sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Naftalina

Num esboço de livro acabado que ainda não tentei publicar e que dei a alguém para ler, fui sovado pela frase: "Como podes chamar idoso a quem tem a minha idade?!", sendo que, na verdade, essa idade pouco difere da que tenho.
E foi nesse instante que percebi de vez o significado do irritante "velhos são os trapos", mesmo quando não o são, e mesmo quando o são. E isto sem esquecer o porquê de tantas vezes ter ignorado a expressão "por dentro, sou um jovem" sem me aperceber de que o amanhã chegaria, que o ontem já se fez dia para ser eu a empunhar esse testemunho, hoje... E ele, nesta estafeta do aprender, está aqui, precisamente aqui, na minha mente.
Será que já cheguei ao ponteiro da naftalina? Será que já há filmes "para menores de..."? Será que o tempo é realmente mais rápido do que o que promete o refrão de Carlos Tê e Rui Veloso? Será que ainda vou a tempo de dar tempo ao puto que sonhava ser gente? E será que ainda o quero, agora que sou dono do tempo?
A naftalina tem o seu encanto, e com isto, ironicamente, mato de uma vez por todas aqueles "cabides televisivos" e demais imagens que tentam dizer-me que (eu) "já era", por mais que esperneie com o slogan "no meu tempo", por mais que venda o "Jackpot 84" ou me ria do silicone dos "degredos", só para me sentir melhor comigo mesmo.
Nesta balança do ser, do ter sido e do vir a ser, dizem que é o médico que faz o anúncio, o tal do "olhe que tem que cuidar de si" ou "há muitas cópias suas no Prado do Repouso"... E não deixa de ser verdade! Percebemo-lo de rajada quando temos que ser dopados, mesmo quando éramos contra as drogas, porque podiam domar a nossa liberdade e afins...
Mas, afinal, o que estou para aqui a escrever?! Que sou velho e que concordo com a tese de "The curious case of Benjamin Button", quanto mais não seja porque os epicentros da vida seriam muito mais interessantes se nascêssemos de "AVC" e morrêssemos num Orgasmo?!
Não, não estou a delirar. Estou apenas a dar um recado, em jeito de tertúlia, a mim, e a tantos como "mim".
É que; por muita pena que possamos ter do tanto que ficou por fazer, não há portefólio como o nosso, seja qual for o odor que transmitamos ou o guarda-fatos onde o cartão do cidadão nos tente estacionar.
E sabem porquê? Porque o relógio é como um cigarro. Começa por ser desejo, passa pela "traça" e termina no filtro, o tal ponto que nos ensina a saboreá-lo verdadeiramente, ao relógio, claro, e sem penas.

Francisco Moreira

1 comentários:

Jota disse...

Tudo tem o seu tempo e o seu encanto, dependendo tudo tambem da vontade e motivação com que nos apráz, fazer o tudo ou o nada. Está tudo no nosso CPU e se formatarmos o disco de quando em vez, por mais idoso que se seja, a naftalina tardará em chegar- Portanto há que guardar sempre um pouco do "puto que sonhava ser gente" caso contrario, as traças vão-nos carcomendo.
Abraço

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