terça-feira, 30 de outubro de 2012

“Cédula”


Sou do tempo em que só se tinha bilhete de identidade lá para os 10 anos de idade. Hoje, pegando no exemplo do meu filho, tem-se Cartão do Cidadão (já com todos os números e mais alguns) logo aos primeiros anos de vida. 

“ - São os tempos!” – diz-se.

Lá no outro (meu) tempo, na década de 70, a cédula pessoal era quase um tesouro guardado a sete chaves, já que só saía do seu “esconderijo” – uma carteira onde a minha mãe guardava todos os documentos 
importantes, em condições muito extraordinárias: quando eram precisos, ou seja, quase nunca. E naquela altura, tudo o que era documento, era excessivamente importante, eventualmente por serem poucos, e não se podiam (mesmo) perder. Hoje, com documentos para tudo e qualquer coisa, já se podem perder todos, porque não demoramos 3 meses a receber um bilhete de identidade, aquele que, naquela altura, vinha de Lisboa (eventualmente por barco a remos, para demorar tanto).

E como era diferente ir tirar-se o bilhete de identidade. Era uma espécie de crescimento efectivo, nem que fosse apenas para se dizer que se (o) tinha, já que, convém não esquecer, aquele pedaço de papel com a nossa fotografia e assinatura plastificado estava sempre guardado no tal "esconderijo" (dentro de uma gaveta de uma cómoda). 

Como era diferente aquele cerimonial de ir tirar as fotografias “tipo-passe”…

– São para o bilhete de identidade… “ – dizia a minha mãe ao fotógrafo de Coimbrões.

- Ah! Então tens que ficar bem, rapaz. Afinal, já és um homem! – acrescentava o fotógrafo.

E eu ficava feliz, ao ponto de não querer sorrir para a fotografia a preto e branco, para dar aquele ar de crescido. E só não ficava em “bicos de pés” porque, constatava, a fotografia só registava meio corpo.

Hoje, já não existe a cédula, aquele caderno fino que os teclados de computador não chegaram a conhecer. Hoje, já não se tem que ir ao fotógrafo uns dias antes envergando a melhor roupa. Hoje, já não se registam os filhos 1 mês depois de nascerem. 

Em resumo, hoje, em termos de se ser gente, já não se o é num papel, é-se num ficheiro electrónico, e cresce-se como cidadão em rápidos segundos, independentemente da idade. 

Kiko

• Sim, ainda tenho a minha cédula pessoal, esta.
sábado, 27 de outubro de 2012

“Passeios Escolares”


Os passeios de escola, principalmente os da primária e da secundária (não me lembro de nenhum no tempo da escola preparatória.), eram marcos marcantes na nossa infanto-juventude, ao ponto de se contarem os dias que nos levariam até esse(s) dia(s).

- Era ou não era giro ir visitar as fábricas de chocolates ou de lápis? (primária)

- Era ou não era interessante a troca de lugares nas “camionetas Auto-Pluman” na tentativa de arranjar um nam
oro de última hora, depois de ver (sem ver) as “Amendoeiras em Flor”? (secundária)

Os passeios escolares, para mim, ocupam e ocuparão um lugar interessante no poço da memória.

Desde os comprimidos para o enjoo, que eu demorava uma eternidade a engolir (ainda me custa engoli-los, a todos), passando pelo ter que se seguir à risca (sem se seguir) o que os “profs” nos diziam pelo “microfone do motorista” em cada partida e, claro, sem esquecer os refrões gritados até à exaustão, em jeito de final de festa (passeio), com especial destaque para o célebre: “Senhor motorista, por favor, carregue no acelerador”. 

Todos os (meus) passeios escolares tinham também uma missão que me dava especial prazer: comprar “prendas” para a família e amigos mais próximos, prendas essas que, como aconteceu com todos, julgo, eram compostas por aqueles objectos com o nome das terras que visitávamos nos itinerários de sempre. (onde andarão esses objectos de “culto” que não terão ido parar ao lixo?)

Os passeios escolares, sejamos honestos, por mais que os gozássemos, porque os gozávamos (por os acharmos pirosos), eram interessantíssimos, principalmente por nos transportarem para outros ambientes, algo que permitia um socializar diferente e substancialmente interessante, quando comparado com o recreio. E isso – o gostar-se mesmo de ir a estes passeios - comprova-se com o facto de quase não dormirmos no(s) dia(s) anteriore(s), só para não o(s) perdermos por nada, fosse em função de um objectivo (sonho) amoroso ou, simplesmente, porque era diferente. (Quantos de nós faltaram a um destes passeios? Ninguém?!)

