quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

“Carrinhos”


O mundo dos carros de brincar – aqueles “pequenititos”., presumo eu, é uma espécie de local encantado na mente de qualquer criança. E era-o também no meu outro tempo, naquele dos meus 4, 5 e 6 anos de idade. 

Ai, que saudade! (É bom ter-se saudade, certo?!)

As posses familiares não permitiam grandes investimentos em brinquedos, nem tão pouco existia uma oferta tão vasta e aprimorada como a que escorre pelos espaços comerciais que encontramos ao virar de cada esquina, neste 2013. 

Ter-se um brinquedo, era quase um luxo, por mais barato e “insignificante” que fosse esse exemplar. E não me lembro de ter entrado em quartos de outras crianças – as que tinham quartos “unipessoais” eram muito poucas, ou nenhumas. – e ter dado de caras com “n” brinquedos.

Naqueles meados da década de 70, os brinquedos duravam muito tempo, mesmo muito, e os exemplares de maior “quilate”, convenhamos, apareciam quando se fazia anos ou quando o Pai Natal entendia visitar-nos. 

Sim, era assim. E, eventualmente, dávamos aos brinquedos o valor que as crianças de hoje já não dão… principalmente ao fim de 3 minutos, se tanto!

Sim, eu sei! Os tempos são outros, e há brinquedos para todos os bolsos, sejam eles - os brinquedos. - Chineses ou Franceses... (Naquela altura brincávamos muito com exemplares Portugueses, dos em madeira, pintados com tinta "normal", comprados geralmente em festas e romarias.)

Mas voltemos aos “carrinhos”, aqueles bem pequenos que, quase religiosamente, me eram oferecidos numa escolha demorada (só podia trazer um) no quiosque do café Embaixador, ali para os lados dos Aliados. 

Era regra que, em cada Domingo que lá fosse lanchar, seria presenteado com essa benesse em nome do "portar-me bem"... Mas mesmo sendo só um, ele, o tal, conseguia preencher e bem o resto da semana, ou mesmo das semanas que se seguiam. Era um prazer poder brincar com um brinquedo "novo a estrear", por mais pequenos que fosse. E era-o. 

Colecção?! Não, nada disso. Não tive assim tantos. Mas cada um deles foi especial, principalmente naquela parte do sonho… E como eu sonhava com o dia em que teria um carro verdadeiro, mesmo que fosse o menos bom exemplar de todos e por mais diferente que fosse daquelas miniaturas topo de gama. 

Saudade?

Sim, e principalmente de brincar, como se o amanhã ainda fosse um dia demasiado longínquo para merecer qualquer tipo de preocupações ou deliberações. (sorrisos)

Kiko
domingo, 24 de fevereiro de 2013

“Facão”


Lá nos finais da década de 70 e inícios da década de 80, uma das experiências que - infelizmente - me ficaram por concretizar (até hoje) foi a de querer ter sido e de não ter chegada a ser escuteiro. 

É, vá-se lá saber porquê, naquela infância de sonhos, nunca me cruzei com ninguém que me abrisse a via para ser escuteiro. 

E numa altura em que se celebra o escutismo (algo que respeito imenso, mesmo sem saber quase nada da “poda”), recuo umas boas décadas no tempo para lembrar que admirava imenso ter usado aqueles trajes, aquele laço… Nunca aconteceu, e tenho pena que não tenha acontecido, mesmo!

Mas, por outro lado, e eventualmente inspirado pelo escutismo, recordo a insistência com que implorei à minha mãe para que me oferecesse um daqueles facões especiais que os escuteiros (mais crescidos) usavam nas suas missões. Sim, aqueles iguais ao da imagem que aqui adiciono. 

