sábado, 28 de abril de 2012

"O Dedo"



Não me recordo se usei chupeta durante muito tempo, nem tão pouco se me perdi "de amores" por um ou outro dedo da minha mão, já que nunca me chegaram aos ouvidos relatos dessas coisas. Mas recordo - como se fosse hoje - um dos gelados que mais gostei e devorei nos anos 80: o "dedo", pois claro.

Tenho uma vaga ideia de que, quando surgiu, emoldurado por uma forte campanha televisiva, fez com que vários da minha geração (e de outras, já agora!) andassem à procura dele por tudo quanto era sítio. E, convém não esquecer, não haviam muitos pontos de venda de gelados, e estes apareciam quase exclusivamente no verão, vá lá, primavera-verão.

Mas o que tinha o "Dedo" de tão especial?

Nada. Já que, como muitos outros gelados, era composto por gelo e por um sabor que era uma mistura de groselha com morango - se é que o paladar da memória não me está a enganar.

Na verdade, este gelado - que foi um enorme sucesso, dava nas vistas por, pura e simplesmente, permitir que se chupasse no dedo, embora num dedo com sabor, seguindo-se, ao fim do "dedo esticado", o resto da mão, como se imagina.

E haviam dias, muitos, em que o número de exemplares ultrapassava as 3 unidades, já que sabiam sempre a pouco. Enfim!

Certamente que haverá um ou outro estudo psicossocial que explique o fenómeno, mas, numa análise primária - a minha, e com toda esta distância temporal, sou daqueles que, mesmo não tendo o hábito de chupar no dedo, aproveitei-me do gelado para o fazer, e mesmo numa idade onde já não ficava bem fazê-lo. Afinal, quando ele surgiu, todos passaram a "chupar no dedo", mas de gelado, claro!

Se "ia" um agora?! Talvez não, principalmente por haverem alternativas muito mais "crocantes" e interessantes, mas que, na altura, o "Dedo" serviu, por exemplo, para trocar alguns beijos (salivas) com algumas miúdas, lá isso serviu! E podre ficava eu quando elas mo trincavam, ao "Dedo", claro! (risos)

Kiko
quinta-feira, 26 de abril de 2012

"Ir ao Brasil" - Parte 4 (última)



Fazer uns milhares de quilómetros de avião, sozinho, com apenas 12 anos de idade, é, como se imagina, uma experiência que fica registada para sempre. E esta viagem, que passou pelo Rio de Janeiro, Marataízes e Belo Horizonte - já que Recife não contou, marcou-me a vida, principalmente em termos de evolução enquanto criança, enquanto ser humano.

Foram inúmeras as primeiras experiências com que fui baptizado no Brasil, algumas das quais já sintetizei nas partes anteriores desta crónica, mas não posso deixar de sublinhar que foi nesta viajem que me apaixonei pelos cavalos, pelo bowling (boliche), pelo ténis, pelos "Doberman", pelo viver Brasileiro do futebol, pelo John Lennon, pelos filmes do Elvis, pela publicidade televisiva, pelo pão Brasileiro, pelo requeijão, pelo ténis de mesa, pelo "Buraco" (jogo de cartas), e por tantas outras coisas, fruto dos 60 dias em que, momento a momento, fui aprendendo algo de novo, e do outro lado do meu mundo, num mundo de luxo, mas com alguma essência.

Porventura, o mais caricato de tudo foi ter sido convidado a ficar lá... e de vez, já com a vida completamente "escrevinhada" até ao "para lá dos 18", e com um nível de vida completamente oposto ao que tinha em Portugal. E fiquei tentado, pudera! Mas não fiquei, algo de mais importante fez-me regressar ao Portugal: os amigos.

Que interesse tem ter-se tudo sem se ter o mais importante!?

Obviamente que a família também fez a diferença, mas tenho que confessar que, naqueles dois meses, poucas foram as vezes em que senti vontade de regressar. E isto, acredito, justifica-se com a constante "bebedeira" de novidades e facilidades com que fui confrontado desde o primeiro dia em que  pisei o solo Brasileiro.