No meu caso, os passeios escolares assumiram um papel importante principalmente na secundária António Sérgio, ao ponto de ter organizado vários, os quais tinham sempre “profs” como passageiros, já que “acalmavam” os pais dos outros passageiros. E na memória, são vários os que mantenho bem vivos, com destaque para aquele em que celebrei um dos meus aniversários (foi feito com esse propósito), terminando o percurso num bar-discoteca, já em Vila Nova de Gaia, depois de muitas emoções, principalmente depois de o motorista, a pedido, ter apagado as luzes do “Auto-Pluman” que conduziu ainda melhor depois de receber um chapéu recheado de “gorjetas”.

Kiko

“Os Paralelos”


Costumo dizer que as ruas onde “nascemos”, na verdade, são o complemento e a extensão da nossa própria assinatura, principalmente quando vivemos nelas, nas ruas.

Eu traduzo.

Nos meus tempos de criança a catraio, década de 70, muitas das primeiras experiências de vida aconteceram na Rua da Pitada (a minha rua). E isso merece destaque porque foi graças a essas experiências que me “construí” enquanto ser pensante. E isso, pelo menos para mim, me

rece destaque porque, no tal tempo, vivia-se na rua e para a rua, por ela ser o nosso palco, a nossa escola, o nosso mundo. 

E foram inúmeras as horas ganhas a jogar futebol, a andar de bicicleta, a pedir uma “moedinha” para o Santo António, a pré-namorar, a namorar, a ouvir os berros do: “Anda para casa!”, e muito mais. 

No fundo, nessa altura, todos crescíamos entre dois paralelos, fossem eles os que, por exemplo, faziam de baliza num jogo de futebol ou os pontos de partida e de meta de tudo o que concretizámos ao longo desses anos, principalmente numa altura em que os “penantes” nos faziam colocar pés ao caminho, por convicção, sonho ou necessidade. 

A rua, ou melhor, a nossa rua, é e será para sempre o ponto de partida para quem fomos, somos ou viremos a ser, se soubermos não lhe virar as costas, mesmo que já lá não moremos. 

Kiko


“Matrículas”


Em finais da década de 70 e inícios da década seguinte, havia um entretenimento infantil digno de ombrear com qualquer videojogo dos dias de hoje: coleccionar matrículas de veículos automóveis. Nem mais!

Bizarro? Sim, inquestionavelmente. Mas divertido, muito divertido.

Reunia-mos aos 3 ou 4 e lá íamos a correr para o cimo da ponte que ficava por cima auto-estrada (A1, ali entre a Madalena e Vilar do Paraíso) para, de caderno A4 de capa preta n
a mão, ter a destreza de anotar o maior número de matrículas dos veículos que passassem pelos nossos olhos. 

Isso, nem mais, víamos os carros, camiões e camionetas que passavam por nós e, “de gás”, anotávamos as suas matrículas, as que conseguíamos.

O objectivo, como se imagina, era o de conseguir reunir o maior número de matrículas possível no espaço de tempo determinado para esse “passar-do-tempo”.

- Quantas matrículas tens tu?
(coleccionar mais de 100 matrículas era fantástico)

- Essa não passou. A que passou terminava em 45. Inventaste!
(não eram raras as vezes em que aldrabávamos números ou letras, por não conseguir anotar atempadamente todo o fluxo rodoviário que nos “ultrapassava”, principalmente quando passavam mais do que uma viatura ao mesmo tempo)

E em cerca de uma hora, lá nos entretínhamos, e muito, a dar tinta às páginas do caderno que, em horário “laboral”, servia para lá se inscrever (também) o que aprendíamos na primária e no ciclo preparatório que frequentávamos nessa pré-adolescência.

Na aproximação ao secundário, as matrículas mantiveram-se, mas com outra sofisticação. Apostávamos em conjuntos de duas letras (das matrículas) e, entre a paragem do autocarro que nos deixava a cerca de 1 km da escola de Valadares, se passasse algum carro com as letras escolhidas, lá teríamos que carregar com os livros e cadernos (mochilas) dos outros que, connosco, faziam esse percurso a caminho das aulas. (eu, geralmente, safava-me, porque escolhia as letras “MX”, as quais estavam relacionadas exclusivamente com veículos militares, os quais não faziam amiúdas vezes aquele nosso percurso)

Nos dias que correm, sabemos, nenhum “catraio” se atreveria a fazer estas “figurinhas”, especialmente por não acreditarem no prazer que isto dava, na falta de melhor, claro.

