sábado, 19 de maio de 2012

"Festarolas"


As festas da "terra", ou da freguesia, se preferirem, eram um dos momentos mais altos do ano, principalmente na década de 80, em que não haviam tantos acontecimentos como isso onde pudéssemos ver e ser vistos. O nosso mundo restringia-se aos caminhos até onde os "penantes" nos levavam, em jeito de "os locais de sempre", também por falta de oferta, sublinhe-se.

E por mais parolas que fossem aquelas festas, a começar pelas bandas que lá iam - já que só tocavam música de baile, e nós gostávamos era dos Cure e dos Mission (que gravávamos em BASF de 120 minutos), éramos "ferrinhos"... Embora passando as semanas anteriores a gozar com quem lá ia, já que aquelas festas eram para "cotas", etc. e tal.

"Olha para o que eu digo e não para o que eu faço."

O que havia de especial nessas festas, além da iluminação igual à dos últimos "100 anos", a roulotte das farturas, a senhora dos tremoços e das pipocas e o café da "Costa", que vendia "survias" que se fartava, entre um e outro bagaço?! Na verdade, havia muito, mesmo não o percebendo, naquela altura. 

Primeiro, começava-se por, em grupo (dos 5), dizer-se que era "xunga" lá ir, porque as "gaijas bouas" não iriam (as "bouas", naquela leitura, estavam todas noutras freguesias!) e, acima de tudo, porque haveria algo mais interessante para fazer, nem que fosse ir ao café de sempre, lá para os lados da Câmara de Gaia, ou ao "Iate", em Canidelo... Claro que, como todos os anos, mesmo que a ridicularizar quem ia às festas ver os "Iniciadores" (top e topo), acabávamos por lá ir ter "religiosamante", envergando a melhor roupa e caprichando no penteado.

E, sem saber dançar, lá ficávamos "mirones", a gozar com todos os outros (gente conhecida, como vizinhos), sendo certo de que os visados, muito provavelmente, fariam o mesmo em relação a nós. Era um gozo colectivo. (risos)

Claro que acabávamos sempre por tentar arranjar a quem "fazer olhinhos", e nada mais do que isso, já que, naqueles anos, as moças, como se imagina, pouco antes da meia-noite, iam directamente para casa de braço dado com as mães e, quando muito, dançavam com primos, e com muitos centímetros a separarem-nos. O respeito era bonito e... p(r)onto.

Bem, ao menos, tínhamos assunto para uma semana, quanto mais não fosse inventando que aquela tal chavala (geralmente a mais vistosa da freguesia) estava interessada em nós, porque nos olhou mais do que 3 segundos seguidos (o "em nós", claro, significa todos os jovens presentes, porque todos tínhamos que alimentar o ego)... E fazíamos filmes e mais filmes, na imaginação.

As festas da freguesia, até poderiam ser parolas, mas, no fundo, no fundo, eram um dos acontecimentos do ano. E, confesso, felizes ficaríamos se houvessem festas daquelas todas as semanas. Já que, numa altura em que quase nada havia, uma festarola era um "manjar" para o ego individual e colectivo, mesmo que os sonhos e desejos não passassem de pura imaginação.

Kiko

* Não eram raras as vezes em íamos para casa a imaginar como seríamos felizes com a "miúda mais gira" da festa... E isso ainda durava uns dias...

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