, porque quilómetros e mais quilómetros depois (dezenas), era penoso, mesmo muito penoso ir a pé da Foz, já com luz do dia, até à Madalena.

Enfim! O S. João já não é o que era. E apetece-me sublinhar que era, era mesmo. 

Kiko
quarta-feira, 20 de junho de 2012

"Renault 5" - Parte 2


Como certamente todos saberão, e sem necessidade de fazer desenhos, as experiências num primeiro automóvel - "milhares de quilómetros", no caso - são inúmeras, pelo que, com mais ou menos "bolinhas" no canto superior direito do vosso monitor, obrigo-me a (só!) dar títulos, deixando os subtítulos e eventuais desenvolvimentos ao sabor da imaginação de cada um, e por cada um, não por mim. Percebido?! 

Não especulem nem inventem. (não direi NADA por muito que pareça dizer)

Para que se entenda, e bem, os pontos que se seguem referem-se e experiências num "Renault 5" antigo, um dos primeiros modelos, vivenciadas entre finais da década de 80 e meados da década de 90.

> Furar um pneu e ir arranjá-lo era um bico de obra, mas funcionava como "portefólio". Mudá-lo, na altura, era muito mais simples do que hoje (por causa das chaves de rodas e parafusos especiais que o presente dita).

> Ficar sem gasolina "super" era algo comum, já que se abastecia mais vezes com moedas do que com notas, e o ponteiro da reserva, convenhamos, era tecnologicamente "lento". Já agora, e por falar em dinheiro para abastecer, cartões, convenhamos, nem de pontos, quanto mais de débito ou de crédito. 

> Lavar o carro, mesmo com máquinas que já o faziam, era tarefa de homem, principalmente com o peito ao léu, de chinelos e com a rua por nossa conta, durante umas duas horas. (consta-se que já era proibido) 

> Baixar os bancos (com aquelas "rodelas" sempre perras) era tarefa complicada, principalmente quando havia urgência em não deixar fugir o "clima", o tal do: "- Vamos ficar mais à vontade?!".

> Uma toalha de praia na mala do carro, mesmo no inverno, era sempre útil, por causa do frio e, já agora, para reduzir significativamente o ângulo de observação dos mirones (cuscos ou aprendizes, nunca entendi!). 

> Uma garrafa de água era "recado" sugerido que os mais velhos nos davam, para o caso de o radiador começar a verter, coisa normal nas viaturas de então. (esta era uma das mais complicadas anomalias, pelo menos nas contas dos mecânicos, os "sabichões-mor" de então)

> Ficar-se atolado na areia, nas viagens (inúmeras) à praia mais próxima (ou distante, dependendo da "ladainha" de cada um), por vezes, era merecedor de esforço conjunto, graças à solidariedade de outros condutores (homens, sempre), daqueles que também apreciavam o "ar fechado" à beira mar.

> Ter vidros completamente embaciados, na verdade, era um excelente sinal, mesmo que, na hora de levantar os bancos e pôr a viatura a caminho, gerassem imenso trabalho, por causa de uma "chauffage" que, convenhamos, não se comparava ao ar condicionado na arte de (já) permitir visibilidade. (Santos lenços de papel, por serem bem melhores do que aqueles panos cor-de-laranja que sujavam mais do que limpavam.)

> Chegar aos locais de "ver o mar e as estrelas", para um condutor simpático e experiente na matéria, era feito com os faróis em mínimos, de maneira a não incomodar quem já estava estacionado. 

E muito, muito mais... Mas, com o avolumar de sílabas a gladiarem-se com o espaço desta crónica, é melhor ficar-me por aqui, não vá derrapar por pormenores que, sendo comuns a muitos, possam gerar vontade de (muitos dos muitos) voltarem a querer ter o primeiro automóvel das suas vidas, quanto mais não seja para mudarem o óleo... à memória. 

