quarta-feira, 15 de abril de 2009

Os Saldos da Impotência

Estava eu parado num semáforo à espera do sinal verde, com o Ângelo a sonhar no banco traseiro, quando ouvi os gritos de criança vindos do passeio. Olhei e, em frente à montra de uma pastelaria, vi um miúdo na casa dos 6 anos de idade a "fincar o pé" à mãe enquanto apontava para um dos inúmeros pasteis das prateleiras sem preços, sem saldos.
A senhora mãe, envergonhada, dizia-lhe que não podia comer o pastel da vontade... E a criança teimava no "só um" enquanto uns idosos estacionados por perto insistiam no "isso faz mal" na tentativa de motivá-lo a desistir da tal vontade.
Olhei para o Ângelo e sussurrei o imediato "és uma criança com sorte"... E, como em muito na vida que passa, o verde do meu semáforo acendeu-se e acelerei triste, envergonhado e afectado por não poder dar ao outro miúdo o "só um" que tantas vezes desperdiço. Afinal, não é um "só um", em jeito de saldo de ocasião, que matará a fome a um caminho que, infelizmente, tem que mudar de passeio de cada vez que há uma montra que (nos) pode envergonhar.

5 comentários:

julia sousa disse...

Realmente custa pensar que aquele "só um" que tantas vezes desperdiçamos, seria suficiente para fazer feliz uma criança.

Unknown disse...

Percebo o contexto da tua análise, mas pergunto-me qual o motivo real para aquele "não" ao pedido de "só um".

Saber dizer "não" aos nossos filhos pode representar o maior ensinamento para a sua vida futura.

Se aquele "não" significa "queria tanto dar-te, mas não o posso comprar" - dói, dói bastante, e faz-nos pensar no tal "desperdicío" mas, infelizmente não podemos mudar o mundo, apenas tentar contribuir para que seja melhor...

beijos solidários

Não Sou... disse...

Tive uma experiência idêntica em Marrocos e que me impressionou bastante. No meio do deserto apareciam crianças do nada e a unica coisa que tinhamos para oferecer era umas coca-colas quentes que a organização nos ofereceu. Fiquei impressionado pela satisfação enorme das crianças por uma lata de coca-cola quente que muitas vezes desperdiçamos...
Abraço

Anónimo disse...

E o pior é que sempre que olhamos um caso por fora nunca nos lembramos se a mãe quer educar bem o filho ou se simplesmente não pode comprar aquilo que o filho quer... Os nãos são precisos. Para educar, para viver, para continuar a viver. Porque vários nãos hoje podem representar um sim amanhã!

JOOX ETZEL disse...

Tinha a mesma idade dessa criança e junto dos meus primos e irmão de mãos dadas ao meu avô mudavamos de passeio vezes sem conta, à conta da vida dificil. Ainda parece que o ouço " há pão em casa e o avô faz tostas com manteiga"

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