sexta-feira, 13 de abril de 2012

Bolacha Maria


Numa altura em que os supermercados eram um espaço comercial demasiado evoluído e algo distante, dávamos "corda aos sapatos" e íamos às lojas. No meu caso, na Madalena, a que eu e toda a redondeza usávamos era a "Loja do Sr. Eduardo". (nunca vi um único reclamo naquele rés-do-chão que a pudesse identificar com outro nome)

Era ali, naquela década de 70, que, mais ou menos a meio da Avenida Gomes Júnior ( na altura, com dois sentidos e ainda com lugar para estacionar - o que gerava vários "para trás" e "para a frente", mesmo com um fluxo automóvel diminuto) que estava situada a loja onde a minha mãe (Dª Ilda) comprava tudo o que dizia respeito a mercearia, antes de ter nascido o "Continente" (a abertura teve raios laser e romarias de vários pontos da cidade de Gaia e do Porto). 

Das batatas ao azeite, da farinha ao garrafão de vinho, passando pelas hortaliças (quando não compradas na camioneta que fazia concorrência) e pela botija de gás, aquele espaço, sem corredores e com um único balcão com pedra mármore, era um manancial de ofertas... Mas sem descontos, sem cartões, sem promoções, sem cheques, sem dinheiro... Mas com crédito... no "livro".

O "livro", na verdade, era mesmo um livro (preto com linhas azuis) onde o Sr. Eduardo e a esposa (não me lembro do nome da Senhora) apontavam tudo aquilo que os fregueses levavam. Ou seja: comprava-se o que se queria e eles apontavam a despesa no "livro". 

Ao final de cada mês, quando chegava a "féria" (ordenado), lá se iam saldar as contas, virando mais uma página no "livro", ao ritmo de cada mês, ao ritmo de cada "féria". 

Eu, na altura, numa ama, a Dª Joaquina, tinha autorização para ir à loja do Sr. Eduardo comprar algumas coisas (que ficavam no "Livro" da minha mãe). E recordo-me que o que mais comprava era a "Bolacha Maria", mas da torrada, a minha preferida. (que bem que sabiam quando embebidas em "Mokambo" ou empasteladas de "Planta" ou "Tulicreme"!) 

Não me consigo recordar de outras marcas de bolacha, além dos "Sortidos" que, geralmente, apareciam na altura do Natal, como parte de um qualquer cabaz ou embrulhado como prenda.
Dia sim, dia sim, ao final da tarde, lá ia eu à loja.

- Sr. Eduardo, queria um pacote de "Bolacha Maria", mas da torrada, por favor!
- Cá está, rapaz. 
- Olhe, é para apontar no livro da minha mãe, está bem?!
- Não te preocupes. Que te saibam bem.

E sabiam, ou melhor, sabiam mesmo muito bem, principalmente quanto as embebia num quente "Mokambo" e as deixava desfazerem-se na minha boca. (só não escrevo "que delícia" para que não comecem a cantar com sotaque Brasileiro... )

Ah! Lembrei-me agora que não eram raras as vezes em que a minha mãe me pedia para ir à loja do Sr. Eduardo comprar qualquer coisa para mim e trazer também "Serena" para a minha irmã. Muitas voltas dei aos pacotes de "Serena", mas nunca entendi para o que aquilo servia. Modernices de raparigas novas, pensei!

Kiko

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