Kiko
sábado, 16 de junho de 2012

"Renault 5" - Parte 1



Fui um daqueles casos raros, na década de 80, que teve carro antes de ter carta de condução. E o meu "Renault 5" - o carro mais vendido na altura, ficou da minha irmã Portuguesa para mim, oferecido pela minha irmã "Brasileira", que ofereceu o primeiro carro a ambos. 

E não tendo garagem, lá se arranjou um local onde o carro hibernou à espera do seu próximo condutor: o "medricas" que se recusou a conduzi-lo por não estar habilitado para tal.

Infelizmente, reprovei uma vez no exame de código e outra vez no exame de condução, o que fez com que a carta, conquistada (e mal) em 1989, acabasse por custar quase 100 contos, o dobro do que custaria se eu tivesse passado à(s) primeira(s). É, demorei 1 ano a tirá-la. E o "Renault 5", com a sua cor peculiar: "verde-escarro", lá se manteve, paciente, à minha espera. 

A 6 de Agosto de 1989, lá consegui ter direito a comprar o "ovo estrelado", um autocolante obrigatório para quem era maçarico. Este autocolante amarelo, que se colava nas traseiras do carro durante 2 anos, impedia que se ultrapassassem os 90 km/hora e permitia que se levassem "bocas" dos outros condutores, os "profissionais", constantemente, tipo: dia, sim, dia, sim.

Mas... 90 km/hora, isso não era muito?! Era muitíssimo. Já que, para mim, nos primeiros dois meses, ultrapassar os 40 era um problema, principalmente pelo facto de os 90, no conta-quilómetros, estarem demasiado próximos dos 160, o máximo.

Lembro-me de aselhices extraordinárias, assim ao jeito de "que vergonha".

Com um amigo, o Vitó, já encartado e bom condutor, no meu primeiro dia a conduzir a sério, fui em frente num cruzamento, indo parar ao meio das árvores, num pinhal. Por sorte, e porque ele "sacou" do travão de mão, o "KIS" (como apelidei o carro, por causa da marca da chave, e por ter um "K" de Kiko) não sofreu nenhuma arranhadela. Ufa! (quase desisti para sempre)

Ridiculamente, quase impunha aos meus "passageiros" (quanto menos, melhor) que saíssem do carro para irem ver se vinham carros da Avenida Gomes Júnior, já que a minha Rua da Pitada não me dava raio de visão suficiente para avançar com confiança. (o ponto de embraiagem era um dilema - queimei algumas)

Nas viagens, obviamente, só se poderia falar do indispensável, porque eu tinha que estar concentrado à "Paulo Futre", tamanho era o receio de bater ou de me baterem, no carro, claro.

Circular na autoestrada?! Nem pensar! Antes de ter coragem para essa aventura, tinha que treinar muito pelas ruas da Madalena, Coimbrões e Valadares, e de preferência em horários com redução significativa de fluxo automóvel. 

Qual o local de verdadeiro trânsito que me punha a mais "milhas" dele? A rotunda da Boavista, sem dúvida. Que "medo"! (Eu achava que quem conseguisse conduzir naquela rotunda, conseguiria conduzir em qualquer parte do mundo. E que eu não estava à altura, já que para fazer inversão de marcha na minha rua - deserta - havia que ter tempo e tentativas a condizerem.)

Uma das partes que mais apreciava no ter carta - pasmem-se!- era lavar o carro na minha rua, com todos os apetrechos e mais alguns, os quais me ajudavam a retirar-lhe o excesso de champô (auto, claro!) com que sempre o contemplava. 

Sim, usava aquelas "árvores de cheiro". Sim, tinha um auto-rádio foleiro. Sim, cheguei a ficar sem gasolina. Sim, fui enganado por mecânicos. Sim, vi o carro a ser assaltado, e mais do que uma vez. (mas eram simpáticos, já que não partiam os vidros, nem causavam grandes danos)

Sim, sim e sim... a mais uma série de coisas... Sem esquecer as paragens para "namorar" junto ao areal... 