Kiko
sábado, 20 de outubro de 2012

“190$00”


Nos primeiros anos da minha “década dos descobrimentos”, ou seja, a de 80, tenho que destacar que houve um investimento que justificou – e bem. – os 190$00 surripiados ao mealheiro ou poupados na compra de “Bollycao’s”. E tanto esforço em nome de uma mulher. Sim, uma mulher que, afinal, representava várias (estrangeiras, certamente). Uma mulher que, de cada vez que alguém ousava dizer o seu nome em voz alta, gerava um corar colectivo e uma dúzia de "
assobios para o ar". Ela, a mulher que nos apresentava tantas mulheres por cada 190$00 investidos, chamava-se “Gina”. E digo chamava-se porque, pelo que sei, nunca mais ninguém a viu. Deve estar multimilionária com o tanto dinheiro que ganhou à custa do nosso suor e prazer. (risos)

E hoje, ao escrever sobre isto, ainda me pergunto o porquê de ela, uma mulher que tanto nos deu, se chamar “Gina” e não, por exemplo, mero exemplo, Maria Antónia Ferragudo Mendonça e Sá dos Santos Costa Urtigão… Porquê, Gina, porquê? 

Vá, não caiam automaticamente na vulgaridade do aparentemente mais óbvio, ou seja o: “Vá… Gina”. (escolhi pôr o assento no primeiro “a” porque, porque… porque pareceu-me esteticamente mais apelativo, em função do teor desta crónica com bolinha vermelha fictícia no canto superior do vosso monitor – risos) 

Eu, pensando no assunto seriamente durante uns 45 segundos, acho que escolheram o nome das 4 letras mágicas para que, ao “lê-la”, não se perdesse a excitação, eventualmente por se poder conhecer uma mulher com o mesmo nome e isso, convenhamos, estragar o "pico da atenção". (Que acham? Terá sido essa a razão?)

Quanto à revista em si, e às horas de 10 minutos cada (risos) que se perdiam a devorá-la (gastava-se mais tempo nas páginas com melhor “zoom”), como imaginam, dariam pano para mangas, já que os “sonhos” por ela(s) gerados eram inúmeros. Por isso, perdoem, vou deixar essas histórias no poço das memórias de cada um dos que passarem os olhos por estas minhas palavras. (As meninas também as “leram”?)

Contudo, e em jeito de última página (não colada. – perdoem, não resisti. - risos), há que fazer jus ao conteúdo literário das ditas. Na verdade, estas revistas que ansiávamos ter, comprando-as (quando havia coragem) ou pedindo-as emprestadas (que desculpas se arranjavam para as ter connosco umas horas), contavam histórias que nos levavam ao "céus", ou melhor, ao "inferno". Sim, elas tinham histórias, histórias "normais". Com poucas letras, é certo, mas com simbolismo. (sim, estou a exagerar um pouco) 

A “Gina” fazia sempre questão, e bem, de nos falar de mecânicos, de floristas, de passeios à beira-mar, de encontros fortuitos e de tantas outras coisas que, no fundo, a nu, servissem para se justificar o contrário daquilo para o qual serviam, ou seja, servir-nos… na natureza de, naturalmente, “naturar”.

Kiko


“Calendários de Bolso”



As colecções de calendários, lá para o início da década de 80, tendo eu uns descobridores 10 anos de idade, merecem ser destacadas, principalmente para indagar se, porventura, essa “moda” se alastrou por outros "bolsos" no arranque da juventude.

Calendários?! Calendários?!
Sim, calendários!

Calendários de bolso?!
Sim, calendários de bolso!

E calendários de bolso porque, naquela altura, além de ser constrangedor adquirir revistas “Playboy” e “Newlook” – sem falar da famosa revista “Gina”., na verdade, eram o meio mais “fácil” de se ter acesso à parte da frente dos ditos, sim, a parte da frente dos calendários. (nunca se deu tanta importância às datas)

De que calendários estou eu a falar?

Bem, não pretendia ser demasiado explícito, embora sendo-o, mas, como já imaginam, estou a falar de calendários daqueles onde a parte que menos se via era a dos dias e dos meses (nem interessava o ano) Refiro-me aos tais com os quais perdíamos horas (às escondidas, numa “solidão acompanhada”) a “namorar” as suas partes da frente, inclusive com aqueles calendários de bolso que pouco mais mostravam do que “incentivos” à imaginação erótico-sexual naquele nosso nascer da juventude.

