sábado, 22 de agosto de 2009

Paredes

Estou certo de que qualquer um de nós, num primeiro impulso, não se importaria de trocar as assoalhadas que habita no "corre-corre" dos dias para viajar sem bilhete de regresso para uma destas cabanas junto à praia. E mais, a grande maioria de nós não hesitaria dois segundos que fossem em afirmar "a pés juntos" que a troca seria para sempre, e que sempre.
Mas, por outro lado, naquele segundo em que os pés passassem pelo chão, haveria um sem número de estacas que atirariam essa tremenda certeza para o canto do impossível, para o extremo da dúvida, para o lado do "bem, mas...".
O que fazer com a conta da luz? O que fazer com o jantar agendado? O que dizer a todos aqueles laços criados? O que argumentar à vida construída de hábitos?
Pois, no sonho é muito mais fácil colocar um ponto final, basta acordar e está tudo resolvido. Mas quando se trata de conseguir dar nós finais a tudo o que nos rodeia, convenhamos, não há tempo suficiente para lidar com tantas "pontas" inacabadas, com tantos compromissos inadiáveis, com tanta agenda por resolver...
É, afinal, fazer a mala não é assim tão fácil, muito menos quando não podemos levar tudo atrás de nós, até mesmo o que, julgávamos, poderia ser facilmente dispensável.
Mas não custa sonhar, não custa ter a tal certeza instantânea e absoluta de que, naquele paraíso, aí sim, estaríamos completamente melhor, embora imperfeitamente incompletos.
E é por isso que os postais dos nossos desejos, quando tocam, mesmo que ao de leve, no mudar para o "sem dúvida melhor", não passam de meros pretextos indevidamente "mal pesados" para nos podermos continuar a queixar da vida que levamos e dos assuntos que cimentamos. É que não há paraísos paraísos, por mais belos que o olhar nos faça crer. Há é paredes com outras cores, aquelas que tantas vezes esquecemos de pintar e/ou restaurar, enquanto aguardamos pelo "outro lugar", o tal onde, pensando bem, jamais conseguiríamos sobreviver.
Francisco Moreira

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