terça-feira, 3 de fevereiro de 2009
Enciclopédias
Todos somos uma enciclopédia de histórias que, infelizmente para muitos, ficam perdidas na memória em função do caminho que desbravamos. E muitos são os que choram lágrimas invisíveis ao verem as suas "páginas" diluírem-se na miséria dos dias que correm vagarosamente até ao instante em que se apagar de vez o candelabro do calendário entretanto parado.
É penoso sentir que tantos não têm quem os ouça, que cada vez há mais seres que se dizem gente mas que recusam aprender com as vivências do tempo dos outros, gentes que evitam o contacto com seres que também tiveram as suas vitórias e derrotas, s seus 15 minutos de fama.
Um dia destes, ao olhar para o vazio de um pestanejar que se atravessou à minha frente num semáforo qualquer, tive vontade de estacionar o carro ali no meio da rua e sentar-me ao lado daquele alguém que os sensores da rotina ignoram. Estou certo de que aquela pessoa merecia todo o nosso tempo do mundo... Mas continuamos sem tempo para os outros, para os "ninguém".
Não interessa o culminar nem o processo de auto-destruição que o levou para aquele passeio cuspido vezes sem conta... É uma pessoa, e muito mais do que um número que "convém" esconder...
Aquele olhar de "morte lenta" parecia ter um mar de vida apagado pelo frio das perdas, pela dor repetida vezes sem conta, pelo cicatrizar de uma ausência outrora lúcida.
Aquela pessoa vestida de monte de retalhos também teve os seus hinos, as suas conquistas, as suas fotografias a cores... Mas hoje, por uma questão de latitude, já ninguém perde tempo a ouvir o seu relato de outros tempos, aqueles em que o olhavam nos olhos.
Um dia destes, desligo os sensores e troco o meu tempo pela enciclopédia de quem já não ousa ver nem sonhar.
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2 comentários:
Sou atento a esses olhares perdidos, dou por mim a imaginar o que pensam e do que se lembram... Que passado? Sem futuro?
Parece-me que se multiplicam nos últimos anos. Muitos!
Então, já somos pelo menos dois...
Abraço.
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