sábado, 9 de junho de 2012

"A Primária"


A minha escola primária, a do Maninho, Madalena, Vila Nova de Gaia, foi - para mim, como é para todas as crianças, imagino, o nascer para a sociedade, ao jeito de "Portugal dos Pequeninos", já que parecia ser tão grande, mesmo não o sendo, até hoje. 

Estar naquela sala de madeira (futurista para a altura) foi o ponto de partida para muitas aprendizagens: o ficar a detestar leite (até hoje), o recear reguadas, o copiar a Matemática (pelo Vitó), o coleccionar de cromos de futebol (comprados numa tasca de uma rua próxima), os intervalos de meia-hora (que serviam para fazer tudo... ou nada), o correr para casa (para ir ver a novela que dava à hora do almoço), o ganhar um chocolate grande (quando fazia anos), o prémio por não dar erros (livro "Pasteur", que li quatro vezes num ano, sem gostar de ler livros, até hoje), a primeira paixão (pela Maria João, da sala ao lado, o direito), o assistir à forte "canada" que, acidentalmente, a Esmeralda deu no professor, quando ele entrou na sala (confundiu-o com um colega da turma), os passeios de camioneta (com comprimidos para o enjoo), o plantar das árvores no dia da Primavera, os primeiros golos, marcados e sofridos, as escondidinhas e tantas outras coisas...

A escola primária, aquela que associarei para sempre ao grande Professor Sílvio, foi a que me fez conseguir ter letras arredondadas e legíveis (coisa que não tenho hoje), foi a que me fez perceber que haviam amizades, horários, responsabilidades, receios e, já agora, fins de semana, feriados e férias... pequenas e grandes.

Ao olhar para a fotografia (da praxe) que tenta "colorir" estas palavras, além de todas as tantas memórias que me aparecem em mente (fora todas as outras que se perderam, infelizmente), faço questão de destacar o meu lado mais tímido, de menino bem comportado, aplicado (menos na Matemática, até hoje), algo que, presumo, se deveu em grande parte à imagem que absorvi do meu Professor de então (a maioria das turmas tinham professoras, estou em crer), o tal que, uns anos mais tarde, vim a saber, suicidou-se (fiquei tão triste, quando o soube), por amor, supostamente. 

E este não era um professor qualquer, foi o melhor que tive até hoje. Um professor que me inspirava tanto que, durante décadas, copiando-o (já que ele rubricava os testes com um "S", de Sílvio), em cima do (meu) "nome" Kiko colocava sempre um "S", e com sublinhado (fi-lo até aos vinte e muitos anos).

A escola primária, é um facto, deixa-nos muitas marcas (boas, principalmente), mas os professores primários, imagino, deixam ainda mais. Obrigado, Professor!

Kiko

* Infelizmente, já são raras as vezes que vou passando por aquela escola (agora transformada em infantário), mas sempre que o carro me leva por lá e dá "boleia" ao meu filho, lá lhe vou repetindo: "Olha, aquela é a escolinha onde o pai andou!", como que a dizê-lo a mim mesmo que há vidas que ficam para sempre na vida de cada um de nós, vidas que se traduzem em saudades. 

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