quinta-feira, 22 de março de 2012

Fórmula Sameira

Fórmula Sameira 

“E quem vai à frente é Alain Prost nesta última volta do Grande Prémio do Mónaco… Faltam 3 curvas para a bandeirada final… E eis que Nelson Piquet se aproxima, colocando-se do lado direito do piloto Francês… ” 

 Longas e felizes foram as inúmeras tardes de Domingo na praia de Miramar, em Vila Nova de Gaia… De barraca alugada ao mês, a umas dezenas de metros do mar, lá estava eu, sozinho com a minha Mãe, entretendo-me horas a fio naquele areal sem aglomerados de gente, em paz. 

 Um pouco mais a norte dessa barraca de sempre, junto à delimitação para com o campo de golfe, sentia-me dono e senhor de mim, dono e senhor do tempo, dono e senhor do brincar sem brinquedos, porque já não tinha piada fazer "castelos na areia"… E, para me divertir, era necessário espaço e nada de interrupções ou pegadas que estragassem aquela obra de arte: uma pista de “Fórmula 1” feita especialmente para cada tarde (cada dia, cada pista, cada pista, cada prova, cada prova, cada desfecho, ou talvez não). 

 As cadeiras de madeira da barraca da Dª Ilda eram a ferramenta perfeita para, com elas, fazer uma pista com “s’s” e mais “s's”, com rampas e mais rampas, e lisa, bem lisa, claro, porque os carros tinham que aplicar a sua imensa velocidade, tinham que bater recordes e dar nas vistas, mesmo que ninguém os quisesse ver, mesmo que nenhum outro “catraio” com 10 ou 11 anos quisesse competir comigo… Não era problema. Mais “ficava” para mim! 

 Quando entrava em pista, já tinha coleccionado os “bólides” que, até então, estavam estacionados ao "Deus dará" dentro e fora do barracão que funcionava como café, restaurante, loja de praia e casa-de-banho. Os carros, sublinhe-se, não recorriam a extras e eram todos diferentes, sempre em plano de igualdade, já que era importante "que vencesse o melhor", mesmo sendo eu o produtor, realizador, relatador, todos os pilotos e o público, quando me lembrava. 

 Os carros, velozes, sem ferrugem, tinham as marcas do costume: “Sumol”, “Pedras Salgadas”, “Coca-Cola”, “Sagres”, “Laranjina C” e o que mais viesse à “rede”… E, quando chegava a hora, parava tudo naquele silêncio de sempre, porque lá estavam eles, asseados, alinhados, prontos para mais uma série de voltas àquela pista gigante, naquela praia Portuguesa que ainda (só) sonhava em receber os “Fórmula 1” no meu País, lá para o Estoril, quem sabe!... 

 “E faltam 5 voltas… Alain Prost mantém-se na frente… Enquanto Nelson Piquet acaba de mudar os 4 pneus… Quem irá ganhar? Quem levará a taça? E lá vai Piquet... E ultrapassa o piloto Francês… Vai ganhar, vai ganhar… e vai sagrar-se campeão de Fórmula 1 com o seu Brabham,… Ganhou! Nelsssooonnn Piquuueeetttt…“ 

 Foram várias as discussões entre mim e a minha pessoa, por não concordar com o favoritismo que entregava de mão beijada ao piloto que, não sendo Português, era como se fosse, ou era mesmo, porque assim tinha que ser… 

 Horas depois - e ao chamamento da minha mãe, já com a barraca arrumada, lá ia eu, rua acima, a caminho do comboio de sempre, aquele que, às “oito menos um quarto”, haveria de me levar até casa, certo de que, na próxima prova, a pista seria ainda maior, porque, acima de tudo, o meu piloto teria que vencer sem contemplações, sem contestações, viessem de onde viessem… 

 É, a felicidade, naquele tempo, mesmo quando a "solo", também se fazia no “disparar” de uma sameira… 

Kiko 

 • Eram interessantes as discussões, sempre que os carros saiam da pista… E já era difícil aturar-me a mim mesmo.

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