Depois desta viagem de sonho, voltei ao Brasil umas 10 vezes ou mais, embora para S. Paulo e Salvador, mas, na verdade, as melhores memórias são as que se enraizaram desde aquele verão (Português) de 1982, porque comprovei que até os sonhos conseguem ser ultrapassados...

Kiko

* Não vos detalhei os inúmeros tópicos que fui lançando ao longo das crónicas anteriores porque, como imaginam, há mais vida além do Brasil e, cada um deles daria para 3 crónicas, sem esquecer que as suas ramificações durariam um ano.

* Ah! Estou a lembrar-me agora de que me ofereceram um pónei (ficou lá, claro), que tentei embarcar com um arco e duas flechas feitos por índios do Amazonas (não passaram no aeroporto) e que, entre tantas outras coisas, conheci "Ouro Preto", uma pequena cidade de Belo Horizonte, conhecida especialmente pela obra do "Aleijadinho", e que parece um decalque da zona histórica do Porto.~

sábado, 21 de abril de 2012

"Ir ao Brasil" - Parte 3


Isto de se ir sozinho para o Brasil com apenas 12 anos de idade, convenhamos, tem mesmo muito "que se lhe diga", principalmente quando se está na "flor da idade", ou melhor, "no depenar das descobertas"...

Nesses 2 meses em que tive a felicidade de experimentar tanta, tanta coisa, recordo-me, por exemplo, da primeira bebedeira que apanhei na vida, já em Belo Horizonte, Minas Gerais. Foi giro, ou talvez não. 

Numa das duas festas de recepção a que tive direito, mesmo só conhecendo a minha irmã e o meu cunhado (de então), dei de caras com um Português, na casa dos 45 anos, que falava ao melhor estilo parolo que já me tinha chegado aos ouvidos. Estivemos a jogar futebol, intercalando com uns vários mergulhos para a piscina, e, quando tal, dei com o "parvalhão" a fazer rir os Brasileiros, imitando o nosso sotaque. Detestei(-o) tanto, mais ainda porque ele, sim, ele era um autêntico parolo, e, de improviso, dei-lhe dois pontapés, e bem assentes. (senti que lhe doeram, porque também me doeram a mim)

Talvez para melhorar o cenário, na mesma festa, acabei por ser apresentado a uma jovem pianista de 18 anos que, constava-se, teria um futuro promissor (disse-me que eu tinha dedos de pianista, coitada!). Não me lembro da cara dela, mas era linda, linda de morrer... Ou melhor, a beleza dela foi aumentando consoante as minhas experimentações de álcool, traduzidas em 7 bebidas diferentes... (sherry, champanhe Francês, anis, vinho do Porto, cerveja e umas outras duas, que não recordo).

Bem, a "moca" foi tão grande que, para minha infelicidade, quando acordei, depois de ter feito uns quilómetros aos "s's", lá se tinha ido a pianista, e sem direito a um único "micro-concerto-de-paixão". Acho que fiquei a sofrer de amor... Para aí uns 3 dias... 

Esta mansão de Belo Horizonte, há que sublinhá-lo, além de enorme, tinha uma grande piscina, aquela que me "ensinou" a nadar e a conter a respiração... não sei quanto tempo, mas "muito". E durante dois meses, ou quase, passei horas e mais horas a (auto)ensinar--me a nadar, a mergulhar, sempre sob a avaliação de um salvador-nadador muito especial: uma cadela "Doberman", que começou por me "odiar" mas com a qual tracei uma amizade importante, mesmo depois de ela ter feito questão em deixar a marca dos seus dentes por debaixo de uma das minhas sobrancelhas, até hoje. 

Posso revelar que foi graças às horas infindáveis dentro de água que, quando regressei à escola, já em Portugal, consegui ter mais largura de peito do que muitas das minhas colegas de turma. Nem mais!

Que pena! Ainda tinha tanto para vos contar, e não há espaço. Deixem lá, fica para um ano destes, ou uma década destas... 