Kiko


quinta-feira, 14 de junho de 2012

"O Brasília"


Numa altura em que uma das mais emblemáticas zonas da cidade do Porto, a Boavista, tem um Shopping Center encerrado há anos, o "Dallas", um outro que o querem deitar abaixo, o "Cidade do Porto" e ainda um terceiro que está completamente "moribundo", o "Brasília", opto por relembrar alguns dos momentos que por lá fui passando, pelo "moribundo", aquele que, infelizmente, passou de platina a latão, na escala de poder e glamour dos centros comerciais, que era como se denominavam, julgo.

Quando abriu, há 35 anos atrás, e durante muitos, muitos anos, havia quem dissesse e sublinhasse que o "Brasília" era um dos melhores da Europa, porque, em termos de comparação com o resto do país, não haviam dúvidas: era incomparável.

Foi no "Brasília" que passei grandes momentos na discoteca "Brasília Club".

Foi no "Brasília" que vi e tentei aprender a dançar "Breakdance".

Foi no "Brasília" que subi e desci vezes sem conta as escadas-rolantes, as minhas primeiras, talvez.

Foi no "Brasília" que comprei as primeiras alianças de comprometido em ouro, e numa ourivesaria com o meu apelido de então.

Foi no "Brasília" que passei tardes e mais tardes de Domingo a fazer companhia ao pai da minha namorada da altura.

Foi no "Brasília" que comprei o meu primeiro bilhete de avião, na TAP, para ir ao Brasil.

Era para o "Brasília" que muitas vezes me dirigia; primeiro de autocarro(s), depois à boleia e mais tarde já a conduzir o meu "Renault 5 GTL" de cor "verde-escarro". (uma dia contarei a minha vida com ele, o "KIS", como o baptizei, ou talvez não! - risos)

Ironicamente, mesmo sabendo que o "Brasília" está "moribundo", continuo a passar por lá quase todos os dias 23 ou 24 de todos os Dezembros, para fazer algumas compras de Natal. Acho que é por puro saudosismo, porque, geralmente, o que compro, são "opções auto-forçadas", para dizer que lá fui, que fiz compras, ou melhor, que ainda lá fiz compras, poucas, vá! Tenho esta mania de me afeiçoar às coisas... para sempre, a mesma mania que tenho para com as pessoas, os lugares...

Doí-me ver o melhor Shopping Center "deitado à porta da rua por cima de um papelão de esperança", da que já não o é há anos e mais anos. Dói-me este coma profundo e sem sinais de hipótese de vida que tentam afundar algumas das muitas boas memórias que de lá trouxe. Mas, sonhador que sou, ainda acredito - com dificuldade - que, um ano destes, alguém pegará numa "lata de tinta" e pincelará todo o tanto que o "Brasília" já foi, nem que seja para eu ter onde fazer todas as compras de Natal, lá nos dias 24, como aprecio.

É que foi no "Brasília" que eu e muitos também crescemos um pouco... ou muito.

Kiko

* Uma nota para o "Dallas", porque também merece ser relembrado. Foi no "Dallas" que comprei alguns dos melhores LP da minha vida, como por exemplo o "Slippery when wet", dos Bon Jovi, e o "Rebel Yell", de Billy Idol, entre tantos outros. (numa discoteca que ficava quase à entrada, depois de se subir toda aquela imponente escadaria)

terça-feira, 12 de junho de 2012

"Pelos Públicos"



Isto de se ser puto e querer-se muito, mesmo muito, ser-se homem depressa e bem, ou seja lá como for!, desde que o sejamos, "obriga-nos" a cometer erros que ficam para sempre, por mais banais que o sejam.

Estou a referir-me, tão simplesmente, a esta chatice de, hoje, ter que "desfazer" a barba mais vezes do que desejaria, porque cresce depressa.

