sábado, 31 de março de 2012

“Mata-Ratos”


Isto de se querer ser homem demasiado cedo pode fazer mal à saúde. E pior do que isso é perceber-se mais tarde que o “Aladino” pode ser ficção mas os desejos não.

Naquela idade da parvoíce, para aí aos 12 anos, o usar da lâmina na cara e no peito (não usei noutros lados, que me lembre!), engrossar a voz ao falar em público (“publicozinho”) e fumar transformou-se numa meta de vida. 

É, há alturas em que achamos que já somos adultos, estando a décadas de o ser, e que, por isso, há que estabelecer desejos e fazer por conquistá-los o mais rapidamente possível, por mais ridículos e despropositados que o possam ser. 

Esquecendo a parte “pelosa” e “rouca” e concentro-me do “fumar”, há que registar que o hábito de fazê-lo (às escondidas dos adultos mas à vista dos da minha idade) demorou a concretizar-se. Começava-se sempre pelo fumar “à sapo” (sem travar) e só alguns treinos depois é que se "perdia a virgindade" nesse avançar para o futuro.

Foram vários os “treinos” (impulsionados por mim e por outros) que terminaram com tosse e lágrimas, dada a dificuldade (e receio, talvez) em conseguir provar(-me) que já era grande o suficiente para abandonar de vez os cigarros de chocolate “Porto” e passar para o lado dos “fixes”, para o lado dos “adultos”. 

E lá consegui. (Uau!) Lembro-me de que, na altura do primeiro "travanço", fiquei com uma tremenda “moca”, já que o póster da Samantha Fox que tinha colado ao tecto do quarto ganhou vida, movimentando-se em círculos. E a “moca” voltou a repetir-se, tal como os “entalanços” e as lágrimas. 

Já mestre na “cena” de fumar, de cada vez que não havia dinheiro para o “Português Suave” (maço amarelo, novo, na altura), lancei-me nos “Kentucky”, embora nunca os tenha comprado na versão avulso, como tantos o faziam a troco de tostões. Acho que o termo “mata-ratos” me afectava, além de detestar ficar com “palha” na boca”, por não terem filtro.

E lá andava eu e muitos mais (eram poucas as raparigas que fumavam) nos pinhais e nas traseiras dos pavilhões do secundário... Fumar ficava bem. Não fumar ficava mal, principalmente em termos de “maturidade social”. E, além disso, não haviam essas “parvoíces” de mensagens que dizem que o “cigarro mata e afecta a qualidade do esperma” - entre outras coisas, e muito menos a proibição de se fumar onde se quisesse. O que nos proibia de fumar, na realidade, era o receio de se ser apanhado pelos pais e candidatarmo-nos a levar um par de “chapadas” em público, seguido de um “ – Já para casa!”. Isso sim, isso é que nos proibia de fumar mais, com “lata”.

Na falta de “Português Suave” ou “Kentucky”, claro que havia sempre a alternativa “barba de milho” ou "folhas de videira" secas, que se fumava (e sabiam muito mal) envolvidas em papel, de preferência sem ser o higiénico.

Hoje, 30 anos de vício depois, concluo que, naquela altura, treinei excessivamente bem e que, graças a isso, consegui o que desejava “à força toda”: fumar, ter pelos no peito e na cara e, não menos irónico, ter voz grossa. 

“Santa” idade da ignorância! Enfim.

Kiko

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