Percebido, ou querem que apresente um desenho?! (risos)

Sim, naqueles tempos, bem diferentes dos de hoje, na falta de “Internetes”, dava-se especial atenção aos calendários que nos proporcionavam um olhar especial e "secreto" sobre mulheres seminuas, nuas e/ou, preferencialmente, em actividades que nos faziam erguer os… sonhos. (risos) 

Caso para dizer que nunca se coleccionaram e apreciaram tantas "datas" como naquela altura.

Kiko


quinta-feira, 18 de outubro de 2012

“Médicos e Enfermeiras”


Brincar aos médicos e às enfermeiras, lá para os 4 e 5 anos de idade, era um passatempo interessantíssimo. E, acredito, muito mais intenso do que qualquer vídeo-jogo do presente. E interessantíssimo,
 principalmente, quando se era o “doente”, naquelas encenações sem grande produção ou diálogos. Era giro. (ponto)

Quem não levou “picadas de enfermeira”, numa época, anos 70, em que não existiam os “kit’s” de enfermagem que se vendem nos hipermercados “infantis” dos dias de hoje?

Quem não “rezou” para ter a sorte de ser “tratado” pela “enfermeira” mais bonita do grupo de amigos pré-escolares?

Quem não teatralizou – e muito. – para arranjar maneira de trocar as “caçadinhas” por um “hospital” improvisado, fosse num quarto, numa sala, ou num outro local qualquer, só para poder brincar a este “jogo de sedução” inocente?

É, ser-se o médico, na outra perspectiva da “coisa”, também era interessante, principalmente quando podíamos ser nós a escolher as “doentes” e ministrar-lhes a melhor terapia: um beijo nos lábios, idêntico aos que víramos na rua ou num filme qualquer. 

Naquela infância, no meu caso, vivida numa ama, a Dª Joaquina, estes momentos era marcantes, ao ponto de serem relembrados num "para sempre", mas sem malícia, porque a paixão não escolhe idades, tem é definições diferentes.

Kiko

“Preservativo”


Lá na altura dos meados dos anos 80, a mesma altura em que os preservativos ainda não estavam nos hipermercados, fui um dos inúmeros “teenagers” que, por manifesta vergonha, vi-me e desejei-me para conseguir 
entrar no local onde eram vendidos e, em velocidade recorde, conseguir uma carteira dos famosos “Control”. Melhor esclarecendo, não entrei, fiquei à porta de uma farmácia (que ainda existe, nova na altura) perto da praia da Madalena. E escolhi, assumo, uma farmácia mais distante da “minha rua”, para não ser “identificado”. Santa inocência! (risos)

Claro que, nestas coisas – ser-se homem à séria., há sempre que arranjar um plano alternativo, principalmente quando os tais “Control” são (sonhava-se e desejava-se) indispensáveis em função da agenda de conquistas programada. Ou seja, o plano alternativo, neste caso, passou por pedir a um amigo que me acompanhasse. E ele fê-lo. Mais, ele, sem tantos “salamaleques mentais”, aceitou que a minha vergonha me fizesse companhia no passeio em frente enquanto ele, do alto da mesma idade que eu, entrou, demorou uns infindáveis 4 minutos e – voilá! – apresentou-me a compra: uma caixa azul com, julgo eu, 3 preservativos. 

Claro que não foram cumpridos os planos sonhados e que os preservativos fizeram quilómetros nos meus bolsos (para o que viesse a acontecer), mas, pelo menos, desta vez, já estava “investido” de homem, do à séria, porque, mais do que ser-se, o que conta é mostrar-se, e muito foi “promovido” o conteúdo do meu bolso. 

Kiko
quinta-feira, 11 de outubro de 2012

“Pica Kitado”


“Pica Kitado”


No ciclo preparatório, já que ainda não se estava muito virado para questões mais “lúdicas”, havia que arranjar maneiras de ocupar os intervalos ou os “furos” que os professores, do alto da sua benevolência, por vezes nos proporcionavam. 



E, entre o futebol, trinca-cevada e as vulgares “caçadinhas”, havia uma altura em que nos empenhávamos em conseguir ser os melhores em algo que nos permitisse ser vistos pelos demais como “bons naquilo”. E o “

naquilo”, para que as mentes parem de “fazer filmes” de outro quilate, na verdade, era jogar ao berlinde ou ao pica. (se não era pica, usava-se um prego, e dos grandes!)


