quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

“Passe Geral”



Os tempos mudam e, por muito que me custe admitir ou compreender-me, também sou daqueles inúmeros que pegam no carro para fazer 50 metros, 100, vá!

Quando era teenager, na década de 80, as coisas eram bem diferentes, não só porque contavam-se pelos dedos de uma só mão quem, na minha rua, tinha automóvel (era uma rua pequena, convém notar-se!) e, claro, porque, apesar de estarmos numa crise, tenho a ideia de que, na altura, a severidade era ainda maior, apesar, e note-se bem, de, eventualmente, ser-se mais feliz com o pouco que se tinha, ou a que se tinha “direito”.

O passe de autocarro, claro! – e presumo que ainda é assim., era uma espécie de conquista de liberdade, porque, além de servir para nos levar de e para a escola, dava-nos rédea para que fossemos muito além dos poucos quilómetros a que nos conduziam as bicicletas. 

Recordo com saudade o meu primeiro passe de autocarro, ainda em criança… Mas o passe que fez toda a diferença foi aquele que ilustra estas minhas palavras: o então chamado passe geral. 

Claro que, numa altura em que ainda não havia metro no Porto, nem se pensava em alguma vez chegar a andar nele, só nas idas a Lisboa, ter este passe geral era assim para o muito especial, já que, além do autocarro, do trólei e do eléctrico, permitia que também se andasse de comboio, algo inimaginável – o ter-se um cartão plastificado que dava para transportes que se moviam em “estradas” diferentes. 

Quando apareceu, não sei como mas consegui convencer a minha mãe de que era importante, ou melhor, imprescindível, já que, sendo honesto para comigo, raras eram as vezes em que andava de comboio, mesmo morando a 50 metros do apeadeiro da Madalena. Mas pronto, lá o tive. Serviu para andar mais umas 4 vezes de comboio, ou 5, vá!

Além disso, este passe geral distinguia-se do outro, o normal, dos autocarros, por ser substancialmente maior e ficar ligeiramente “de fora” da carteira dos restantes documentos, ou seja, o bilhete de identidade. E, já agora, dava nas vistas por ter dois “selos” distintos, um para o autocarro, em versão autocolante, e outro para o comboio, em versão cartolina.

Que espectáculo! Era um prazer mostrar o passe aos motoristas dos autocarros ou aos “picas” do comboio… Mas depois, aos 19 anos, lá veio o “Renault 5 GTL” estragar aquilo tudo!

Kiko

* Este foi o meu último passe, o passe geral.

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