Kiko

* No entanto, posso adiantar que, naquelas férias de 1982, conheci um governador gay, que teve que fugir dos dois "Doberman" da minha irmã, que aprendi a "dar uns toques" a jogar "Peteka" e que me apaixonei perdidamente por umas 3 ou 4 mulheres que desfilaram lingerie numa sessão "privada", isto sem esquecer, já agora, uma viagem com o meu cunhado, num "Passat", a 200 km/hora e um almoço numa favela, entre muitas outras coisas que ficarão por contar... (sorrisos)
quinta-feira, 19 de abril de 2012

"Ir ao Brasil" - Parte 2


Foi com 12 anos lá fui 2 meses inteirinhos para o outro lado do oceano, ou seja, para o "país irmão".


E tudo começou no Rio de Janeiro, onde, mal saí do aeroporto, fui surpreendido pela quantidade de ruas pintadas com as cores da selecção canarinha, a mesma que, dois dias antes, tinha sido afastada ingloriamente pela Itália, a qual se sagrou campeã do mundo em Espanha neste 1982, e sem perceber como tinha passado da primeira fase com 3 empates... 

O Rio de Janeiro, com todos aqueles prédios, era (e é!) uma cidade gigante, cheia de diferenças, demasiado evoluída, quando comparada com o Porto de então. E lá estava eu instalado num "quadriplex" de Leblon, a uns 100 metros da praia. 

E foi precisamente a praia o primeiro marco na coleccão de cromos destas férias com que todos sonhavam e com as quais voltei a sonhar nas várias vezes em que lá voltei. (ao longo de décadas, os meus passaportes adoraram carimbos das alfândegas Brasileiras)

Leblon, além do famoso "calçadão" (passeio largo com vários quilómetros) que via nas telenovelas, tinha muito mais, como por exemplo os "fios-dentais" (não confundir com fio dentário, por favor!). Estatelado no meu primeiro dia de praia (apesar de lá não ser verão), acordei (literalmente) com a minha cabeça "estacionada" entre as pernas de uma jovem Brasileira que - e aqui está o "ponto". - usava uma espécie de "fio-dental" feito em renda. 

Como?! Pois, nem eu sei explicar como. Mas posso confirmar que, naquela altura, já se alouravam outras "questões capilares". Isto além de as mulheres daquela nacionalidade terem (quase todas) um "bumbum" interessantemente arrebitado.

E pensei: "- Onde me vim meter!?" (não literalmente, neste caso) Seria aquilo o paraíso?! Seria aquela a "Garota de Ipanema"?!

Ainda em Leblon, umas semanas depois, pude assistir a um espectáculo de cariz semelhante, embora em versão nocturna, e na mesma artéria. 

O meu cunhado (da altura), num passeio de carro, confrontou-me com o seguinte: " - Vamos lá ver se os Portugueses sabem apreciar mulheres..." E a uns 10 km/hora, mostrou-me uma "montra" que não imaginava. Um apreciável número de mulheres, ao passar dos carros, abriam os seus "casacos de peles" para mostrarem as suas próprias peles, já que o tecido ocupava uma percentagem diminuta.

- Então, qual é a melhor? - perguntou-me ele.

- Acho que aquela, e aqueloutra e a outra... - respondi, ainda algo confuso com o que aquela rua me mostrava.

- Vê-se logo que vocês não percebem nada de mulheres. - riu-se. Todas essas que "ocê julga mulhé, são ome, cara"! 

Kiko

Que pena não ter como vos contar as peripécias que envolveram um Português "podre de rico" que ia às compras de fato-de-treino, mas de helicóptero, o "puto" que abriu o nosso carro com um cordel, a gorjeta ao "arrumador" com um cheque e, claro, todas as outras histórias que ficaram por contar na primeira parte desta mesma crónica. 
Se acabarei este relacto no Sábado. Hmmm! Pressinto que não. É melhor ficar já por aqui, não acham?!
terça-feira, 17 de abril de 2012

"Ir ao Brasil" - Parte 1

Vá-se lá saber como, em 1982, os meus pais ficaram incrédulos quando, em poucos meses, viram uma mera hipótese transformada numa viagem transatlântica. E, sem terem grande tempo para me travar, lá deram comigo, no antigo aeroporto Sá Carneiro, a arrastar uma mala com quase o meu peso, de bilhete na mão, pronto para embarcar sozinho para o destino de sonho, em termos de férias e de trabalho. 