Mesmo contrariada, a minha mãe lá me comprou um, vindo, salvo erro, de uma daquelas lojas ambulantes da festa do Sr. da Pedra, em Miramar. (prometi-lhe que não me aleijaria, e nunca me aleijei)

Já que não tinha conseguido ser escuteiro, ao menos tinha o facão, usando-o para cortar galhos de madeira e mais galhos de madeira, já que não me ocorriam outras utilidades que pudesse associar ao escutismo. (para mim, os escuteiros andavam sempre no mato, e sempre a fazer cabanas e fogueiras – risos)

Apesar de ser considerada uma arma, constava-se (consta-se ainda?), aquele facão acompanhou-me (a medo, o meu) para alguns lados, eventualmente para precaver a necessidade urgente em poder ter que o utilizar… Mas nunca foi preciso, inclusiva mais tarde, quando "espigadote", acampava junto à praia da da Madalena. (o facão foi sempre comigo)

E este era um facão pelo qual eu tinha respeito. Considerava-o uma peça importante, inclusive na eventualidade de poder ter que servir para confrontar “perigosos ladrões”. 

- Ai deles, se me aparecessem pela frente! (fugiria, certamente – risos)

Bizarramente, ou talvez não, esse facão mantém-se fiel, mesmo mais de 30 anos depois de me ter vindo parar às mãos. Está ali para um canto, algo enferrujado, mas pronto para entrar em acção, se necessário for. (sorrisos)

E o mais interessante é o facto de aquele meu primeiro e único facão manter a sua bolsa especial em couro, na qual ainda vigora a minha assinatura de então. Ou seja, a mesma com que assino estas crónicas. 

Kiko

“Filmes Indianos”



Os filmes Indianos, que não vejo há décadas, acompanharam a minha infância, principalmente por volta dos 6 anos de idade, lá para o ido 1976, por aí.

Imagino que não serei o único (ou talvez seja!) a, ainda hoje, ter uma afeição especial por elefantes (o animal que está no meu top de animais preferidos), em virtude de tanto os ver sacrificarem-se em filmes vindos de um país tão distante, tão desconhecido, tão diferente, pelo que o grande ecrã nos mostrava. 

Naqueles filmes em idioma estranho, geralmente, o final implicava o sacrifício de um elefante, ou dois, ou três… Ou então, mesmo não sendo sacrificado, o animal acabava sempre por rivalizar em termos de importância com os protagonistas dos filmes. Nunca o entendi.

As minhas sessões cinematográficas daquela altura passavam principalmente pelo cinema “Olímpia”, aquele encostado ao Coliseu, onde os domingos à tarde ditavam a compra de um bilhete de cor azul, o tal onde, além do preço do bilhete, destacava-se o “M/6”, ou seja, para maiores de 6 anos, se não estou em erro. 

A minha mãe, mesmo sem saber ler, adorava ir ver filmes Indianos. E eu era a sua companhia especial de todos eles, ao ponto de se tornar quase religioso ir ao cinema ao Domingo à tarde. E mesmo sem saber ler aquelas legendas, estou em crer que ela conseguia entendê-los melhor do que muitos dos “alfabetados” presentes naquela sala. 

É! Tenho saudade desses tempos, desses filmes, e até daqueles elefantes… Daquelas histórias de amor com final feliz que, na verdade, pouco mudavam em termos de enredo. Mas era especial, era muito especial todo aquele protocolo da altura, o tal que ia do apanhar o autocarro para ir até ao centro do Porto seguido da compra dos bilhetes à pressa, do ir ver o filme, usar o intervalo para o xixi ou para ver quem de conhecido também lá estava e, claro, o terminar do dia de folga com a mais do que tradicional ida ao famoso “Café Embaixador”, junto à Avenida dos Aliados, para o lanche da praxe, sempre com aquelas caixas de plástico com pastéis (bolos, melhor dizendo!).

Da Índia, nos dias que correm, são várias as canções que me fazem companhia, mas, agora que falo nisso, sinto-me impelido a recordar um desses filmes com elefantes… E fá-lo-ia já, se possível. (sorrisos)

- Alguém me sugere algum?

