quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

“Pai Natal”


A última semana antes do Natal – e, para mim, Natal era o período que ia da noite de consoada até à manhã seguinte até ao desembrulhar da prenda., era muito diferente das outras do ano, ao ponto de sentir uma vontade imensa em ser mais simpático, mais colaborador e mais amigo do meu amigo, não fosse o Pai Natal (a minha mãe) estar a ver e cortar no “tamanho” da prenda. 

Quanto ao Pai Natal, o tal que era personificado em apenas algumas ruas do grande Porto, confesso que, ainda hoje, nunca percebi muito bem se acreditava nele ou não, mas que me dava jeito acreditar, lá isso, dava, nem que fosse para me manter na expectativa do que poderia acontecer. 

Naqueles meados da década de 70, ainda (que me lembre) sem grandes superfícies comerciais, nas redondezas da Rua de Sta. Catarina, limitava-me a dizer à minha mãe o que pretendia que ela “comunicasse” ao Pai Natal, mostrando-lhe exemplos do pretendido, em função das montras que íamos percorrendo juntos. 

- Kiko, olha que o Pai Natal não te pode dar tudo. E olha que ele não pode dar coisas caras, porque tem os meninos todos do mundo à espera de prenda! – dizia-me ela, Natal, sim, Natal, sim. 

No fundo, no fundo, eu sabia que a minha mãe não podia gastar dinheiro com prendas de suporte complicado para a “féria” (salário mensal), mesmo havendo o subsídio do desafogo que permitia “extravagâncias” bem mais importantes do que os brinquedos. E por isso, nunca fui de lhe pedir “este mundo e o outro”, pelo contrário. Penso que sabia até onde ia o “fundo da carteira” dela.

No Natal, sempre tive um faro especial para detectar a chegada da prenda, uns 3 ou 4 dias antes do tal dia. (risos) E era fácil. Bastava a minha mãe chegar mais tarde do emprego para se perceber que tinha andado às compras de Natal. Claro que ela inventava inúmeras desculpas, mas aquele seu subir a um banco para guardar a prenda em cima do guarda-vestidos era delatora. (risos)

E era o mesmo banco aquele que, mal não houvesse “perigo”, eu usava para lá ir buscá-la – à prenda. – para, com todo o cuidado, descolar a fita-cola num dos lados e decifrar o que acabaria por estar plantado como que “por milagre” ao lado do meu sapato na manhã do dia de Natal. 

Apesar de dormir do quarto ao lado, nuca descobri como é que a minha mãe conseguia colocar a prenda no fogão da cozinha sem que eu me apercebesse, já que, das poucas horas que conseguia dormir, eu era o primeiro a acordar, perto das 7 da matina, para, claro, ir abrir a prenda, a minha tão aguardada prenda. 

Hoje, mais de 35 anos depois, e pensando melhor, chego à conclusão de que o Pai Natal, se calhar, existe mesmo. Deve ser quem, durante a noite, bota ante bota, pega nas prendas que estão em cima dos guarda-vestidos e as coloca em cima dos fogões. Só pode! (sorrisos)

Kiko

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