Com 12 anos completos e a caminho do secundário, pretendia lá ficar apenas 2 ou 3 semanas e depois voltar para o resto das "férias grandes" na (minha) praia da Madalena. Afinal, aquela primeira viagem de avião transformou-se em 2 meses de múltiplas novidades, dois dos meses mais extraordinários da minha vida... E só não foram 3 meses porque as diligências tomadas nos sucessivos adiar, daquela vez, não conseguiram ser superadas pela "voz "dos dólares.

Embarquei para o Rio de Janeiro um dia depois de a melhor selecção Brasileira de sempre ("Espanha 82") - a do Zico e do Sócrates - ter sido eliminada por um "perneta" Italiano que, ainda hoje, estou para perceber como levou a equipa transalpina à liderança mundial. Enfim!

A viagem correu bem, com todas as mordomias e mais algumas (que pena as hospedeiras não terem decote, tantas eram as vezes que se abaixavam para me perguntar se queria alguma coisa), dado tratar-se de uma criança a viajar sozinha (Pensavam elas. Mas eu já era um homem!).

Sem poços de ar, mas com 12 pastilhas elásticas na boca (ao mesmo tempo), lá suportei a dor de ouvidos que teimou em interferir no visionamento dos dois filmes que colocaram num ecrã gigante... a cores. Uau!

Umas 9 horas depois de ter experimentado o levantar voo, aterramos e paramos duas horas em Recife, onde me deixaram ver a pista do aeroporto, mas do lado de fora (dela). Não gostei daquilo. Recife, por aquele ângulo, era só alcatrão e deserto, concluí.

Depois de ver o "Corcovado" lá do alto, aterrei finalmente no destino final, não ao som de "Menino do Rio" mas sim ao som dos aplausos dos mais de 300 passageiros daquele "Boeing 747" da "TAP". (sim, haviam garrafões a bordo, embora a maioria dos transportados fossem Brasileiros)

Já naquele aeroporto gigante, convenhamos, poderiam ter-me dito que não tinha a necessidade de arrastar uma mala de mais de 40 quilos durante 1 hora... É que fiquei com o meu melhor par de calças (brancas) ilustrado com a maior parte da sujidade da mala. (passou de preta a cinzenta e de cinzenta a preta)
Do outro lado do enorme vidro da sala de desembarque, do alto da minha "adultice", abrindo um imenso sorriso, lembro-me de, em alto e bom som, ter dito:

- Está ali a minha irmã!

Obtendo por parte de um agente alfandegário Brasileiro a seguinte resposta:

- "Ocê vem di férias?! Seja intão bem-vindo ao Braziu!"

E foi nesse pisar de solo que me apaixonei completamente pelo "outro lado do oceano"...

Kiko

* Nas próximas partes desta crónica, como imaginam, não falarei de um "fio-dental" rendado que estacionou junto ao meu nariz, de uma viagem de Ferrari, do medo de um jacaré e muito menos da minha primeira bebedeira, por me ter apaixonado por uma pianista de 18 anos. E, obviamente, evitarei referir-me aos pontapés que dei a um "parolo" Português e ao meu almoço numa favela, além de ter ido a um desfile de lingerie e de ter sido mordido por uma "Doberman". Contarei coisas muito mais interessantes, claro!
sexta-feira, 13 de abril de 2012

Bolacha Maria


Numa altura em que os supermercados eram um espaço comercial demasiado evoluído e algo distante, dávamos "corda aos sapatos" e íamos às lojas. No meu caso, na Madalena, a que eu e toda a redondeza usávamos era a "Loja do Sr. Eduardo". (nunca vi um único reclamo naquele rés-do-chão que a pudesse identificar com outro nome)

Era ali, naquela década de 70, que, mais ou menos a meio da Avenida Gomes Júnior ( na altura, com dois sentidos e ainda com lugar para estacionar - o que gerava vários "para trás" e "para a frente", mesmo com um fluxo automóvel diminuto) que estava situada a loja onde a minha mãe (Dª Ilda) comprava tudo o que dizia respeito a mercearia, antes de ter nascido o "Continente" (a abertura teve raios laser e romarias de vários pontos da cidade de Gaia e do Porto). 