Resumidamente, arranjava-se uma parcela de terreno em terra, dura, mas sem ser de gravilha, de preferência, reunia-se uns 5 ou 6 e… Toca a “furar”!



Mas não eram uns furos quaisquer, nada disso! Eram furos uns a seguir aos outros, permitindo que, sempre que o prego (pica) se enterrasse (parem lá com isso! – risos), prosseguíssemos a nossa prova, fazendo autênticas “obras rupestres” na terra, se maneira a conseguir a maior parcela, a qual, como se percebe, dava a vitória. Ou melhor, importante, importante, era bloquear o jogo aos adversários. (acho que a minha memória está com algumas dúvidas, mas era por aí, penso eu “de que”… risos)



Claro que, dia sim, dia sim, treinava-se à porta de casa e, melhor ainda, havia sempre o engendrar de tácticas evoluidíssimas, para se conseguir os melhores “picas”, os tais pregos galeota comprados na drogaria ao quilo que acabavam “kitados”. 



Como?



Bem, aqui é que está o “pecado”! É que, no meu caso, por morar muito perto de uma linha férrea, afinava os pregos nos carris do comboio. Sim, punha os galeota em cima dos carris, espera que um comboio passasse e, depois, ia apanhá-los ao meio do cascalho, ainda quentinhos. 



É, certo de que o tanto tempo que passou me permite acenar com uma eventual prescrição judicial, resta-me, em minha defesa, alegar que, de cada vez que coloquei um prego em cima de um carril, rezei – e muito. – para que o comboio não se descarrilasse. E vi com os meus olhos que nenhum se descarrilou, merecendo eu, por isso, perdão. (risos)



Kiko


quarta-feira, 10 de outubro de 2012

"Olhos nos Olhos"


"Olhos nos Olhos"

Que tenhas luz eterna
Que sejas gente sem rótulo
Que consigas vencer sem saltar
Que te levantes sem raiva
Que não vistas de interesses
Que não compres o outro
Que tenhas fé em ti
Que lutes sem armas
Que não sejas escravo
Que cries sem temer
Que não percas o nome...
e que o teu olhar seja em frente.

Francisco Moreira

“Chiclas”


“Chiclas”

Antes de mais, há que dar o nome correcto às coisas. Por isso, registem bem que, nas décadas de 80 e 90, as “chiclets” ou, se preferirem, pastilhas elásticas, eram conhecidas como “chiclas”. Percebido o título? Pronto.

E é à conta das “chiclas” que nos levo até ao ano de 1982, o ano em que umas “chiclas” diferentes, supostamente vindas de Espanha, pelo nome, davam nas vistas em qualquer loja (mercearia), no meu caso, na loja do Sr. Eduardo, sita à
Avenida Gomes Júnior, centro da Madalena. 

O que tinham elas de especial?

O tamanho era diferente. Eram achatadas, para o fino, embora aparentemente maiores (à vista), da cor das outras, ou seja, cor-de-rosa, e tinham um invólucro completamente “avan’t garde”.

Como se apresentavam estas “chiclas”?

Bem, se não passaram por elas, imagino, irão fazer suposições menos interessantes, pelo menos para mim. (risos) É, é que estas “chiclas”, as “Nina”, vinham envoltas num papel especial, um papel que permitia que o recortássemos e que, conjugando-o com outro papel, de outras “chiclas”, das mesmas, pudéssemos vestir bonecas. Tal e qual!

Eu não disse?! Eu não disse que iriam começar os pensamentos parvos, do género: “um rapaz de 12 anos a brincar com bonecas?!”. Pois. É verdade. Mas eram bonecas de papel. E aquilo de recortar e escolher roupas, também elas recortáveis, tornava-se giro, principalmente por não haver muito (de novo) para ocupar o tempo. E além disso, como todos os da minha idade, eu também apreciava mascar e mascar “chiclas”, neste caso, aquelas "chiclas". (tinham um sabor que, confesso, era tão marcante que já nem me lembro dele – risos)

E pronto. Durante um ano, ou dois, lá se andava a comprar “chiclas” e mais “chiclas”, na procura de fazer a colecção dos modelitos que elas traziam como embrulho.

Se se trocavam estes cromos de roupas? Talvez. Mas eu, eventualmente com vergonha, preferia gastar fortunas e comprar inúmeras, para evitar passar por essa (possível) humilhação. 

