quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Figuras e Figurinhas

1, 2, 3... E lá damos nós um pontapé no passado, já que o que importa é o agora e o amanhã, certo? Errado!
Muito do que somos hoje, digo-me repetidas vezes, é devido ao que o passado nos foi oferecendo, ensinando, mesmo que em quantidades mais reduzidas e mais "lentas" do que as de hoje mas, mesmo assim, não, convenhamos, não deixou de ter o seu "glamour", o seu peso, a sua influência, a sua essência, a sua diferença.
Não há "bota" que consiga dar um pontapé no "Vitinho", na altura, da nossa irritação ou no "Topo Gigio" da nossa incontestável devoção. Há sempre uma caderneta de slides que ficam para sempre, e refiro-me ao disco do FR David com o "Words" - o primeiro que comprei, ao gelado "Dedo", ao "Espaço 1999", ao "Vai-Vem" que inundou as praias, ao treino do "Breakdance" e, claro, aos "Jogos sem Fronteiras" da nossa militância.
Bem vistas as coisas, o nosso passado está recheado de "Bombocas", daquelas que eram "só para mim", sendo que o "para mim" era um vício de todos, tal como os "tubinhos" de líquido "Fa" que faziam as delícias gustativas de qualquer "jovem" que se prezasse como tal. Obviamente que terei que enunciar muito mais coisas, tais como: os cromos do Benfica e dos outros, sem esquecer os do "Sandokan", as sapatilhas "Le coq sportif" brancas - que sucesso fizeram - e, não menos importante, os blusões "Kispo" com carapuço de pêlo e os originais "Viauto" que, sendo usados pela BT, eram a peça de vestuário de todos os dias, tal como as "Texanas" com protectores barulhentos e as calças que ficavam estrategicamente a 5 centímetros dos sapatos, assim ao "estiloso azeiteiro", quando, claro, coadjuvadas pela volta em prata bem visível por cima de uma camisa aos quadrados.
Da laca e das horas em frente ao espelho, talvez não valha a pena falar, mas não posso deixar de me debruçar sobre as "chiclas" com vestidos para recortar e colar, os "calquitos" de guerras decalcáveis sem fim, as "caricas" em pistas de areia a imitar o Mario Andretti, os "cubos-mágicos" e o "-yôs" dos campeões, assim como as partidas de futebol de rua, sempre com pedras a marcarem os postes da felicidade de criança, crescida, claro.
Já lá vão uns valentes anos, e nalguns casos, umas interessantes décadas, mas, mesmo assim, não consigo esquecer aquele coleccionar escrito de matrículas de automóveis que originavam o carregar-se com o material escolar de quem não tinha apostado nas letras certas, e era por isso que eu me safava com as "MX", já que os veículos do exército andavam por outras "terras" que não a Escola de Valadares, a mesma do "trinca-cevada", do "Bolycao" e do professor que ia de "fato-macaco" para as aulas com testes de "cruzinhas" onde a maioria reprovava.
Claro que me lembro da "Gina", e quase vomitei, lá para os 10 anos de idade. Claro que me lembro daquele beijo em que quase parti um dente, claro que me lembro do anel retirado às máquinas de 2$50 que dei àquela rapariga da sala ao lado, na 3ª classe, e de qual deixei de passar à porta durante todo o resto do ano escolar.
Sim, também houve as histórias dos "médicos e enfermeiras", do "cair ao poço" com direito a beijo e, claro, dos "Kentucky" que, quando faltavam, eram trocados por barba de milho enrolada em papel, inclusive higiénico.
Mas, convenhamos, não foram só figuras tristes. Houve também momentos de glória, como aquela tarde nas dunas da praia da Madalena em que... Pois!
Enfim, o passado tem muito mais figuras e figurinhas do que imaginamos, principalmente quando, hoje, somos ofuscados por tudo e mais alguma coisa, quando hoje, convenhamos, podemos ver todas estas coisas num tal de "Google", como se, assim, pudéssemos regressar àqueles tempos num micro-segundo, o que não é verdade, de todo.
As "Bombocas" e o "Specktrum" já não são o que eram, e já nem o "Coelhinho vai com o palhaço ao circo", muito menos em alturas em que o "Tulicreme" deixou de ser moda e, mais triste ainda, acabaram com o "Tom Sayer", com a "Heidi", com a "Gabriela" e com o "Pão com Leite" que nos davam na primeira classe, sim, naqueles tempos em que não haviam infantários, em que jogávamos ao Peão, ao Berlinde e ao "Pica", sem esquecer o "por trás do pavilhão" ou as faltas à quarta-feira à tarde para ir ver o Benfica ir a Roma dar 2 a 0 num café sem nome investido de "Taça dos Campeões", tal como se lia na "Gazeta dos Desportos".
É, saudades, muitas. E mudam-se os tempos, mudam-se os cromos, assim como se fosse ridículo ter vivido com todas aquelas "caretas", as que nos faziam sentir verdadeiramente especiais, embora iguais a todos, ou quase todos.
Francisco Moreira

12 comentários:

NyhaMar disse...

