terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Pára-Brisas


PÁRA-BRISAS


O pára-brisas do meu carro tem um defeito que não consigo solucionar; passa as manhãs, tardes e noites a observar o mundo que está lá fora, aquele que me leva constantemente a tirar ilações de vidas que desconheço, de seres a quem nunca fui apresentado,... iguais a mim, ou talvez não, porque todos somos diferentes, mesmo num mundo de iguais...
É, é um pára-brisas teimoso, aquele que me separa e distancia das histórias que julgo ver, daqueles passos e expressões mil que por vezes me entristecem e que outras tantas vezes me fazem sorrir e dizer que, afinal, há vidas que valem a pena... Que há exemplos, que há sol, que há luz... Aqueles mesmos exemplos a que me amarro para justificar a balança que tantas vezes, pelo que vejo ou imagino ver, pende para o lado oposto, o lado cinzento dos dias...
E hoje, em jeito de repetição, lá me cruzei pela enésima vez com um punhado de pessoas tristes, aparentemente e excessivamente sós, desprovidas de uma simples gota de vontade, de coragem, de sol... 
E eu?! Eu mantive-me ali, no meu canto, naquele cubículo em jeito de varanda, naquela velocidade de sempre, perto mas distante, simples passante, simples passageiro deste calendário que quando nos apresenta a lágrima, no fundo, impele-nos a sublinharmos que, felizmente, somos abençoados... E que os nossos dias são bem melhores do que tantas vezes julgamos nas reclamações do "por tudo e por nada".
Podemos não ter tudo, mas, de cada vez que um pára-brisas consegue chamar-nos à razão, devemos limitar-nos a exclamar: Obrigado, porque o mundo vai muito além de um pára-brisas.

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