Kiko

sábado, 16 de fevereiro de 2013

“Karaoke”



Foi em meados da década de 90 que fui apresentado ao Karaoke, uma variante do espectáculo, na altura inovadora em Portugal e um pouco por todo o mundo.

Tendo sido convidado na qualidade de apresentador – já que já tinha uns anos de locutor de rádio, e apesar de o Karaoke traduzir-se em cantar e não em apresentar, aceitei o convite. E aceitei-o sem nunca imaginar que tal actividade viria a representar uma página importante na vida que se seguiu, a minha e a de tantos… E não só, mas também, no Vice Versa Bar, o espaço de onde parti para tantos e tantos palcos, sem nunca ousar esquecer o ponto de partida, já que tantas outras vezes também foi ponto de chegada.

Recordo-me do dia em que comecei, tímido, nervoso e sem nunca ter cantado. Foi a uma 5ª Feira.

A minha voz radiofónica (colocada) parecia estar mais intimidada do que eu, mesmo perante um público composto por apenas 5 ou 7 pessoas, se não me falha a memória, sendo que a quase totalidade de percentagem desse público tinha sido convidada “à força” por mim.

E é precisamente a memória que me leva directamente para a primeira canção que interpretei, já lá vão quase 20 anos: “Can’t help falling in love”, na versão de Elvis Presley, aquela que, da vasta lista, me pareceu ser a que melhor se enquadraria com o meu timbre de voz.
Julgo que não correu mal. Pelo menos fiquei convencido disso, ao ponto de ter aceitado partir para outras canções, sem nunca esquecer aquela, a primeira.

E como em tudo, o que custa é começar. Depois, com mais ou menos treino, a “coisa” ajeita-se, permitindo que as lacunas sejam disfarçadas principalmente quando existe um simultâneo com a natural evolução no “metier”, ou seja, quando nos empenhamos a fundo, por apreciarmos o que fazemos, o que proporcionamos.

Em pouco tempo, aquelas noites de Karaoke transformaram-se em salas cheias de gente, anexando às 5ªs feiras, as 6ªs e os Sábados, sem esquecer as vésperas de feriado. (pelos vistos, eu tinha jeito para a apresentação, ou então a simpatia de quem me/nos visitava era algo que se multiplicava, como os “pães”)

O Karaoke entrou-me nas veias, levando-me a inventar concursos e demais acontecimentos, com maior e menor escala (inclusive nacional), transformando aquilo que era visto como um “espectáculo deprimente” num entretenimento profissional, levado ao pormenor, pelo menos nos “meus” palcos.

Quem subia a esses palcos, principalmente ao “Santuário” Vice Versa, sabia que teria o seu momento, por mais que ele demorasse, tamanha sempre foi a lista de cantores. Todos mereciam o seu espaço, o seu foco de luz, o seu instante, independentemente da qualidade das suas interpretações. Todos eram cantores. (ponto)

Nunca fiz contas, mas “baptizei” uns largos melhores de pessoas na actividade do canto amador, sendo que alguns ficaram profissionais. E estou grato a todos, sem excepção, pelo contributo que deram, a mim e ao público, especialíssimo, interventivo e atento.

Nunca fiz um “CV” desta minha etapa “Karaokiana”, mas guardo na memória o tanto que foi concretizado, incluindo as amizades, as experiências, as saudades… Sim, ficou dessa vida uma banda sonora brilhante, mesmo!

O espectáculo que conduzi ao longo de quase duas décadas foi sempre especial, sempre único, irrepetível, intenso, incomparável (por mais que o tentassem copiar, e tentaram, e tentam… e fazem bem!). E isso, assumo, aconteceu porque, além de mim, fui acompanhado por pessoas que sentiram aquelas horas, dias, meses e anos como verdadeiramente especiais, verdadeiramente gratificantes. (apetece-me enumerar algumas dessas pessoas, mas receio cometer o erro de me esquecer de alguém, e isso seria muito injusto)

Por isso, e porque esta crónica já vai longa, e principalmente porque as minhas histórias sobre o “meu” Karaoke dariam quase uma enciclopédia, permitam que, ironicamente, neste dia 16 de Fevereiro de 2013, dedique o “Can’t help falling in love” a todos aqueles com quem cruzei a voz, o olhar e o sentir ao longo de quase duas décadas completamente e incomparavelmente afinadas.

