quinta-feira, 4 de abril de 2013

“Telejornal”



Lá para as décadas de 70 e 80, as notícias bombásticas, ou seja, quase todas, porque não existia termo de comparação com canais estrangeiros e muito menos com concorrência, eram emitidas e apresentadas às 20 horas em ponto no único “Telejornal”.

Hoje, décadas depois, como em tantas outras coisas, na televisão já nada é igual ao que era. E uma demissão governamental, se é que existiam com regularidade, eventualmente, não apareceria a abrir um “Telejornal” nem teria a oportunidade de interromper a emissão de qualquer um dos dois canais. Na verdade, não interromperia o pior dos programas nem teria acesso a transformar-se em rodapé informativo, se é que já existiam na altura, algo do qual a minha memória duvida, e muito!

O “Telejornal” era, sem dúvida, o momento por excelência do algum silêncio familiar, por mais barulho que os talheres fizessem ao encontrar os pratos, já que as notícias eram apresentadas à hora da reunião à mesa. Quem se atreveria a jantar depois das 20 horas!? Quem!? Algum lunático, certamente, já que, a essa hora, as ruas estavam vazias e os autocarros viajavam sem passageiros.

Apesar de, actualmente, estarmos circundados por canais televisivos informativos, os noticiários tinham uma importância maior do que a que têm hoje, e isso permitia que “comêssemos o que nos entrava pelos olhos e ouvidos”, tudo seleccionado por quem domava os editoriais da altura, ao ponto de, por exemplo, a parte mais expressiva da oposição a um governo merecer uns míseros segundos de antena, só para se provar que a democracia existia, que haviam outras opiniões…

A voz do povo, outra “undergrounduzidade” daqueles tempos, era captada em temas menos sensíveis, menos políticos, tão só.

- Alguém se lembra de ter visto um “Telejornal” a abrir com a notícia da demissão de um ministro?

Não. Mal se sabiam os nomes deles, os pelouros, onde estavam. E, claro, presumia-se que todos eram doutores. (Sê-lo-iam?!)

- Alguém se lembra de um jornalista ter entrevistado um popular na televisão investido de “opinion maker” sobre a demissão de um ministro?

Não. Mal se viam telespectadores nas televisões, a não ser nos programas de entretenimento. (Para quê entrevista-los, já que, mal se lhes apresentava um microfone começavam a chorar, e sem saber porquê?!)

Pois, tal como se percebe, as coisas ficaram bem diferentes com o decorrer dos anos. E, de repente, qualquer um de nós pode investir-se de visionário, cartomante, astrólogo, vidente ou viciado em sites de apostas online para jurar que, daqui a pouco, todos os “Telejornais” abrirão com a espantosa notícia de que um ministro se demitiu. E mais ainda: todos já saberemos o que fez, deixou de fazer e, já agora, que ceroulas usa à 5ª feira.

Porque é que sabemos tanto? Porque, ao contrário de antigamente, estudamos (piada de mau gosto) nos “iPhone”, “Tablet” e “LCD”.

Pois. E melhor ainda, ao contrário do passado, daqui a pouco, quando estivermos a vero “Telejornal” (esteja ele travestido com que nome estiver), na verdade, esta notícia em concreto saberá a “dejá vu”, porque já todos sabemos qual é, ao contrário daquela altura em que se aguardava ansiosamente pela notícia do dia, ou melhor, da noite.

Kiko

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