Agora fizeste-me recuar uns bons anos em que também frequentei essa mesma escola e relembrei todas essas recordações já bem fechadas e esquecidas no "Baú da Memória"...

Como o tempo percorre mais espaço do que a velocidade da luz...

Como era feliz e íngenua...

Essa escola que tanto me ensinou, as bombocas que comi (e quando encontro, ainda como), os tubinhos de "FA" que tirava às escondidas do café da minha avó, das escapadelas, sem que ninguém me visse ou soubesse, até à praia (que era muito longe... só atravessar a rua, tal como ainda hoje é)...

Tudo mudou tanto e já não sou essa menina...

Quase todos os dias visito o teu blog e leio as tuas publicações, mas esta tocou-me especialmente...

Obrigado, pelas tuas palavras.


NYHA

Barbie Boy disse...

Ena pá!!!
Estou velho!Lembro-me disto tudo, só faltaram as capas da escola religiosamente decoradas com os posters da Bravo!
E os golos do Benfica à Roma foram marcados pelo Philipovic e claro pelo Néné.
Caramba, faz bem viajar assim no
tempo...

Abraço

paulofski disse...

Com esta bota é que me acertaste, Francisco. E foi em cheio, na nostalgia dos tempos em era um copinho de leite e também recordar algumas figurinhas tristes que fazia. Dou-te toda a razão, somos hoje o que herdamos, o que tivemos nesses tempos de pura magia. De um tempo ainda a preto e branco, de pequeno vagabundo (uma bomboca a quem se lembrar da série?) até assentar praça e me terem colocado a responsabilidade nas mãos de conduzir viaturas com as tais matrículas MX. Uma longa e inocente meninice em que jogava a bola despreocupadamente na rua, bastando para tal que houvesse uma velha bola de couro e tivesse um par de surradas sapatilhas Sancho, até descobrir que o amor não se resume a um beijo de linguado. Como é possível que um texto assim me deixe a mente à deriva num DeLorean de regresso ao passado, já tão distante, e permanecer por lá até que sem vontade nenhuma tenha de voltar ao presente?

Olha que ainda preservo um par de texanas em perfeito estado de conservação, mas que já não me servem. E as completas cadernetas dos heróis das grandes conquistas internacionais do meu querido Futebol Clube do Porto em contraponto com os cada vez mais raros cromos benfiquistas. :)

Abraço

Nuno Graça disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Nuno Graça disse...

Incrível como se sinto "velho"!!!

Parece que ainda ontem fumei o meu primeiro Kentucky...
Que ainda ontem chegava da escola primária, fazia os trabalhos à pressa para poder ir dar uns chutos na bola, ou jogar ao berlinde e ao pião, sem preocupações... Nos tempos em que as divergências entre amigos (sim, verdadeiros amigos que tiravam a camisola por nós!) eram resolvidas na hora, sem ressentimentos, sem rancor!

Acho que muito mais importante que o futuro, é o nosso passado, que nos permite sorrir... sorrir quando lemos palavras como as tuas (as quais agradeço)...
O mesmo passado que nos faz ser quem somos e dizer muitas vezes a frase "se eu na altura soubesse o que sei hoje!"

Enfim... É sempre bom recordar...
Forte abraço,
NG

Maurício disse...

Obrigado por nos relembrar esses tempos, realmente fantásticos!
Mais que saudade, porque a vida não para e continua a ser bela, sabem bem, de vez em quando, estes momentos de nostalgia.
Porque recordar é viver...

Abraço

FM disse...

Olá Nyha! Que prazer ver-te por estas bandas... Obrigado pela honra consedida.
Fico Feliz por, através da palavra, ter-te despertado recordações, positivas, espero.
Beijos.

FM disse...

Estás velho, Barbie Boy!? E eu?! (risos)
Ainda bem que gostaste do texto.
Abraço e Bom fim-de-semana.

FM disse...

É, Paulofski, por vezes convém levar-se com umas botas destas... (risos)
Abraço.

FM disse...

Obrigado pela visita, auto-eliminado. (risos)

FM disse...

Olha outro que se sente velho! Ou seja, Nuno Graça, somos a cambada do reumático?! (risos)
Abraço.

FM disse...

Eu é que agradeço a visita, Maurício.
É sempre um prazer imenso recebê-lo por aqui, acredite.
Abraço.

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