sexta-feira, 15 de abril de 2011

Princesa da Lua (3)

- Lara! Lara, estás a ouvir-me? - exclamou uma voz a alguns metros de distância.

- Sim, perdoa, estava aqui a falar com os meus botões!... - respondeu a Princesa.

- Olha, hoje não há mais formação, podemos ir embora. Queres sair um pouco connosco, talvez ir beber um copo, ou tomar um chá com o pessoal?

- Hummm! Obrigada, mas estou exausta. Na verdade, Pierre, apetece-me ir para o quarto...

- Queres boleia? Fica a caminho...

- Não, obrigada, Pierre, prefiro ir a pé e continuar a conversar com os meus botões... - acrescentou, com um leve sorriso.

O Pierre é um jovem Francês com 26 anos, um dos poucos, no meio de tantos desconhecidos de várias proveniências, que mais tenta animar a Princesa, já que, indecisa, ela continua remetida ao quase absoluto silêncio, limitando-se a ouvir e a usar a voz apenas quando lhe direccionam perguntas.

Exausta mas contente por ter chegada ao fim mais um dia, embora apenas o segundo, a Princesa decidiu tirar os sapatos que, depois de tantos quilómetros a conhecer os recantos da "Disneyland Paris", lhe imploravam, quer eles, quer os pés, paz e descanso.

Assim, descalça, e no mais vagaroso trajecto que alguma vez tinha feito em toda a sua vida, a Princesa voltou a meter conversa com a Lua, a única presença, além dos seguranças, no já "apagado" mundo dos sonhos, naquela noite de brisas suaves, embora algo frias.

- Talvez não saibas, Lua, mas sinto-me triste, tão triste. E nem são apenas as saudades que me colocam neste sufoco. Tenho vontade de ir embora, de sair daqui, de esquecer este último sonhos, deixar por terra o ter que ter paciência, que devo lutar por algo melhor, que tenho que fazer mais por mim, quer pelo hoje, quer pelo amanhã... Entendes-me?

Sem dar voz às suas mensagens, por não o poder, a Lua, à custa da sua magia, estabeleceu uma linha de contacto com a Princesa, permitindo que houvesse diálogo, embora, na verdade, essa troca de palavras mais não fosse do que o subconsciente da Lara a tentar auxiliar.

- Lua, estás a ouvir-me? Podes ficar comigo? Eu sei que, neste preciso momento, deves ter inúmeras pessoas a tentarem falar contigo, pessoas com problemas bem mais urgentes do que os meus, pessoas bem mais sós do que me sinto... Mas, e perdoa o meu egoísmo, sinto que não existe mais ninguém, que somos eu e tu, ainda por cima num caminho que não pára de me convidar a desistir dele... Lua, juro-te, eu mentalizei-me de que tentaria mesmo, custasse o que custasse, entendes?! - acrescentou a Princesa, já com uma série de lágrimas a escorrem-lhe pelo rosto.

- Tu não vais desistir, Lara. E nada acontece por acaso. Mais, tu não estás só, eu vou estar contigo. E, juntas, ainda nos iremos rir vezes sem conta destes primeiros tijolos do teu novo castelo. Eu sei que ele ainda não tem forma, provavelmente ainda nem tem vida, mas acredita, minha Princesa, o teu Castelo, por mais longe que aparente estar, irá crescer contigo, tal como tu crescerás em ti. - "disse" a Lua, conseguindo serenar aquela tristeza que teimava em aumentar em cada minuto de pausa nesta nova profissão da Princesa.

Este começo estava a ser mais difícil do que ela imaginou, e fazia-se sentir vezes sem conta. O problema era que, neste caso, não havia volta, pelo menos durante os próximos e longos tempos. Aquela sua missão não se tratava de uma experiência mas sim de um compromisso, inclusive consigo.

E a Princesa sabia-o, percebera-o ainda dentro do avião que lhe validou esta opção, esta solução de recurso, na procura de uma vida melhor. Aquele chegar era mesmo para ficar, doesse o que doesse.

- Lua, sabes o que mais me apetece neste preciso momento?

- Um braço?

- Sim, um enorme abraço, daqueles com a face encostada a outra face, daqueles abraços que duram, principalmente cá dentro...

- Princesa, como sabes, não tenho como te abraçar, mas posso compensar-te com um sorriso... Queres?

- Já não seria mau! Pode ser um sorriso em Português?

- Vou dar-te mais. Abre lá a nova mensagem que tens nesse telemóvel que não largas por nada, aquela mensagem de qual não deste conta chegar, por ele estar em silêncio... Sim, vai ao telemóvel e abre a mensagem, é para ti.

A Princesa, espantada, abriu-a de imediato e leu o seguinte: Troco este sorriso por um abraço. E, para o sentires, acredita, basta fechares os olhos e pensares em quem gostarias de abraçar agora.


A Lara fechou os olhos, a Princesa abraçou o sentir e a Lua sorriu.


Francisco Moreira

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