Não tenho nenhum dado científico que comprove que a barba de hoje tem a ver com o "desfazer-me" dela (inexistente) naquela altura precoce, mas que me serve de moleta, lá isso serve. A mim e a muitos, presumo.

E tal como muitos rapazes daquela idade, também eu peguei nas "Gillette" do meu pai para rapar os pelos que mal se viam com o intuito de os enrijecer e os fazer aparecer, para ser homem mais rapidamente, está claro. E porquê? Porque, com 12 anos, também já achamos que somos crescidos e que o problema é o nosso corpo não acompanhar essa "adultice", julgamos e sublinhamos, inclusive nos diálogos com os da nossa geração, todos vitimas desse "peso" que é ser-se novo, demasiado novo.

Do rapar do "bigode" ao peito e aos sovacos (se bem me lembro), foram algumas as vezes em que fiquei decepcionado ao olhar para a resultado que a lâmina me apresentava ao lavá-la: nada de nada. Se não haviam pelos, logicamente, era natural que a lâmina não os inventasse por magia, por desejo!
O desfazermo-nos dos pelos "transparentes", em jeito de exemplo, é quase como  (imagino) as raparigas usarem roupa que crie a ideia de que existe mais volume onde não existe. No fundo, convenhamos, a teoria é a mesma, embora em sentido contrário. (não, não me vou pronunciar sobre eventuais truques avolumares, que cheguei a ver)

Não menos bizarro, naqueles outros tempos, a seguir ao "podamento capilar", era colocar álcool na cara - versão antiga de after-shave, para que, pelo menos mentalmente, aquela actividade adulta - à homem, mesmo homem! - fosse feita com princípio, meio e fim, mesmo quando o fim, na prática, era sempre o mesmo: pele de bebé.

Kiko
sábado, 9 de junho de 2012

"A nossa Selecção"


É, neste verão de 1982, ainda só tenho 12 anos, mas já sou Português de bilhete de identidade na mão, e com assinatura direitinha, com todas as letras treinadas desde a escola primária.


Aqui ao lado, em Espanha, está a acontecer um Mundial de Futebol. E a minha televisão "Grundig", a preto e branco com celofane azul, sob o patrocínio da minha Mãe, deixa-me ver alguns jogos. E já que não está lá a nossa Selecção, porque ainda somos pequeninos, mesmo havendo aquela outra altura do "Pantera Negra" - a qual me contaram ter sido um sucesso, torço pelo Brasil, o "meu" Brasil... emprestado. 


Mas eu acredito. Acredito que um ano destes, os jornais e as televisões de todo o mundo irão falar de Portugal, do meu Portugal... Tenho fé, muita fé!

Daqui a 2 anos, em 1984, no Europeu, por exemplo, ainda iremos às semifinais, mesmo que percamos contra a França do Platini.
Daqui a 4 anos, em 1986, já no Mundial, 20 anos depois do tal 1966, ainda iremos ao México, mesmo que percamos por "trocas e baldrocas".

Daqui a 14 anos, em 1996, novamente num Europeu, ainda haveremos de ir aos quartos-de-final, nem que o Poborsky faça um chapéu ao Vítor Baía.

Daqui a 18 anos, em 2000, acredito que iremos defrontar a França novamente numa semifinal, mesmo que o braço do Abel Xavier dê direito a um penalti que nos afaste já no prolongamento. 

Daqui 20 anos, em 2002, iremos ao Mundial do Oriente, mesmo que o João Pinto dê um murro ao árbitro e saiamos de muletas ao jeito do seleccionador.

Daqui a 22 anos, em 2004, estou em crer, já teremos peso no mundo do futebol Mundial e deixar-nos-ão organizar um Europeu, mesmo que na final percamos com a Grécia e choremos baba e ranho.

Daqui a 24 anos, em 2006, haveremos de estar em mais um Mundial, mesmo que fiquemos em 4º lugar, por perder com a Alemanha.