Obrigado por Tanto!

Kiko

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

“Dia dos Namorados”




Penso que terá sido já depois de completar 16 anos (1986) que notei a existência de uma realidade (comercial, ou também) com o interessante e cativante título de “Dia dos Namorados”. 

E era uma ideia gira, especialmente gira para quem tinha namorada, embora, principalmente naquela “minha” altura, fosse exageradamente repetitiva… É que, neste dia, todos os rapazes e homens rumavam exclusivamente às floristas, fazendo fila de horas e, pior ainda, ao estilo de quem ia “comprar preservativos”, já que o corar dos rostos, principalmente nos mais novos, era notório…

E porquê? Porque numa era ainda mais machista do que a de hoje (muito mais!), as floristas não eram locais de visita para homens e muito menos para rapazes. Ok. Talvez fossem, mas, eventualmente, apenas e tão só na compra de “ramos” para funerais, as únicas flores que - pelo contrário. - não nos envergonhavam ao serem transportadas pela rua fora. (vá, “encalhados” e “encalhadas”, nada de fazer associações menos positivas entre namoros e funerais, já que existem diferenças. – risos)

Andar com ramos de flores nas ruas ou nos autocarros, assumamos, era algo demasiado embaraçoso, razão pela qual a ala masculina não apreciava (esta parte d)o Dia dos Namorados, tentando avidamente trocá-la pelo momento da entrega e, já agora, o da pós-entrega. (sorrisos)

Claro que existiam alternativas às flores! Chamava-se “ourivesaria em prata”, fossem pingentes, anéis, brincos ou outra ornamentação qualquer (digna de chacota masculina à posteriori, se se constasse). É, apesar do custo absurdo das rosas, sempre saiam mais baratas (se se esquecer o tal corar e as duas horas de espera) do que entrar numa ourivesaria (local também propício a corar-se, pelo gesto e, claro, pelo fundo de bolso não compatível com o que se desejaria poder comprar).

Quem estiver a ler, poderá ser induzido em erro e achar que eu só oferecia rosas. Nada disso! Apesar de também as ter oferecido. (sorrisos)

Sempre gostei de acoplar alguma originalidade aos gestos mais banais, e o calendário sempre mereceu a minha especial atenção, com ou sem datas a assinalar. E quem me conhece, acredito, poderá atestar (sem ter que o fazer, logicamente) que raramente me ficava (ou fico) pelo trivial. Gosto de encenações e de surpreender, e confesso-o com todas as letras.

E foi este lado inventivo e romanticamente interventivo que me levou a saborear de especial maneira (quase) todos os “Dias dos Namorados”, principalmente entre os meus 16 e os 28 anos de idade (décadas de 80 e 90), cometendo algumas pequenas loucuras, inclusive monetárias. Sabia-me bem e queria que soubesse especialmente bem à outra parte. (ponto)

Claro que os “Dias dos Namorados” dariam pano para mangas, mas, por falta de espaço (para não dizer: não entrar em caminhos mais “privados”), concluo esta crónica com uma canção que, sem que, ainda hoje, entenda porquê, acompanhou-me em alguns períodos da minha vida. Uma canção que me sabe especialmente bem ouvir, e sem que haja qualquer tipo de interferência da letra (quando a ouço, nem reparo nisso, limito-me a permitir que me embale, sem laço, claro!).

Por isso, hoje, e em plena hora de ponta nas portas dos restaurantes, permitam que dedique esta canção a todos os amantes. Não àqueles que se obrigam a registar a data, para não ficarem “menos bem”, ou melhor, para poderem ser exemplo no dia seguinte, mas sim a quem ama, a quem sente, a quem cria, recria e acredita no amor, um dos “bens” mais desejados pelo ser humano, um ser que, geralmente e infelizmente, só o valoriza substancialmente em dois momentos: quando o recebe e quando o perde.