Das batatas ao azeite, da farinha ao garrafão de vinho, passando pelas hortaliças (quando não compradas na camioneta que fazia concorrência) e pela botija de gás, aquele espaço, sem corredores e com um único balcão com pedra mármore, era um manancial de ofertas... Mas sem descontos, sem cartões, sem promoções, sem cheques, sem dinheiro... Mas com crédito... no "livro".

O "livro", na verdade, era mesmo um livro (preto com linhas azuis) onde o Sr. Eduardo e a esposa (não me lembro do nome da Senhora) apontavam tudo aquilo que os fregueses levavam. Ou seja: comprava-se o que se queria e eles apontavam a despesa no "livro". 

Ao final de cada mês, quando chegava a "féria" (ordenado), lá se iam saldar as contas, virando mais uma página no "livro", ao ritmo de cada mês, ao ritmo de cada "féria". 

Eu, na altura, numa ama, a Dª Joaquina, tinha autorização para ir à loja do Sr. Eduardo comprar algumas coisas (que ficavam no "Livro" da minha mãe). E recordo-me que o que mais comprava era a "Bolacha Maria", mas da torrada, a minha preferida. (que bem que sabiam quando embebidas em "Mokambo" ou empasteladas de "Planta" ou "Tulicreme"!) 

Não me consigo recordar de outras marcas de bolacha, além dos "Sortidos" que, geralmente, apareciam na altura do Natal, como parte de um qualquer cabaz ou embrulhado como prenda.
Dia sim, dia sim, ao final da tarde, lá ia eu à loja.

- Sr. Eduardo, queria um pacote de "Bolacha Maria", mas da torrada, por favor!
- Cá está, rapaz. 
- Olhe, é para apontar no livro da minha mãe, está bem?!
- Não te preocupes. Que te saibam bem.

E sabiam, ou melhor, sabiam mesmo muito bem, principalmente quanto as embebia num quente "Mokambo" e as deixava desfazerem-se na minha boca. (só não escrevo "que delícia" para que não comecem a cantar com sotaque Brasileiro... )

Ah! Lembrei-me agora que não eram raras as vezes em que a minha mãe me pedia para ir à loja do Sr. Eduardo comprar qualquer coisa para mim e trazer também "Serena" para a minha irmã. Muitas voltas dei aos pacotes de "Serena", mas nunca entendi para o que aquilo servia. Modernices de raparigas novas, pensei!

Kiko
terça-feira, 10 de abril de 2012

"Ver o Barco"




Lá nos idos 80, na flor da juventude, eram várias as expressões que, entre "homens", se usavam para identificar o acto de namoriscar (namorar sem oficialização, vulgo aliança de comprometido).

Recordo-me destas:

- Tirar uns troços
- Dar uns amaços
- Tirar uns beijos
- Trocar uns cuspes
- Dar uns linguados
- Dar umas voltas
- Tirar umas curtes
...e ir "ver o barco". 

Sim, leram bem, leram muito bem. Eu disse "ver o barco".

Este ver tem a ver com o naufrágio do navio Japonês "Reijin", na praia da Madalena (Gaia), a 26 de Abril de 1988, tinha eu 18 anos (Uau!). A Madalena apareceu nas televisões e jornais de todo o mundo, porque o barco ficou tombado próximo ao areal, com cerca de 2500 automóveis "zero quilómetros". Romarias e mais romarias, inclusive de autocarro... 

Mas, vamos ao que me trouxe aqui: as curtições.

Com o "Reijin" encalhado, e durante meses, criou-se a fórmula de engate perfeita (ou nem por isso!). Em vez de se propor a uma rapariga ir dar uma volta (com intuitos bem delineados, pelo menos em pensamento), dizia-se o seguinte:

- Vamos ver o barco?!

Pois. É isso. "Ver o barco" ficou na moda, pelo menos durante um ano. E muitos foram os que foram "ver o barco", de preferência ao final da tarde, à noite ou de madrugada, quando já se via muito pouco. Mas isso também não interessava para nada! 

