sexta-feira, 30 de novembro de 2012

“Primária 1”


Desconheço se algum de vós sentirá o mesmo que eu, de cada vez que passa à porta daquela que foi a primeira escola, a primeira sala de aulas, o primeiro recreio… A minha primeira escola, a escola primária do Maninho, Madalena, Vila Nova de Gaia, hoje, já que tem um exemplar dos “modernos” por trás, transformou-se num infantário, palavra que, na minha altura, eu imaginava identificar espaços para bebés que não tinham pais. 

É, hoje, como sabemos,
 quando se vai para escola, não se vai para a primária, vai-se para a pré-primária, quando o destino não é para a pré-pré-pré-pré-primária, ou algo ainda mais “precoce”. 

Estava eu em pleno 1976, numa manhã fria de Setembro, sem a tal canção do Espadinha, imagino, e, de mão na mão da minha mãe, envergonhado, com pasta às costas (não havia mochilas, presumo), lá fui pé ante pé, sem pressa, pelo contrário. E no epicentro daquela pasta, se bem me lembro, sem nenhuma imagem de desenho animado nela decalcada, mas com cores, lá estava o que lá tinha colocado umas vésperas antes desse dia longo: estojo dos lápis, afia, caneta, régua, cola e marcadores de feltro, um livro da escola (acho que já o levava), uma sebenta, 1 caderno (poderia ser preciso) e dois pães com marmelada, além de um mar de perguntas sem resposta. 

Não conhecia ninguém.

O que poderia ou não poderia fazer? Ou melhor, o que se faz num primeiro dia de aulas? 

O que se faz num espaço que (ainda) não nos diz nada além do receio?

Como ultrapassar aquele tempo gigante que, na voz dos pais, traduzia-se e repetia-se no tal do: “passa rápido.”?

É, lá fui "deixado", como todos, ao portão da escola. (não quis passar por criança - já tinha 6 anos!, e pedi à minha mãe que fosse embora, mas ela, como muitas, não foi, ficou a espreitar, como se eu não a conseguisse ver… tão bem)

“ – Que azar. Não conheço ninguém!”

Onde sentar?

Será que a professora dá reguadas?

E lá chegou a hora, a hora de entrar na sala, um pequeno pavilhão de madeira (quase a estrear). E lá chegou a hora de entrar na primeira sala, sentar-me na primeira secretária (para dois, e ainda com aquelas antiguidades dos buracos para pôr tinteiros – frascos com tinta, entenda-se)…

Como seria a professora? Uma velhota rabugenta, certamente!

Começou logo mal. Calhou-me um professor. É que, daquilo que ouvia dizer nos paralelos da minha rua, os professores eram bem piores do que as professoras.

“ – Que azar. Quero ir embora!”

• Continua… AMANHÃ.

Kiko

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