Amem o mais que poderem, inclusive a 15 de Fevereiro.

Kiko
terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

“Carnaval”


Com o avançar das idades, a nossa e a dos tempos, presumo, o Carnaval - e tantas outras coisas., vai perdendo o encantamento vivido noutras décadas, no caso a década de 70, para onde hoje nos tento transportar. (Ou será que estamos a perder predisposição para a "coisa" e tratamos de nos convencer com o "antigamente é que era bom"?) 

Por volta de 1975, sem a existência das lojas que hoje fornecem tudo e mais alguma coisa para que se possa brilhar, e principalmente porque não haviam (para a grande maioria) condições económicas que permitissem “ir às compras”, recorria-se à imaginação da mãe para vestir um personagem diferente do personalizado nos restantes dias do ano. 

Do vulgar lençol aparentemente branco para a mais do que conhecida versão fantasma às roupas femininas para a não menos “tradicional” mudança de "identidade sexual", lá nos íamos divertindo com os “remendos” que os guarda-vestidos permitiam, mas sempre com empenho e gosto, por muito que ficássemos a dever ao "estilho". 

Obviamente que os quase instantâneos desfiles Carnavalescos (na freguesia) limitavam-se a uma espécie de circular de fotocópias, já que, com todos a recorrerem à mesma táctica, era normal haver um “dress-code” semelhante, mesmo que ninguém combinasse com os outros. 

Com o decorrer dos anos, claro, as coisas mudaram-se, havendo a compra de caretas (o adereço!) e bisnagas para nos proporcionarem um melhor desempenho, mesmo que a variedade ficasse “muito a desejar”. 

Por isso, e para se tentar dar nas vistas, quanto mais não fosse para se poder dizer e sentir que se tinha Carnaval, além das máscaras e bisnagas, divertíamo-nos com outros pormenores (hoje em estado moribundo) que ajudavam a assinalar melhor o entrudo. Refiro-me em concrecto, e sob a forma de perguntas, a exemplos que, estou em crer, mexeram com cada um de nós: 

- Quem não vibrava com as serpentinas a ficarem presas nas antenas dos carros que passavam na rua?

- Quem não tentou assustar as colegas de escola com os famosos “estalinhos”?

- Quem não corou por ter soltado bombinhas de (mau) cheiro numa sala de aula?

- Quem não andou a “faiscar” as paredes da rua com aquelas tiras de papel com “micro-pólvora” cor-de-rosa/castanha. (sim, não me estou a lembrar do nome, novamente – risos)

- Quem não apanhou confétis do chão para os voltar a atirar para a cabeça de alguém?

- Quem não pegou em serpentinas usadas para fazer “rolinhos”, de maneira a reutilizá-las?

Ou seja, e em resumo, todos, todos já vivemos o Carnaval de forma intensa, ou melhor, de forma muito mais intensa. E isso aconteceu naquela tal altura em que se “aguçava o engenho”, porque mais importante do que ter, na verdade, era acontecer. E nós, crianças remediadas, poderíamos não ter muito, ou mesmo não ter nada, mas acontecíamos, julgo eu (e perdoem se exagero!), de uma maneira muito mais Carnavalesca e verdadeira.

Kiko
sábado, 9 de fevereiro de 2013

“Timex”


Na década de 70, lá para os meus 5 anos, lá consegui convencer a minha mãe a dar-me um relógio, mas dos “a sério”. 

Se bem me lembro, ainda antes de entrar para a primária, passava os dias a olhar para as horas, e quase a suplicar que me perguntassem quanto tempo faltava para uma coisa qualquer, já que o importante era dar uso ao relógio. 