O que contava era ter um pretexto para levar a potencial conquista para "casa", ou seja para terreno mais propício ao desenrolar da "cena". (por vezes dava para o torto, e nem as histórias sobre os que tinham ido ao barco "in person" sacar partes dos "Corolla's" e dos "Scarlet's" conseguiam travar as saídas apressadas do areal)

Neste contexto, as perguntas que os "homens" mais faziam entre si eram as seguintes:

- Levaste-a a ver o barco?
- Vais ver o barco?
- Viste o barco?

Que pena não ter mais espaço para escrever. E logo agora que iria entrar nos pormenores das "idas ao barco", aquelas que geravam apertos nas calças e trilhares nos cintos, areia nas virilhas e demais pormenores que, infelizmente, terão que ficar exclusivamente na vossa imaginação. (risos)

Kiko

Foto "sacada" sem autorização ao Blogue (No Gabinete) do meu amigo Paulo Almeida. (que tem um excelente "post" sobre o barco, noutras perspectivas, claro!)

Barco do Amor


Inúmeras foram as horas que passamos em frente à televisão a ver o "Barco do Amor", aquela série que nasceu na década de 70 nos Estados Unidos e que se destacou em Portugal (e no resto do mundo) na década seguinte. 

Foram tardes e mais tardes a ver, viver e reviver as peripécias que aconteciam naqueles cruzeiros de sonho (foi a melhor campanha de publicidade aos cruzeiros, principalmente numa altura em que não conhecíamos ninguém que tivesse andado num barco daqueles, fazendo-nos sonhar com o futuro, concretizando-o agora ou num ano destes). 

Em resumo, o "Love Boat" contava as peripécias dentro do "Pacific Princess" envolvendo os tripulantes mais destacáveis (capitão Merrill Stubing, a directora Julie McCoy, o barman Isaac Washington, a filha do capitão Vicky Stubing, o médico Adam Bricker e o comissário de bordo Burl "Gopher" Smith) e parte dos passageiros (sempre novos, em cada episódio). 

Penso que ala masculina dos telespectadores sonhava (um dia) ser médico, tamanha era a quantidade de paixões que ele (totó esperto) "engatava", enquanto a ala feminina, imagino, revia-se na directora do cruzeiro, uma "senhora" que parecia ter o cupido como aliado. 

Fazendo jus ao título da série, em termos de enredo, destacavam-se os "casa e separa" seguidos dos finais felizes obrigatórios. E isso deixava-nos felizes, muito felizes.

Em jeito de curiosidade, há que destacar que, ao contrário do que se imagina, esta série desenrolou-se em vários barcos, muitos deles ainda no activo: Pacific Princess, Royal Princess, Stella Solaris, Pearl of Scandinavia e Royal Viking e no Royal Viking Sky. 
No rol de actores famosos que passaram pela série, destacam-se as participações de Ursula Andress, Michael James Fox, Zsa Zsa Gabor e as actuações dos Temptations e Village People.

O "Barco do Amor" teve tanto sucesso que acabou por ser reposto, inclusive 20 e 30 anos depois da sua estreia, primeiro na RTP e depois na SIC.

Esta comédia romântica por capítulos (sem sequência) está completamente enraizada na memória de milhões de pessoas, bastando ouvir a sua não menos famosa banda sonora (genérico) ou citar o seu nome para que se faça um "click" na saudade... e na vontade de embarcar no amor, de preferência com um "coktail" na mão e uma paixão fulminante no sonho.

Francisco Moreira

Moinho de Vento


O "Moinho de Vento" (para que não hajam confusões) era um parque de campismo situado na Madalena (Gaia) mais conhecido por ser uma espécie de discoteca ao ar livre do que propriamente pelo que a sua licença lhe destinava.

Nos meses das férias grandes, não havia fim de semana em que aquele espaço bizarro (com duas grandes colunas de som e sem luzes psicadélicas, que me lembre) esgotasse a sua lotação. 

Sem cartão de consumo (o que era isso?) e com gente a "magotes" vinda dos outros parques (inclusive de outras freguesias), este era o espaço ideal para se ver e se ser visto enquanto se dançava o "Tarzan Boy", o "Comanchero" e o "Life is Life", entre outras pérolas desses meados dos anos 80. 

