sábado, 23 de abril de 2011

Princesa da Lua (4)

Essa noite, de Lua Cheia, principalmente de emoções, foi de uma paz relaxante, intermediada por sonhos, daqueles que acontecem nos contos com mais do que um final feliz, daqueles que tanto se desejam depois das "trevas" dos dias.

A Princesa, naquele seu novo quarto apertado, aproveitou o embalo do cansaço para adormecer de consciência tranquila, independentemente do que o novo dia lhe pudesse reservar, de bom e de menos bom. Aquelas horas de sonho, no mínimo, foram um recarregar energias.

E eis que a manhã acordou, cedo, ainda com a lua e "esfumar-se" num cinzento que teimava em acompanhá-la desde que chegara a Paris.

A Princesa desejou-lhe um bom descanso e, num erguer personalizado pela vontade de resistir, decidiu vestir-se e ir passear, fazer uma espécie de reconhecimento daquele novo e estranho lugar onde o destino a tinha feito ancorar.

E foi por um passeio vazio de gente que caminhou, pé ante pé, para trás e para frente, sendo observada por um olhar tímido de medo, ainda mais triste do que aquele que naqueles dias ela tentava esconder de quem a rodeava. Era um gato, um gato aparentemente sem dono, sem destino, pouco familiarizado com aquele espaço. Não parecia ser dali, parecia perdido de si.

Que ironia aquela: a das semelhanças entre a Princesa da Lua e o Gato da Solidão!

- Olá! Estás sozinho? - perguntou-lhe, enquanto se tentava aproximar dele.

Quieto, embora aparentemente inquieto, o gato deixou-a tocar-lhe. Mais, num gesto interessantemente voluntário,roçou a sua cabeça ao de leve na mão que lhe transmitia segurança, conforto e, acima de tudo, vida.

- Olha para nós! Já viste?! Estamos no mesmo passeio, no mesmo caminho sem caminho! - acrescentou a Princesa.

Depois de alguns instantes naquela simples mas significativa troca de carinhos, a Princesa olhou para cada um dos lados da rua e, continuando sem ver ninguém naquele despertar de um novo dia, mais um dia que se adivinhava difícil, pegou no gato e perguntou-lhe:

- Queres vir comigo? Aceitas ser o meu Príncipe?

O gato, olhando-lhe nos olhos, deu-lhe sinal de que isso, provavelmente, seria o que de melhor lhe poderia acontecer, aceitando entregar-se àquela nova luz que tinha surgido no cinzento de mais uma manhã.

Sem mais demoras, e porque o relógio ditava o regressar ao seu quarto para vestir o "fato" do personagem que teria que interpretar dali a pouco, num outro cenário, contra tudo e contra todos, mas sempre com um sorriso nos lábios, a Lara aconchegou o seu novo amigo no colo e, sem se aperceber, criou o seu primeiro grande esteio naquele caminho que, por mais que ela tentasse, parecia não permitir ser o seu.

- Vou chamar-te Príncipe, pode ser?!


Francisco Moreira

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