quarta-feira, 21 de julho de 2010

Voz às Palavras

Escreve-se pouco, cada vez menos, mesmo aquelas palavras simples que, talvez por uma nova campanha de solidariedade para com a falta de escrita, vão-se dizendo a muito custo, quando se "ousam" dizer.
O que é que se passa? Será que o computador tirou vontade às palavras, sejam elas escritas ou ditas? Será que não vale a pena dizer-se "a" ou "b" porque o destinatário já o sabe, ou deveria sabê-lo?
Cá para mim, anda tudo envergonhado, sim, com vergonha de dizer que sente, que gosta, que ama, que quer, que deseja e por aí fora... Razão essa, pensarão muitos, para poupar nas expressões e, em alguns casos - convém dizê-lo, com receios ortográficos.
Será que hoje não se sente? Será que nos dias que correm não se pensa? Será que já não há vontade de exprimir isto e aquilo?
Estou em crer que não, que tudo não passa de um comodismo egoísta que, por desuso em demasia, transformou-se no "pão nosso de cada dia", ao jeito de "não vale a pena". Mas vale, e vale muito, provavelmente mais do que valia antigamente.
Com esta falta de palavras, com esta ausência de gestos, com este défice de existires, muito provavelmente, um ano destes, voltaremos para o tempo das "cavernas", aquele em que se grunhia, fosse para o que fosse.
Mas, por outro lado, se for para nos manifestarmos contra tudo e mais alguma coisa, há que assumi-lo, estamos sempre prontos, ao ponto de elevarmos a voz e esbracejarmos o que for necessário, só para nos fazermos ouvir, e mais do que os outros.
E é por estas e por outras que, infelizmente, vamos perdendo a palavra, vivendo à custa do grito, na procura indesejada mas vertiginosa do grunhido.
Francisco Moreira

2 comentários:

Não Sou... disse...

Então aqui tens meia duzia de palavras... (risos)

Abraço

FM disse...

Pois, mas faltam-lhes algo, conteúdo, talvez. (risos)
Abraço.

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