Daqui a 26 anos, em 2008, tenho a certeza de que iremos a mais um Europeu, mesmo que percamos nos quartos-de-final, e uma vez mais com a Alemanha.

Daqui a 28 anos, em 2010, quase aposto que voltaremos a marcar presença num Mundial, mesmo que a Espanha nos afaste nos oitavos-de-final da prova. 

Daqui a 30 anos, em 2012, ainda seremos campeões da Europa, mesmo que percamos todos os jogos, se não os ganharmos a todos, para espanto geral.

É, eu sei que só estou a sonhar! E que a nossa Selecção, de tão pequenina que é, neste 1982, certamente que não terá presença em mais do que um ou outro Mundial ou Europeu, e que, para sentir (pelo menos um pouco) este meu ser tão Português, lá terei que continuar a torcer pelo "meu" Brasil, mesmo que ele não jogue na Europa.

Por isso, e desde já, 30 anos antes, assumo que quando chegar a 2012, contar-vos-ei se acertei em todos os meus sonhos e prognósticos, e a cores, imagino.

Kiko

"A Primária"


A minha escola primária, a do Maninho, Madalena, Vila Nova de Gaia, foi - para mim, como é para todas as crianças, imagino, o nascer para a sociedade, ao jeito de "Portugal dos Pequeninos", já que parecia ser tão grande, mesmo não o sendo, até hoje. 

Estar naquela sala de madeira (futurista para a altura) foi o ponto de partida para muitas aprendizagens: o ficar a detestar leite (até hoje), o recear reguadas, o copiar a Matemática (pelo Vitó), o coleccionar de cromos de futebol (comprados numa tasca de uma rua próxima), os intervalos de meia-hora (que serviam para fazer tudo... ou nada), o correr para casa (para ir ver a novela que dava à hora do almoço), o ganhar um chocolate grande (quando fazia anos), o prémio por não dar erros (livro "Pasteur", que li quatro vezes num ano, sem gostar de ler livros, até hoje), a primeira paixão (pela Maria João, da sala ao lado, o direito), o assistir à forte "canada" que, acidentalmente, a Esmeralda deu no professor, quando ele entrou na sala (confundiu-o com um colega da turma), os passeios de camioneta (com comprimidos para o enjoo), o plantar das árvores no dia da Primavera, os primeiros golos, marcados e sofridos, as escondidinhas e tantas outras coisas...

A escola primária, aquela que associarei para sempre ao grande Professor Sílvio, foi a que me fez conseguir ter letras arredondadas e legíveis (coisa que não tenho hoje), foi a que me fez perceber que haviam amizades, horários, responsabilidades, receios e, já agora, fins de semana, feriados e férias... pequenas e grandes.

Ao olhar para a fotografia (da praxe) que tenta "colorir" estas palavras, além de todas as tantas memórias que me aparecem em mente (fora todas as outras que se perderam, infelizmente), faço questão de destacar o meu lado mais tímido, de menino bem comportado, aplicado (menos na Matemática, até hoje), algo que, presumo, se deveu em grande parte à imagem que absorvi do meu Professor de então (a maioria das turmas tinham professoras, estou em crer), o tal que, uns anos mais tarde, vim a saber, suicidou-se (fiquei tão triste, quando o soube), por amor, supostamente. 

E este não era um professor qualquer, foi o melhor que tive até hoje. Um professor que me inspirava tanto que, durante décadas, copiando-o (já que ele rubricava os testes com um "S", de Sílvio), em cima do (meu) "nome" Kiko colocava sempre um "S", e com sublinhado (fi-lo até aos vinte e muitos anos).

A escola primária, é um facto, deixa-nos muitas marcas (boas, principalmente), mas os professores primários, imagino, deixam ainda mais. Obrigado, Professor!