Recordo que o bracelete me incomodava, mas tal era um “menos” que não poderia estragar o resultado de, com relógio verdadeiro no pulso, já ser suficientemente crescido para poder usar um objecto associado aos adultos. 

Era um orgulho poder ter um relógio, e arregaçar as mangas para poder "dar nas vistas", mesmo com o incómodo do transpirar que deixava um odor menos agradável naquele pulso do braço esquerdo. (Ou seria no direito? É que já uso relógio há uns anos, e agora estou confuso.)

Uns anos mais tarde, já depois de ter tido mais um ou dois relógios, lá chegou o objecto mais importante da minha infância (para aí aos 10 anos, ou 11, não sei.): o “Timex”, a marca de relógios que todos conhecíamos na altura. 

Este era um “Timex” especialíssimo, com máquina de calcular incorporada, daqueles que, discutia-se nos intervalos do ciclo preparatório, serviria para ajudar na matemática (nunca o cheguei a usar nessas circunstâncias). Este era o “Timex” que nos fazia sonhar com o dia em que existiriam relógios com televisão no visor.

- Já existem há mais de uma década?! (não se esqueçam de que me reporto ao tempo em que não se sonhava com a hipótese de os telefones poderem não ter fio ou à irrealidade de, um dia, poderem vir a filmar)

O “Timex Calculator” foi sem dúvida um marco interessante, principalmente para quem o teve. E por mais que possa ser visto como um objecto de luxo (naquela altura), não o era. Já que, pelo menos no que me diz respeito, luxo era poder ir almoçar fora num Domingo por mês, e isso nunca fez parte da minha agenda de então.

O relógio da máquina de calcular, pelo menos enquanto durou a febre de o ter, teve um uso exagerado, ao ponto de se inventarem contas para as poder resolver com aquele objecto especial. 

Aquele “Timex” que, eventualmente, acabou por ser trocado por um “Casio” (dos que voltaram a renascer nos pulsos de hoje em dia, por saudosismo, imagino), na verdade, nunca conseguiu ser superado em termos de causa-efeito por nenhum outro, ao ponto de, quando o assunto é relógios, a minha memória me transportar rapidamente para junto dele.

Kiko
segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

“Publicidade”



A publicidade, principalmente nas décadas de 70 e 80, tinham um “share” de audiência televisiva (e não só!) estonteante, ao ponto de haver quem ficasse à espera dos intervalos para justificar o tempo passado em frente à televisão.

Sim, estou a afirmar que, em muitos casos, os períodos publicitários televisivos eram bem melhores do que os programas que os rodeavam, aos intervalos. Muitos eram os que adormeciam nos programas e acordavam nos intervalos.

Com isto não quero dizer que, naquela altura, a publicidade era especialmente bem feita, ou que tinha efeitos especiais brilhantes ou ideias de marketing irresistíveis. Apenas eram interessantes, ou mais interessantes do que o que estivesse a dar. (nem todos, mas alguns, vá!)

Poucos eram os que aproveitavam os intervalos publicitários para irem fazer o “xi-xi” ou para mudar de canal (o segundo canal nem sempre estava “online” e, quando estava, era, geralmente, bem pior do que o pior que passava no primeiro canal – risos).

Mas mais do que palavras, permitam que pegue em alguns exemplos, só em jeito de título, para vos (nos) mexer automaticamente com a memória, e sem grande esforço:

- Bombocas, BIC, Regisconta, Singer, Grundig, Philips
- Vimeiro, Àgua das Pedras, Laranjina C e, claro, Trinaranjus
- Os glutões do “Presto”, o famoso Omo e, claro, o sabão Clarim
- Skip, que nos ensinava a decorar nomes de marcas de máquinas de lavar das quais nunca ouvíramos falar
- Citroen 2 Cavalos e, claro, o Fiat Uno, além do Renault 5
- Nesquick, Cerelac, Toddy e os primeiros “Kellog’s”
- Knorr, Olex, Pasta medicinal Couto, Douradinhos da Iglo, etc., etc, e etc.