Na verdade, o mote desta "discoteca" ao ar livre (que ocupava o hall de entrada do parque de campismo) era, na versão masculina (só me posso pronunciar sobre essa!), um "point" onde, com sorte, se conquistaria companhia bronzeada para se ir "ver o barco" (ver o barco, sem grandes rodeios, por causa de um tal "Regin" - barco que afundou com 2500 carros, era ir acompanhado até ao areal para "dar uns beijos").

Era um espectáculo! E aqueles fins de semana deixavam saudades de ano para ano, de férias para férias, havendo mesmo quem só se voltavam a reencontrar no "Moinho de Vento", já que, ao contrário dos dias de hoje, na altura, a mobilidade não era tão... tão... tão fácil. (ia-se até onde nos levavam os calcantes ou os autocarros, e bem bom!)

A parte mais chata e irritante daquele "Moinho de Vento" era a hora a que encerrava. À meia-noite, fizesse chuva ou sol, tratavam de correr com todos, principalmente os que não tinham tenda no parque. E isso incomodava especialmente os que estavam quase a "pescar" alguém, e principalmente ao sábado, quando se percebia que, muito provavelmente, só se voltariam a fazer "olhinhos" àquela e à outra na semana seguinte. Lá tinha que ser!

A parte pior era aquela em que se ficava perdidamente apaixonado por uma "chavala" e que, por vergonha ou infortúnio (traduzindo - namorado da pretendida), naquela noite, saía-se a "seco", levando-nos a passar toda a semana a ansiar pela 6ª Feira e a rezar para que "ela" lá voltasse, caso não nos tivesse surgido uma outra paixão no entretanto.

O "Moinho de Vento", ao longo daquela boa década, ficou com inúmeras histórias para contar. Muitos namoros começaram lá, sendo que alguns deram em casamento, e muitas curtes do passado nasceram entre uma ou outra música do DJ que, na verdade, nunca soube quem era, nem tão pouco se existia. Poderia não ser bom, mas era o melhor dali e das redondezas. E é a ele que dedico esta crónica, já que nunca tive a oportunidade de lhe agradecer os momentos fantásticos que me proporcionou, quer na fantasia, quer na realidade. 

Por isso, hoje, em jeito de agradecimento, dedico-lhe isto... (carreguem no "play" e... viajem no tempo) (Yazoo - "Don't go")

Kiko
quinta-feira, 5 de abril de 2012

Copianço


Enquanto aluno, nunca fui muito de "marrar", já que teimava em deixar os estudos para a última hora, quando não os deixava literalmente para os minutos do intervalo (grande, de preferência) que precedia os testes. Não sei bem, acho que a minha concentração se dedicava melhor a outras "paisagens"...

E esta mania de não me dar bem com os estudos, penitencio-me, atrapalhou-me na altura em que o "Secundário" exigia um pouco mais do que "passear os livros" e fazer dos cadernos e capas uma espécie de telas para desenhos dignos de ombrearem com paredes rupestres. Enfim!

Outro dos meus grandes problemas passava pelos copianços, aqueles papeis de tamanho diminuto que, julgávamos, tinham o dom de armazenar toda a matéria de um trimestre. É que; apesar de ser um excelente criador de copianços (com sublinhados e várias cores), eu era um péssimo copiador, inclusive pelos parceiros do lado, de trás e da frente.

Ainda hoje, já com a eventual "pena" prescrita, continuo sem perceber o porquê de nunca (que me lembre) ter dado uso aos copianços que fazia para quase todos os testes "pós-9º ano". 

Ironicamente, os meus copianços davam de uma trabalheira imensa. Quase só faltava plastificá-los, tamanho era o cuidado com que os fazia, inúmeras eram as vezes em que os refazia, várias eram as vezes em que os lia e relia para ver se não falhavam em nada. Mas falhavam. Não eram usados. (ponto)

O que dizer em minha defesa? Como superar esta vergonha?

Não nasci para copiar. E mesmo naqueles testes em que todos copiavam. 

