quinta-feira, 14 de abril de 2011

Princesa da Lua (2)

Foi daquele aeroporto secundário que a Princesa, algo desorientada, pôs pés ao caminho. Afinal, que melhor incentivo poderia ela encontrar para amenizar o vazio do coração do que procurar novas molduras para os dias, outros personagens, ainda por cima no mundo dos sonhos: a "Disneyland" Paris? E mais ainda quando, acontecesse o que acontecesse, sabia, o mundo não iria acabar, nem que tivesse que construir um outro castelo, pedra sobre pedra, grão de areia a grão de areia...

Ali, naquela porta de um aeroporto de histórias com e sem fim, no meio de toda aquela miscelânea de gentes com e sem objectivos, deu de caras com os quilómetros que ainda teria de percorrer para o primeiro dos encontros, o tal primeiro dia daquele que tentaria ser o trampolim para o resto da sua nova vida...

Amparada pelas certezas e ao sabor do vento das dúvidas, a Princesa deu os seus primeiros passos para além daquela fronteira. Sim, queria por tudo que tudo corresse bem, pé ante pé, sorriso a sorriso.

Mas... Como convencer-se do certo quando tudo era tão incerto?


Meteu na cabeça que, em vez de ir trabalhar, como ditava o contrato assinado, iria brincar aos sonhos no embalo da diversão dos outros, embora ladeada pelo cronómetro dos minutos de uma escala profissional que, sabia, lhe seria imposta.

E aquela parecia ser uma boa táctica, a de fazer com que todos os milhares de visitantes que cumprimentaria passassem a fazer parte do seu cenário, do seu filme, do seu sonho, mesmo que ele, o "conto", ainda estivesse por encantar.

Já mais firme do que segura, partiu finalmente para a iluminada Paris e, num fôlego, dando ainda mais convicção aos seus passos, exigiu-se uma oportunidade para vencer, uma oportunidade para reconstruir a felicidade, quanto mais não fosse inspirada pela alegria daqueles que, diariamente, passariam a colorir o seu novo mundo.

Ainda com a mala na mão, horas depois, lá estavam os outros rostos, os daqueles que, tal como ela, entrariam no gigante Castelo, o tal que vende sonhos aos mundos dos outros.

A Princesa chegou, embora sem a sua luz característica no olhar e com um silêncio imposto pelo desconhecido... Mas crente de que daria a oportunidade ao sonho de ser feliz num outro mundo, sem saber que, mais tarde, era por ele que se iria apaixonar.

Entre apresentações com idiomas mil e espantos generalizados, entre dúvidas e normais embaraços, a Princesa viu cair a noite pela primeira vez naquela cidade, tão distante da sua, naquele Castelo, ainda tão estranho...

E eis que, nuns 5 minutos de pausa, entre um "tudo bem" e a procura de um silêncio só seu, a Princesa tentou compensar a saudade dos "seus" dando voz ao pensamento.

- Olá Lua! Posso pedir-te um enorme favor? - perguntou de olhos vidrados apontados para o céu.

A Lua, altiva mas serena, manteve o seu silêncio, talvez por estar algo encoberta por uma qualquer réstia de neblina que se esquecera de partir com o sol daquele primeiro dia.

- Lua, podes tomar conta de mim? Sinto-me tão só.

A Lua, talvez por estar a observá-la com toda a atenção, manteve-se "calada".

A Princesa, perdida, sentada num chão que não era o seu, insistiu uma terceira vez.

- Lua, cuidas de mim?


E foi aí que a Lua respondeu.

Como? Com magia, como sempre, convidando a neblina que a envolvia a seguir para outras paragens e permitindo que, entre ela e a Princesa, só ficassem estrelas, aquelas que, certamente, lhes passariam a iluminar o caminho a partir daquele primeiro instante.


Estava feita a primeira amizade, desta feita entre uma Lua de Sonho e uma Princesa de Luz.

Francisco Moreira

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