sábado, 26 de maio de 2012

"Lerpa"



Isto de se acampar dois meses seguidos só com rapazes da nossa idade, convenhamos, dava tempo e mais tempo para tudo e mais alguma coisa, mesmo quando se iam fazer todas as refeições a casa, como era o meu caso, por ter tenda montada a apenas 3 quilómetros da minha rua (perto mas longe).


E como a partir de certas horas da madrugada, na adrenalina da idade, as potenciais conquistas ou eventuais namoradas estavam nas tendas familiares dos pais, sobrava tempo para fazer outras coisas, claro.

Houve um ano, numa dessas férias grandes de finais da década de 80, em que virou moda jogar-se à "lerpa" para se tentar arranjar mais umas notas de 20$00... Ou perder-se, que era o mais normal, principalmente quando as disputas eram com os "mais grandes", pois já "a sabiam a toda".

Recordo-me de uma célebre madrugada em que eu, que sempre perdi aos jogos a dinheiro e aos outros - tenho esta "sorte" fantástica, daí fugir a sete pés dos jogos, estava com uma fezada imensa.

Tudo começou com apostas em moedas, na tenda de um "desconhecido" e com um grupo de "uns 7 ou 8", os quais, ficando "limpos", acabaram por ficar a ver ou optaram por ir dormir.

As "casadelas", talvez pelo cansaço ou pela necessidade de se ver quem "os tinha mais no sítio", acabaram por sofrer uma inflação vertiginosa, ao ponto de acabarmos - eu e o dono da tenda - sob o olhar de mais um ou outro, a ter na "mesa" notas de contos de Reis (1000$00 - uma fortuna para altura).

Sei que a disputa acesa, muito acesa, e com receios e coragens no auge, além do enorme risco, acabou com o sol a raiar, perto das 7 da matina. E acabou com a mudança de jogo: da "lerpa" passamos para o (salvo erro) "viradinho", jogo no qual ganhava quem tirasse a carta mais alta.

Ainda hoje não sei como aceitei entrar nessa absoluta loucura de jogar às notas de 1000$00 por cada jogada. (estou a falar de vários contos em jogo, e numa altura em que ter "1 conto" era um luxo).

Quanto ganhei? Quanto perdi?

Aqui é que está o ponto interessante desta história. É que, apesar de estar com uma fezada imensa (sorte e mais sorte), acabei por ganhar muito pouco: uns 500$00, talvez. (para alívio do oponente que, senti, começou a ver a sua vida a andar para trás, já que chegou a estar com uma dívida que, mesmo em prestações, ainda estaria a ser paga hoje, ou talvez não)

Já fora dessa "zona de adrenalina", mais calmo, lembro-me de que fiquei triste por não ter desistido do jogo (por teimosia) quando estive a ganhar imenso dinheiro; coisa tipo um ordenado mínimo. Mas, por outro lado, fiquei contente por não ter perdido o que tinha e não tinha. E, já agora, vá lá, 500$00 deram para beber umas valentes súrvias, comprar imensos gelados e pagar uma rodada de pão com manteiga ao pessoal.

Nunca mais tive uma fezada... assim.

Kiko

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