Por falar nisso, lembro-me de "Sociologia", no 10º, onde todos (todos!) copiavam - inclusive dos livros -, e, mesmo assim, com receio de ser apanhado, eu fazia a diferença... E não copiava, ou melhor, não conseguia concretizá-lo, por mais que tentasse.

Se ao menos, ao elaborar os copianços, os conseguisse decorar...! E tentava, tentava muito... Mas em vão. (Foram várias as vezes em que me "insultei"!)

Bem, voltando à "Sociologia", onde, salvo erro, tirei 7 na nota final, tenho que destacar um pormenor interessante. Fui a exame (anual) e livrei-me da oral, já que tirei 14 ou 15... e sem estudar mais do que duas páginas nas "férias grandes".

Como?

Não sei. Mas sei que, daquela vez, não levei... copianço. 

Kiko
terça-feira, 3 de abril de 2012

Negas Bouas


Sempre fui um bom aluno até ao dia em que, devido ao humor cósmico, calhei numa turma que (só!) tinha as alunas mais “bouas” da Escola Secundária de Valadares. Pronto, aceito, poderia não ter todas, todas, mastinha uma percentagem que rondaria os 85%... ou mais. E isso comprovou-se na quantidade de pedidos feitos por muitos alunos de outras turmas na secretaria para que conseguissem mudar para esse 9ºD (4 ou 5 conseguiram, graças a justificações bizarras, constou-se).

Eu, sortudo, não mudei. Deixe-me estar, feliz da vida, no alto hormonal dos meus 15 anos, aluno de 4’s e 5’s, certo de que o 9º seria mais um ano para passar sem “negas” e quase sem “gazetas”, como tinha sido até ali. E, desta vez, com a vantagem de ter muito mais vontade de prestar atenção às “aulas”, claro!

O problema, no entanto, começou logo nas primeiras semanas. É que, além das raparigas demasiado jeitosas, vistosas, esplendorosas e curvilíneas, existiam também os alunos já “tarimbados”, um dos quais com maioridade e outros com mais centímetros do que a média. 

Como concorrer com tamanha concorrência?

Como dar nas vistas sem fazer algo, no mínimo, parecido com o que os “grandes” faziam?

Como poder estar nos intervalos com “mulheres” sem se ser “homem”?

Havia que entrar no ritmo que aquela “adultice precoce” obrigava: faltas em grupo (fosse para o que fosse), brincadeiras e conversas mais “calientes”, jogos mais “privados” e demais “eventos”, os quais deixo à consideração da vossa imaginação, livrando-me de inúmeros carateres. (sorrisos)

Indo directamente para o meio do ano lectivo, posso informar que, em termos de notas, no segundo período, estive na média da turma: 5 negativas de 2, e bem mais próximas do 1 do que do 3. (sem contar aos meus pais, fui afogar o mal-estar para o cinema “Batalha”, vendo uma comédia Italiana duas vezes seguidas, num dia da semana, já em férias)

Quanto às faltas, passei o terceiro período “tapado” em várias disciplinas. Mesmo sem ter tido “a vermelho”, fiquei talvez a uma falta de chumbar, mesmo tendo chumbado com as mesmas 5 negativas que arrastei ao longo do ano, facto triste que me levou a decidir mudar de Valadares para a António Sérgio, no centro de Gaia, no ano seguinte.

Foi o meu pior ano lectivo de sempre em termos de notas (e condicionou todos os outros), mas, por outro lado, foi o melhor ano lectivo de sempre em termos de convivência, diversão, aprendizagem, “curtes” e tudo o resto, ou quase tudo. 

Ainda hoje, tenho vontade de processar todas aquelas meninas-mulheres por (comprovadamente) me terem prejudicado e terem feito de um bom aluno um péssimo estudante. E só não o faço porque, apesar de me lembrar bem de que eram “bouas como o milho”, não me consigo lembrar de um único rosto, talvez por, naquele 9º D, estar demasiado apaixonado por outras partes dos seus corpos, infelizmente, ou melhor, felizmente.
Kiko

• Se levei com outro tipo de negas? Levei. Mas também tive positivas, e das “muito bouas”. (risos)

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