Ah! Alguém assume ter andado a recortar “Nina's”? (risos)

Kiko

sábado, 6 de outubro de 2012

"Inspecção Militar"


"Inspecção Militar"

Ir à inspecção militar, naqueles outros tempos em que se tinha mesmo que ir para a tropa, salvo “pormenores”, sejamos honestos, instalava-se em nós - jovens que sempre quiserem passar por homens - uma d
or de cabeça que aumentava com o contra-relógio do calendário. Quanto mais perto estávamos da data, mais doía, principalmente por sabermos que, salvo um Santo milagreiro, lá teríamos que ir ao “pente zero”, num qualquer Portugal desconhecido e, acima de tudo, perder todas as mordomias instituídas pelos tempos familiares dos outros tempos, ou seja, a Santa mãe. 

Lá fui, ditou o ano de 1988, ali para os lados da constituição. E, como muitos dos outros, lá tive que meter a vergonha e a humildade do saco e: “ala, que se faz tarde!”, claro.

Das filas e mais filas. Do calor e mais calor. Do não conhecer ninguém e tentar arranjar “amigos instantâneos”, daqueles que, naqueles dois dias, serviriam de muleta, fosse para “botar conversa fora” ou para nos “convencer(mos)” de que havia a hipótese de não se ir (para a tropa)… Foi um “fartote”.

Lá, na “longa espera”, mesmo naquela altura do “tacho de sopa gigante” do qual só se via a sopa no fundo, entre todos, inventavam-se frases ouvidas, daquelas que davam como quase certo de que, naquela inspecção específica, muitos seriam os que seriam dados como inaptos (bom para os próprios, menos interessante enquanto notícia, para familiares e vizinhos, já que: ir para a tropa, na altura, significava ser-se homem). Mas não. Tudo não passavam de auto-invenções, das que, na verdade, ajudavam a passar o tempo. E mal sabíamos que a obrigatoriedade da tropa estava com os anos contados!

Sim, eu e quase todos, além dos que tiverem coragem para o fazer, ainda equacionei inventar uma qualquer doença estranha para me tentar livrar daquela sorte maldita, mas não, não o fiz. Preferi acreditar (sem acreditar) na tese de que, naquele ano, haviam tropas a mais e que pelo menos 50% dos “candidatos à força” ficariam livres. 

Pois. Integrei os 50% que ficaram “presos”, mesmo acreditando até ao último dia de tropa que, naquele ano, sair-se-ia mais cedo da farda, o que, claro, não aconteceu, nem meio dia.

Kiko
terça-feira, 2 de outubro de 2012

“Pêlo sim, pêlo não!”


“Pêlo sim, pêlo não!”

Esta mania que nasce(ia) acoplada por volta do ano 10º da nossa existência (no meu caso, 1980), registo, deveria ter trazido com ela um manual de instruções onde, em letras garrafais, se pudesse ler: VAIS ARREPENDER-TE, E MUITO, EM USAR A GILETTE ANTES DO TEMPO.

Pois. Não dito, não pensado, mas feito. 

Estou em crer de que não serei o único a queixar-me da trabalheira que é (des)fazer a barba, dia sim, dia sim. E muito por culpa de ter
 andado a (des)fazê-la quando ela – a barba. - ainda não existia. Sim, lá naquela altura em que dava comigo, semana sim, semana sim, a implorar ao santo creme de barbear para que, com os seus poderes milagrosos, fizesse com que os pêlos aparecessem rijos e escuros, na cara, no peito e por outros locais… (permitam que não especifique! – risos) 

E tudo isso, claro, para poder mostrar e demonstrar - nos tais 10 anos de adolescente inconsciente – de que já era homem, neste caso, daqueles de “barba feita”, mesmo só tendo pêlos “omnipresentes”, para não lhes chamar penugem.

A idiotice de rapar o que não se tinha para se poder passar a tê-lo o mais depressa possível só é (foi) superada pela outra idiotice: a de fumar sem se saber fumar para poder (urgentemente) mostrar que os homens não se medem pelo cartão de cidadão (perdão, bilhete de identidade, na altura!) mas sim pelas idiotices com que vamos aprendendo o “crescer e aparecer”.

Hoje, 32 anos depois, e porque não sou dado a modernices, insisto no resistir a que um qualquer raio laser inverta o sentido da coisa, numa era em que os pêlos passaram a ser inimigos de estimação, tenha-se 10, 30 ou 50 anos de idade. É que, consta-se, bonito, bonito, é estar-se em pêlo, mas sem pêlo, caso contrário, ainda nos apelidam de Tony Ramos, quando o que mais se vê é “Gabrielas”.

Kiko

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