A lista, como se imagina (e certamente que cada um tem vários exemplos a acrescentar a esta lista), é enorme. Mas, no concreto, o que pretendo sublinhar com este pequeno testemunho é que, naqueles outros tempos, ao contrário dos de hoje, a publicidade era muito bem-vinda, sem ser necessário repetir os mesmos anúncios no mesmo intervalo, nem tão pouco recorrer a uma enorme equipa de publicitários e meios para nos fazer chegar uma mensagem, por mais “inverdadeira” que pudesse ser.

Sabia muito bem ver os intervalos. Sabia muito bem, no dia seguinte, se houvesse dinheiro, ir a correr comprar um daqueles produtos que rostos não tão bonitos (ou photoshopizados) nos apresentavam.

Mais, se passavam na televisão, era porque eram bons, ou melhor, dignos de não merecerem que nos predispuséssemos a olhar para a sua concorrência.

- Linha branca?! O que era isso?!

No máximo, e para os mais “aculturados”, era a linha de electrodomésticos da Rádio Popular. (risos)

É, os intervalos eram espectaculares! Porquê? Porque nos faziam sonhar e desejar, e não duvidar, como fazemos hoje, quando um spot publicitário quianda vai a tempo de nos entrar pelos olhos dentro, naquele instante em que procuramos o comando para mudar de canal.

Kiko

“Big Mac”



Presumo que foi já em finais da década de 80 que apareceram as primeiras “fast-food-shops” em Portugal. Aquelas onde o McDonalds nos fazia sentir mais integrantes de um mundo sem fronteiras, aquelas onde um simples hambúrguer nos dava um ar mais “estrangeiro”.

Quando os “Big Mac” apareceram, lá no GaiaShopping, as filas eram ainda maiores do que são nos dias de hoje, muito maiores, ao ponto de ninguém – mesmo a desesperar – ousar reclamar de um minuto a mais do que o supostamente recomendável.

Como todo o respeito, naquelas alturas, geralmente ao Domingo, que se “lixassem” o cozido à Portuguesa e as sardinhas assadas! O que importava era dar umas dentadas num hambúrguer feito nos Estados Unidos (santa ignorância!) acompanhado pela não menos Norte-Americana “Coca-Cola” e, já agora, pelas batatas-fritas quentinhas que, certamente, também provinham da terra da estátua da liberdade.

Na verdade, ter acesso ao McDonalds, mais do que uma moda, era uma espécie de viajar para fora cá dentro, mesmo que nessa viagem usássemos os autocarros de todos os dias e que, em vez de dólares, os pagássemos com notas de 100$00 ou várias moedas de 25$00. Sim, daquelas grandes!

E que bem sabia abrir aquela caixa especial! Que bem sabia aquele beber “Coca-Cola” por uma palha! Que bem sabia devorar batatas-fritas bem diferentes das dos pregos em prato! Que bem sabia, acrescente-se, comer aquelas partes vegetais que se incrustavam entre a carne, o queijo e o pão de formato esquisito!

Mas havia um problema. E que senhor problema!

- O que fazer com aqueles sacos minúsculos de “ketchup” e “mostarda” que vinham a acompanhar a “encomenda”?

Bem, no meu caso, deixava-os em cima da mesa da área alimentar daquele centro comercial (que já foi de eleição.) junto a tantos pares de gémeos, já que poucos o ingeriam aqueles conteúdos embalados de forma pitoresca (mais pareciam pacotes de açúcar plastificados), eventualmente por não se saber bem como os misturar numa refeição que, tal como se apresentava, por mais estranha que fosse, parecia perfeita, ou melhor, diferentemente e especialmente divinal.

Eram várias as romarias até ao McDonalds do GaiaShopping, não só pelos cinemas e filmes em grupo mas também pelos “Big Mac”, aqueles que eram mais do que um excelente pretexto para nos reunirmos em torno de sonhos, Americanos ou nem por isso.

Kiko

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