Kiko

* Infelizmente, já são raras as vezes que vou passando por aquela escola (agora transformada em infantário), mas sempre que o carro me leva por lá e dá "boleia" ao meu filho, lá lhe vou repetindo: "Olha, aquela é a escolinha onde o pai andou!", como que a dizê-lo a mim mesmo que há vidas que ficam para sempre na vida de cada um de nós, vidas que se traduzem em saudades. 
terça-feira, 5 de junho de 2012

por AQUI e por AÍ


por AQUI e por AÍ

Consta-se que nos aguarda o dia em que passaremos a pó, e daquele que esvoassa num único fôlego, por mais que o tentemos agarrar, por mais episódios que se tenham coleccionado na gaveta da memória, na nossa e na dos outros, sejam eles dos nossos ou longe de o terem sido.

E as memórias, por mais defeituosas e incompletas que estejam, consta-se também, devem ficar como páginas soltas de cada um, para que, uma hora dessas - as que já não serão nossas, alguém as possa retalhar com a navalha da curiosidade ou no funil da saudade, induzidos pelas sílabas que ficam num qualquer papel real ou virtual ou nos aglomerados de pixels que sobrevivam ao delete que cada ponto final impõe.

Ainda não sei bem como gostaria de ser lembrado. Mas já tenho muitas histórias, daquelas onde nem sempre fui realizador. Daquelas que, por mais que as tente repetir ou descrever ao pormenor, sei, jamais atingirão nos outros o efeito que conseguiram em mim.

Tudo o que de nós contamos, na verdade, ficará sempre incompleto, seja pela ausência in locco do personagem ou por descontextualização temporal, a que se define em sentires, já que é impossível sentir-se tal e qual, e muito menos por interposta pessoa. E os pormenores, por mais detalhados que pareçam, jamais atingirão o epicentro do que se pretende transmitir, por já não se estar lá, por não haver o voltar atrás, julga-se e acredita-se, mesmo que não piamente.

Seremos pó, por mais compêndios que deixemos escritos. Seremos pó, por mais sementes que deixemos plantadas. Seremos pó, por mais que nos desmultipliquemos em episódios do que fomos na intermitência da vida.

A vida não pára. É um facto. A vida pára. É outro facto.

E nem sempre os outros terão tempo para (re)pararem em nós. Mas, por um minuto que seja, se conseguirmos voltar a acontecer em quem apreciaríamos continuar a "viver", todas as horas dispendidas a pintar emoções, acredito, valerão mais do que todo o tempo em que desperdiçamos o presente em nome de um futuro que se limitará a transformar-nos em passado.

Hoje sei que sou presente com passado. Hoje não sei se terei futuro.
Hoje tenho memória, e faço questão de deixá-la por aqui... e por aí.  

Francisco Moreira

"Nuno"



É, hoje, talvez cansado de mim, vou falar de outra pessoa: o Nuno. Mas este Nuno não é mais um Nuno, é um Nuno que, como muitos Franciscos, por exemplo, só passou a Oliveira uns bons anos mais tarde. O Nuno, por assim dizer, era aquele vizinho de idade idêntica à minha que, talvez por morar a uns "distantes" 300 metros do meu "Nº63" e por não ter feito parte da minha sala da primária, começou por ser (tão só) o irmão do Pedro.

Mas, afinal, quem é o Nuno?!

O Nuno foi e é aquele tipo porreiro que nunca dizia nada ao tudo e que raramente amuava, ao contrário de mim, o seu "oposto". O Nuno foi aquele rapaz que me apresentou à directora Cármen e ao dono Zé Manel e lhes disse que eu, que tinha sido locutor de dia, afinal, queria ser como ele - técnico de som, mas a fazer madrugadas, porque me passou pela "telha". E fi-las, às madrugadas, muitas, na Rádio Clube de Gaia, aquela que, mais tarde, transformamos juntos em Rádio Minuto. 

