terça-feira, 11 de dezembro de 2012

“Páginas Amarelas”


No início da década de 70, e especialmente para aqueles que não viveram na era pré-telemóvel, registem que ter um telefone era quase considerado um luxo, já que, para se falar através daquele aparelho com
 um “disco de números”, era necessário desembolsar algum dinheiro. E eram muitos os que recorriam aos telefones das mercearias para poderem ligar para a “terra”, uma vez por mês, em média.

(havia um contador de períodos)

Eu, numa casa nada dada a luxos, pelo contrário, tinha telefone. E dos brancos! A minha mãe encarava como importante ter-se telefone em casa, mesmo que se fizesse um esforço importante em termos da "féria", não fosse acontecer uma urgência qualquer, eventualmente em horário não condizente com a mercearia do Sr. Eduardo, a mais próxima.

E, como é óbvio, aquele foi o primeiro dos poucos números de telefone que decorei até hoje. Ainda o tenho guardado, já que tantas foram as emoções que por ele passaram (e passam, inclusive neste preciso momento).

Começou por ser: 713712, depois passou a ser 7113712 e finalmente 227113712. (não liguem, a minha mãe, infelizmente, já não o atende)

Estou em crer de que era mais ao menos por esta altura do ano que, quem tinha telefone, ansiava pela chegada das listas telefónicas, quanto mais não fosse para procurar pelo seu próprio nome na “lista branca” (a mais fina das duas) e, eventualmente, "cuscar" quantas pessoas tinham o mesmo (“nosso”) nome. 

Havia todo um cerimonial interessante, o qual passava por entregar as listas “velhas”, bem tratadas - já que ficava mal entrega-las estragadas. - e, entre outros pormenores, dava-se sempre gorjeta aos entregadores das listas, os quais, constava-se, ganhavam bem, muito bem, por causa de tanta generosidade “gorjeteana”. 

Hoje, quase 40 anos depois, voltei a reparar nas listas telefónicas, ou melhor, uma colega e amiga deu-me a ver as novas “páginas amarelas”.

- Que espanto! Que tristeza!

As “páginas amarelas”, eventualmente em função da economia vigente, passaram a ser “anorécticas”. 

Será que os telemóveis são os verdadeiros culpados? Certamente que sim. E, além deles, claro, a escolha de outras vias para colocar o nome da empresa, ou melhor, o “monstro” da Internet. 

- O mundo está realmente diferente!

De repente, com as novas “páginas amarelas” na mão, percebi que o tempo, ao contrário do que se supõe, emagrece-nos, principalmente naqueles “doces” que transportamos pela memória, sejam eles de papel ou de outro material qualquer.

- As “páginas brancas”?

Nem ousei perguntar por elas.

Kiko

* Fotografia de Alexandra Pereira.

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