segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Que cor terão as cerejas em Saturno?

Há cerejas que, mesmo quando vermelhas, achamos que têm defeitos, imensos e quase intransponíveis defeitos, ou, se preferirem, podemos simplesmente substituir este exemplo pelo: "nunca estamos satisfeitos com o que temos", mesmo quando devemos dar graças aos Deuses pelo simples facto de vivermos no paraíso, sim, neste "inferno" que é o nosso paraíso.
E isto vem a propósito do terrível dilema que na última semana nos tem entrado repetidamente pelos olhos dentro, com imagens impiedosamente dramáticas que - se calhar - achamos serem de outro planeta ou extraídas de um qualquer filme de terror. Mas não, as imagens aconteceram - e ainda acontecem - mais perto de nós do que imaginamos. O Haiti, mesmo do outro lado do planeta, não pode deixar-nos insensíveis, ao ponto de julgarmos que tal tragédia jamais nos acontecerá a nós. O outro lado do planeta jamais deve ser assimilado como um espaço físico situada para lá de Saturno ou, pior ainda, ser visto como uma espécie de "choque visual" em jeito de telenovela, daquelas em que há sempre um final feliz, sejam quais forem os desastres.
Por instantes, imaginemos que tudo "aquilo" nos acontecia a nós, que a cidade onde vivemos e onde encontramos todas as tantas comodidades era a nossa, a mesma onde reclamamos das contas, do trânsito, do vizinho e do aumento do preço do pão.
Mas, ainda mais aprofundadamente, imaginemos que ficávamos sem absolutamente nada, sem família, sem amigos, sem lugar para onde ir, sem tecto onde ficar, sem ter como matar a fome e ver, ali - bem ao nosso lado, a morte espalhada por todas as esquinas, por todos os rostos. Seria mau, não seria?!
Mas, mesmo imaginando, mesmo vendo os relatos, será que estamos mesmo cientes de que aquele filme - qual 2012?! - poderia ou pode acontecer-nos a nós, aqui, sim aqui? Penso que não. Penso que, mesmo perdendo horas em frente ao televisor, continuamos a achar que "aquilo" é terrível mas, no instante imediato ao desligar do aparelho, há coisas muito mais importantes que passam a merecer a nossa única e exclusiva preocupação, tais como: a conta da água, a traição da vizinha, o pão recesso ou até mesmo a eternidade de tempo da fila de 3 carros que nos afasta do atestar do depósito gasolina. Isto para não falar das malditas cerejas que, mesmo vermelhas, são um verdadeiro horror, só porque não são tão doces como as imaginamos quando as vimos na montra do nosso "inferno", o "inferno" dos nossos dias neste paraíso para cá de Saturno.
Francisco Moreira

4 comentários:

Nuno Graça disse...

Nós, portugueses, achamos que as desgraças nunca nos acontecem até, acontecerem!
Acredito piamente que não estaríamos preparados para semelhante situação... (falo sobretudo por mim, claro!)
Deveríamos aprender sempre mais com os exemplos/desgraças dos outros! Mas não. Preferimos dar com a nossa cabeça!
Enfim... Somos assim!
Abraço

FM disse...

Concordo, Claro, e assino por baixo, em jeito de "auto-flagelação". (risos)
Abraço, Nuno Graça.

Hélder Ferrão disse...

Preferimos não pensar muito nessas coisas, porque senão ficamos com o resto do dia "assombrado", e logo por algo que nem é do nosso "planeta"...
Acredito que se todos nós tivessemos presente a "ideia" da morte, a vida certamente seria mais valorizada, mais aproveitada.
Ainda hoje vi no telejornal uma criança a ser retirada com vida dos escombros de entulho ao fim de tentos dias sem beber, sem comer, sem esperança...Fiquei sensibilizado com o facto de ela ainda conseguir sorrir, mesmo sabendo que tudo o que tinha na vida estava agora enterrado...
Abraço, Francisco

FM disse...

É triste. Mas, por outro lado, temos que continuar, para cá de Saturno, com cerejas mais ou menos doces.
Abraço.

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