O Nuno era aquele tipo que, sem maldade, prometia para o amanhã aquilo que só fazia na semana ou no mês seguinte, e se o chateássemos muito. O Nuno era aquele rapaz bem apessoado mas sem salamaleques que todas as raparigas achavam que seria o melhor namorado do mundo. O mesmo que, por (ainda) ter paranoia com o condução, teve o azar de ter que me ouvir pacientemente nas inúmeras viagens que fizemos entre a Madalena e a Maia, e outras. 

O Nuno foi o mesmo que me ensinou a "pistar" cassetes e bobinas de publicidade e afins, o tal rapaz que se fez homem e que, além de me ter desenrascado algumas importantes vezes, fez comigo Karaokes, animações de hipermercado e voltas a Portugal em bicicleta, mas de carro, além de muitas outras coisas.

O Nuno foi aquele amigo próximo que, como já se percebeu, sempre teve pachorra para me aturar e - que me lembre (!), nunca me permitiu aturá-lo, por ser assim: simples, discreto, na dele, mas com ideias próprias, personalidade, convicções, paciência e um enorme coração, mas sem querer dar "nas vistas".

O Nuno foi quem partilhou comigo o meu primeiro gabinete. (coitado!) 

O Nuno foi quem assistiu de perto aos muitos palcos por onde andei. Afinal, era ele quem me dava "fio" para acontecer. 

Mas o Nuno (e eu) fomos engolidos pelo tempo (e não faltam "Nunos" em cada um de nós, faz parte da vida, consta-se), já que fomos deixando que os quilómetros das cidades e dos relacionamentos (não em comum) nos pusessem mais distantes, sem sabermos quase "mais nada" um sobre o outro, embora certos, cada um, de que se estava relativamente bem, conseguindo-o nas entrelinhas das leituras que recolhemos, um no outro, por escrito e pelo que outros nos relatavam.

O Nuno é quem está na fotografia, sim, naquela aqui em baixo, onde sou eu quem aparece. Foi ele quem a tirou, aquela e outras, num carro com que percorremos o país e com o qual descemos a Avenida da República, em Gaia, a quase 200 à hora (os ciclistas vinham atrás), passando à porta de onde trabalhamos e de onde fomos despedidos.

Sei que ficaram a saber muito pouco sobre o Nuno, aquele Amigo que, mesmo mais distante, guardo há décadas (tenho esta mania de os querer muito tempo, menos quando os perco, ou me perdem), mas preferi apresentá-lo assim, à sua maneira, já que o mais importante, quando se fala de pessoas que (nos) são especiais, não é dizer como são, mas sim que o são.

Kiko 
segunda-feira, 4 de junho de 2012

"Baixa Definição


Gosto de futebol. Vibro com a Selecção. E, noutras provas, tive prazer, piroso ou não, em colocar a bandeira na janela. (sempre que viajei, levei uma na mala)


Hoje, no entanto, na hora em que a Selecção Portuguesa aterra lá no Campeonato da Europa, ainda estou a léguas deste Euro, ao ponto de (ainda) não ter tido curiosidade em ver o Paulo Bento no "Alta Definição" do passado sábado (está gravado, à minha espera) nem tão pouco tenho espreitado os diários televisivos. Limitei-me a ver os jogos de preparação, e num deles desisti a meio, para fazer algo que não era interessante, mesmo parecendo-me mais interessante. 

Sábado, Portugal entrará em campo, e logo frente à "descolorida" Alemanha (Bayern). Depois, seguir-se-ão a "vulgar" Dinamarca e a "coitada" Holanda (por perder sempre connosco). Ou seja, noutra altura, mesmo num grupo de morte, sentiria que tínhamos tudo para conseguir ultrapassá-los, mesmo que perdêssemos, que ao menos tentássemos, com garra, com camisola, com equipa (técnica incluída), com um país junto a sofrer, a sonhar, a vibrar, a acontecer.

Hoje, mesmo vendo-os no "Telejornal", continuo "cinzento e sereno", infelizmente. 

Sábado, espero, vou tentar que o vírus futebolístico me encontre (e eu a ele), já que, com tanto cinzentismo em torno da nossa Selecção - o meu e o de quase todos, ou isto muda e a equipa (técnica incluída) passa a bestial (mesmo podendo perder) ou... trocarei o Euro pelas gravações do "Alta Definição", aquelas em que Portugueses, com mais ou menos lágrima, me vão fazendo sentir muito bem em ser Português.

Francisco Moreira 

* Que a ida de CR7 ao "Alta Definição" no dia do primeiro jogo seja um bom augúrio. (sorrisos)
sábado, 2 de junho de 2012

"Festivais"


Numa altura em que arrancam os Festivais de Verão, penso eu, faz todo o sentido puxar pela "moleirinha" para tentar responder à seguinte pergunta:

- Qual foi o primeiro festival de música a que foste, Kiko?

Bem, com fortes hipóteses de errar, acho que foi um tal de "minifestival" que aconteceu na minha freguesia, a Madalena (ainda é freguesia!), lá para o enorme pinhal onde, actualmente, está estacionado um dos maiores parques de campismo da Europa, o "Orbitur".

Se bem me lembro, neste festival de "heavy metal" (na falta de quase tudo, tudo servia!), estiveram 2 ou 3 bandas, das quais só tinha ouvido falar "ao de leve", porventura por se falar delas exclusivamente por causa do tal festival, em cartazes a preto e branco colados pelas paredes por onde passávamos.

Com grandes hipótese de falhar, recordo-me de terem actuado os "Xeque-Mate" e os "Jarojupe", principalmente ou quase exclusivamente os "Jarojupe".

Que espectáculo! Mesmo não sendo fã de primeira linha de música mais "pesada", aquele foi o meu primeiríssimo "Festival de Verão", mesmo que numa noite algo fria e, se não estou em erro, com alguma chuva.

Que giro e diferente foi ver um concerto no meio de um pinhal, todo ele alimentado a geradores (coisa evoluída, imaginei), e ainda por cima sem que eu (e os outros) conhecesse uma única canção.

O facto mais interessante, imagino eu (se é que não estou a misturar memórias) foi ter ficado algo apaixonado pela guitarrista (era baixista, afinal)  de então (que hoje, no "Google", descobri chamar-se Rosa Parente, irmã dos outros 3 Parente, todos parentes, portanto).

Acho que nos "penantes" que me levaram de regresso a casa (a uns 3 quilómetros), fiz 3 ou 4 longa-metragens românticas, todas elas no filme dos sonhos, todas elas com um amor impossível que se transformaria em possível. (Santa imaginação!)

Por outro lado, o facto menos interessante, há que dizê-lo também, foi ter sido um festival com um "público minúsculo", pelo menos em número e em entusiasmo, já que não seria composto por mais do que 200 pessoas: uns 25 amigos das bandas e uns 175 que foram "cuscar", como eu.

Hoje, mais de 25 anos depois, dei comigo à procura daquela heroína da noite, a mulher que, se não estou em erro, tinha umas calças às listas brancas e pretas justíssimas que (me) deram com força nas vistas. Isto além de ela, a desconhecida, ter uma expressão facial deveras interessante.

Hoje, por causa disso, descobri que o nome "Jarojupe", afinal, é formado pela junção das primeiras letras dos elementos que, então, compunham a banda de Viana do Castelo: 3 irmãos e uma irmã.

Não me consigo lembrar de uma única canção deles, infelizmente, mas recordo perfeitamente que, um dia, quando apareceram na televisão, já uns anos depois disso, "estanquei", porventura para verificar se a paixão de uma noite (platónica e metaleira) já tinha passado.

E tudo isto para lembrar que, nos dias que correm, os festivais de música não são tão interessantes, pelo menos nos pormenores (com outras sofisticações) e, claro, nas paixões.

Kiko

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